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Apóio o limite da propriedade rural privada

OESP, Nacional, p. A7
Autor: CASSEL, Guilherme
19 de Abr de 2008

'Apóio o limite da propriedade rural privada'
Para ministro, discussão levantada por entidades civis deve ser levada adiante, 'sem fanatismo de nenhuma natureza'

Rui Nogueira

O ministro do Desenvolvimento Agrário, o engenheiro civil Guilherme Cassel, defendeu ontem, ao final da 30ª Conferência Regional da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) para a América Latina e Caribe, que o Brasil comece a discutir a idéia de limitar o tamanho das propriedades rurais privadas. Para Cassel, o agronegócio da "monocultura de grãos" já deu uma contribuição importante à balança comercial, e, por isso, o País deve discutir agora o uso racional da terra como um princípio do desenvolvimento.

Depois do encerramento da conferência, no Itamaraty, o ministro falou com o Estado e deu a seguinte entrevista:

Por que é que o senhor está apoiando a reivindicação dos movimentos sociais de limitar o tamanho da propriedade rural privada?

Temos de lidar com os fatos. Recebi, na Conferência da FAO, o documento de entidades civis pedindo para discutir o limite de propriedade rural privada. Em uma sociedade moderna não pode haver temas proibidos. Se esse tema vai ganhar apoio social, isso eu não sei. Depende dos argumentos. É um tema delicado, sensível, vai gerar reações fortes, mas é um tema para ser discutido de forma clara.

Mas o sr. apóia a imposição de um limite de área das propriedades rurais privadas?

Sim, apóio. Temos é de preservar o ambiente da discussão, sem fanatismo de nenhuma natureza, sem ideologizar.

Em que ambiente social o sr. enquadra esse princípio, que raciocínio pode fundamentar a idéia?

O Brasil retomou o controle da inflação, o agronegócio deu uma inquestionável contribuição para a recuperação da balança comercial: com as exportações crescentes, estamos com o mercado interno em franca expansão. Portanto, a partir de agora, está em discussão o desenvolvimento brasileiro e a capacidade de o País planejar o seu crescimento. Por mais terra que tenhamos, o território é limitado. E por isso se impõe a pergunta: que Brasil queremos no campo, que convivência entre cidade e campo queremos construir? Queremos manter o padrão dos anos 60,70 e 80, da expulsão, de levas rurais para a periferia das cidades, ou queremos outro padrão? O campo bem administrado pode ajudar a desafogar as cidades? O Brasil tem uma concentração fundiária maior do que a concentração de renda.

Mas que é produtiva, não é mais de latifúndios improdutivos.

Mas é preciso entender que a agricultura de grãos em propriedades rurais com milhares e milhares de hectares não é tudo na produção de alimentos. Essas grandes propriedades são boas na monocultura de um grão, por exemplo, que gera exportação. Mas 75% da diversidade alimentar, tudo que se consome no dia-a-dia rico de uma alimentação completa, feijão, batata, legumes, frutas etc, vem da agricultura familiar. Então é preciso cuidar do planejamento do uso da terra.

O sr. teme alguma crise alimentar mundial? De um modo geral, isso tem a ver com acesso por causa da renda e preço, mas não com a capacidade de produção.

Pois é, mas a produção de alimentos está se transformando em um problema mundial. Nós, brasileiros, conquistamos soberania alimentar. Mas a produção de alimentos mundo afora já começa a ser alvo de forte especulação. Já existem grandes grupos acionistas que estão aplicando em alimentos. Há empresas especializadas comprando antecipadamente duas ou três safras. Portanto, a defesa que faço, para iniciar o debate sobre limitação do tamanho das propriedades rurais, é que o assunto deve ser tratado como uma forma racional de discutir o uso da terra.

Quem é: Guilherme Cassel
Gaúcho, tem 51 anos e é engenheiro civil.
É ministro desde 2006.

OESP, 19/04/2008, Nacional, p. A7

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