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Após 60 anos, Tietê sai do coma

OESP, Especial/Focas, p. H5
05 de Dez de 2009

Após 60 anos, Tietê sai do coma
Projeto de despoluição está na etapa final; mancha recuou 160 km

Ivan Pasqualini Fávero e Simone Avellar

O Tietê está saindo da UTI. Ainda que lentamente, o processo de despoluição, iniciado em 1992, dá resultados. Hoje, cerca de 1,4 bilhão de litros de esgoto deixam de ir para o rio todos os dias e a previsão é de que, até 2018, ele possa ser reinserido à vida do paulistano. Para quem já esteve à beira da morte, esse é um bom começo, acredita Maria Luiza Ribeiro, coordenadora do programa Rede das Águas da SOS Mata Atlântica.

O Projeto Tietê está em sua terceira e última etapa. Nesses 17 anos em que vem sendo implementado pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), a coleta de esgoto na região metropolitana aumentou de 70% para 84%, enquanto o tratamento subiu de 24% para 70%. A mancha de poluição, que ia até o Anhembi, recuou 160 quilômetros e a perspectiva é de que regrida mais 40 até o fim do projeto. "Em 2018, o Tietê apresentará aspecto saudável, sem odor, e sua água já poderá ser utilizada para irrigação, lavar carros e em sanitários", diz Maria Luiza. No entanto, segundo ela, o rio nunca mais será como no passado.

Até a década de 40, o rio era opção de lazer para quase 1,5 milhão de pessoas. De lá para cá, a população cresceu para 11 milhões. A falta de saneamento adequado sobrecarregou o Tietê. "Para crescer, a cidade virou as costas para o rio", diz o professor de Saúdes Públicas Aristides Almeida Rocha, autor do livro Do Lendário Anhembi ao Poluído Tietê. Desde então, o rio tornou-se símbolo da poluição e da degradação da capital.

A Sabesp planeja universalizar o saneamento nos próximos nove anos. A maior preocupação é com o esgoto doméstico, que corresponde à maior parte da contaminação do rio hoje. Em 1992, as indústrias eram grandes poluidoras. Naquela época, 1.250 empresas jogavam seus resíduos químicos no rio ou em seus afluentes. Segundo a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), houve redução diária de 316,461 mil quilos da carga despejada pelas indústrias. "Não vou dizer que não existe mais poluição industrial, mas o nível é baixo. As ações sobre as indústrias são mais fáceis. É possível multar ou caçar licenças. No caso doméstico, não há o que fazer. Não se pode impedir ninguém de lançar esgoto", diz o engenheiro Richard Hiroshi, especializado em controle de poluição ambiental da companhia.

Carlos Eduardo Carrela, superintendente de Gestão de Projetos Especiais da Sabesp, concorda. Para ele, no entanto, as principais dificuldades para expandir o saneamento são as ligações clandestinas e as 1.600 ocupações irregulares, que ocorrem, cada vez mais, em áreas de mananciais. "Para resolver o impasse das ocupações é preciso dinheiro. É necessário remover famílias e, só então, começar a obra. Há também a questão das ligações clandestinas. O fato de implantar rede coletora numa rua não quer dizer que todas as casas estejam ligadas."

A relação da Sabesp com algumas prefeituras é outro empecilho. Mogi das Cruzes, Guarulhos e São Caetano, por exemplo, não fazem parte da área de atuação da companhia. São Caetano, no ABC, é modelo: trata 100% de seu esgoto. Já Guarulhos não trata nada. Mesmo nas regiões de atuação da Sabesp, há queixas. É o caso de Osasco, que tem só 8% do esgoto tratado. "A Sabesp não investe aqui. Criamos um movimento para pressionar", diz o prefeito Emídio de Souza. Para ele, funcionou. Foi antecipado para 2012 o prazo para que o tratamento de esgoto em Osasco atinja 70%.

Ruy Ohtake
Para Ruy Ohtake, o maior equívoco urbanístico de São Paulo foi ter isolado o Tietê do restante da cidade.
Para amenizar o problema, o arquiteto propõe um projeto que recupere a história e a atenção dos paulistanos ao rio: a construção de um Memorial do Tietê, no ponto de encontro entre os Rios Tamanduateí e Tietê.
O cruzamento foi escolhido por sua importância histórica. Segundo Ohtake, a formação de São Paulo começou a partir dali.

João Valente

O"Projeto Azul",elaborado por João Valente Filho,sugere uma solução para o caótico trânsito na Marginal do Tietê. Propõe a construção de uma rodovia expressa capaz de cruzar toda a cidade, 30 metros a cima do solo.
A implantação do projeto possibilitaria a retirada de 350 mil veículos diariamente da Marginal. O projeto ainda prevê um monotrilho, com capacidade para transportar 250 mil pessoas por dia. O sistema seria conectado na mesma estrutura da rodovia, a 25 metros do solo."Beleza plástica, arrojo e solução arquitetônica de interação com o conjunto urbanístico são as principais características do projeto", diz o arquiteto.

OESP, 05/12/2009, Especial/Focas, p. H5

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