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Apoio ao casal Capiberibe

JB, Outras Opiniões, p. A11
Autor: VIANA, Jorge
15 de Abr de 2004

Apoio ao casal Capiberibe

Jorge Viana
Governador do Acre

Vejo com muita preocupação a ameaça de cassação do senador João Alberto Capiberibe e de sua esposa, a deputada federal Janete Capiberibe, ambos eleitos pelo PSB do Amapá. Uma ação movida pelo ex-senador Gilvan Borges, do PMDB, que começou a ser julgada dia 1o de abril no Tribunal Superior Eleitoral somando três votos a favor da cassação, deverá ser concluída hoje com a votação de outros quatro ministros do TSE. Falta apenas um voto, portanto, para afastar do Congresso esses dois democratas e ex-exilados que honram nossa região.
João Alberto e Janete tentaram realizar no Amapá, a partir de 1995, o sonho de Chico Mendes para desenvolver a Amazônia sem destruí-la, mas enfrentaram muitas dificuldades com a reação das oligarquias políticas locais. Quem conhece as disputas regionais sabe que o processo contra o casal é quase uma vingança dessas oligarquias através da ação do ex-senador Gilvan Borges, que quer ocupar a vaga de Capiberibe. O ex-senador ficou conhecido por integrar a ''bancada da bola'' e apresentar projetos bisonhos ridicularizados pela mídia nacional.
O casal Capiberibe estabeleceu um elo de experiências novas e identidades profundas entre o homem e a natureza na região. Sei da história deles muito antes de nos conhecermos. Na época do golpe militar (1964), eles eram dois jovens inconformados com o cerceamento das liberdades imposto pelos militares e tomaram a decisão corajosa de lutar por uma sociedade livre, pondo suas vidas em risco. Começaram no movimento estudantil na pequena Macapá dos anos 70, depois ingressaram na Aliança Libertadora Nacional, sendo presos pela polícia política do regime em 1970.
A partir daí o casal passou por provas de resistência democrática inconcebíveis nos dias de hoje. Capiberibe ficou encarcerado um ano no presídio São José, de Belém, enquanto Janete, grávida da primeira de três filhos, sobreviveu num barraco miserável próximo ao presídio com a ajuda de amigos. Em 1971, a pequena família empreendeu fuga da Santa Casa, onde Capiberibe submetia-se a tratamento de saúde sob vigilância, viajando de madrugada numa pequena canoa. O casal atravessou outras ditaduras (Bolívia e Peru) para chegar ao Chile de Salvador Allende. Com a derrocada deste, em 1973, refugiaram-se no Canadá, de onde partiram para a África com apoio da Anistia Internacional.
Viveram quase 10 anos no exílio até poderem retornar em 1979. No Amapá, entretanto, ainda sofreram ameaças do então governador Anibal Barcellos, nomeado pelos militares, e precisaram vender cachorro quente nas ruas de Macapá. Depois foram trabalhar em Pernambuco, com Miguel Arraes, e ainda tiveram curta passagem pelo Acre.
Em 1985, reiniciaram a carreira política, estabelecendo um marco de profundas mudanças na história do Amapá. Ele foi prefeito da capital e governador reeleito, agora é senador. Ela começou como vereadora, cumpriu três mandados de deputada estadual e foi a deputada federal mais votada em 2002.
A acusação de compra de votos apresentada na ação de Gilvan Borges foi rejeitada pelo Ministério Público no Amapá e pelo próprio TRE, por inconsistência de provas. Também a Polícia Federal colheu depoimentos de duas pessoas que afirmam terem participado de uma farsa para cassar Capiberibe e sua esposa.
Vejo que ocorreram graves erros no processo encaminhado ao TSE, que levaram três ministros a votar pela cassação. Mas entendo que ainda é tempo de corrigi-los e fazer justiça, permitindo que os demais ministros salvem os mandatos de Capi e Janete.

JB, 15/04/2004, Outras Opiniões, p. A11

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