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Aparelho rastreia rede de água

OESP, Metrópole, p. C3
11 de Abr de 2009

Aparelho rastreia rede de água
Equipamentos detectam vazamentos sem a necessidade de fazer grandes buracos nas ruas

Eduardo Reina

Os quase 11 milhões de habitantes de São Paulo consomem, em média, 211 litros de água por dia. O que se perde pelos canos na capital, porém, equivale a mais de 1 milhão de caixas d'água por dia. Um buraco de 2 milímetros de diâmetro na rede, equivalente à cabeça de um prego, desperdiça em torno de 3.200 litros de água/dia - suficientes para o consumo de uma família de quatro pessoas durante cinco dias. Nos últimos 12 meses, os técnicos da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) pesquisaram 36 mil km de rede em toda a Região Metropolitana, identificaram e repararam aproximadamente 30 mil vazamentos - 0,84 por km checado. Mesmo assim, em todo o Estado, um quarto da água produzida acaba perdido antes de chegar às torneiras.

Para facilitar o trabalho e reduzir desperdícios, a Sabesp testa agora dois equipamentos que auxiliam no trabalho de identificação de vazamentos. Um deles é uma câmera de inspeção que capta imagens dentro dos canos com uma microcâmera - numa técnica similar ao exame de endoscopia. Há também medição eletromagnética. A utilização dessa aparelhagem faz parte de um convênio com a Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica). Os novos métodos evitam a quebra do asfalto, a paralisação do trânsito e a suspensão do abastecimento.

As cidades da Região Metropolitana são consideradas as mais problemáticas pela companhia, por causa da falta de planejamento do uso do solo. Na capital, o centro e alguns bairros da zona sul, por serem mais antigos, têm muitos problemas na rede de abastecimento. Na quarta-feira, por exemplo, a Sabesp abriu um buraco na Rua Boytac, no Itaim-Bibi, zona sul, para detectar um vazamento. Se fosse utilizado o sistema japonês, seria necessário apenas um pequeno orifício - por onde passaria a mangueira com a microcâmera, que identificaria o problema. "Agora há o barulho das britadeiras, a gente fica sem água e quebra toda a rua", reclama a moradora Adelaide Gomes. "Tem também muita sujeira." Vizinho de um ponto onde sempre há obras da companhia no Ipiranga (zona sul), José Justino Araújo, da Rua Alencar Araripe, concorda e diz que perdeu a conta de quantas vezes já viu funcionários abrindo crateras na via. "É lama para todo lado. Seria bom que existisse uma maneira de fazer o serviço sem quebrar tudo."

FIBRA ÓTICA

"Anteriormente era preciso escavar o solo, chegar à tubulação e interromper o abastecimento de água e o trânsito em várias ruas. Agora o processo é mais rápido, mais eficiente, com uma câmera e fibra ótica para iluminar a tubulação, sem interromper o fornecimento de água nem abrir buraco na rua", explica o superintendente de Desenvolvimento Operacional da Sabesp, Eric Carozzi. Atualmente, três cidades testam o equipamento japonês no Estado - Guarujá, São José dos Campos e São Paulo (no bairro do Jaguaré, na zona oeste). Nesses três locais, as redes de água foram assentadas entre 1944 e 1957 e existem características de solo diferenciadas.

"Também estamos utilizando o carro de medição, que tem equipamento acoplado e verifica de forma eletromagnética a vazão mínima noturna de determinada rede. Nesse período, quando a utilização de água é mínima pelos clientes, conseguimos detectar a perda de água", completa Josué Fraga da Silva, gerente da Divisão de Controle de Perdas da Unidade de Negócios Oeste, que engloba o Jaguaré.

Em 15 anos, desperdício pode cair pela metade
Programa prevê ainda troca de ramais e conexões

O programa de monitoramento e controle de perdas de água chegará aos consumidores neste ano. De acordo com a gerente do Departamento de Engenharia da Sabesp, Gisele Abreu, terá duração de 11 anos, em parceria com a Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica). "Estamos adaptando para a nossa realidade o que os japoneses nos ensinam. Completamos três anos de cursos para os funcionários. Também haverá troca de ramais, conexões e redes. As perdas tendem a aumentar quando não se faz nada para reverter o processo."
Apesar dos esforços, deve demorar no mínimo 15 anos para se conseguir diminuir pela metade o volume da perda de água produzida. A estimativa é do engenheiro Masahiro Shimomura, representante da Jica, que está no Brasil para treinar funcionários da companhia estadual. "É um trabalho a longo prazo. São necessárias ações para identificar os locais onde há vazamentos, operações corretivas e preventivas. O ideal é fazer as três ao mesmo tempo e manter os investimentos."
No Japão, segundo Shimomura, o índice de perdas, um dos melhores do mundo, está em torno de 7%. Para alcançar esse nível de excelência, os japoneses demoraram 50 anos. A verba investida é quase incalculável. "Muito mais que bilhões de dólares." Ele destaca ainda que esse índice pequeno de desperdício vale para os grandes centros, mas que em algumas regiões interioranas do país o volume que se perde é similar ao da Sabesp. "Em Tóquio, o nível é de 3%. A perda é maior onde companhias de abastecimento pequenas operam."
NÍVEL ORIENTAL
A Sabesp produz diariamente em São Paulo 6,9 bilhões de litros de água. Desse total, entre 2 bilhões e 2,7 bilhões de litros por, dia são desperdiçados antes de chegar às torneiras dos consumidores, quase 40%. A quantidade é suficiente para abastecer por cinco semanas uma cidade como Diadema, no ABC paulista, com população estimada de 395 mil habitantes.
Em 2008, na análise geral, a companhia estadual baixou em dois pontos porcentuais as perdas médias - para 27,8%, ante os 29,8% registrados em 2007. Com isso, houve uma redução de 0,56 m3 de perda na produção de água, volume suficiente para abastecer uma cidade de 190 mil habitantes.
Das áreas operadas pela companhia no Estado, a região de Jales, no interior paulista, é considerada a de melhor desempenho no controle de perdas, com índice muito próximo ao dos japoneses: 8%. Nessa cidade e no entorno - 35 municípios -, a empresa de abastecimento faz o monitoramento da rede de forma online, por computadores. "Pela vazão noturna conseguimos perceber que há vazamentos. Então, fazemos a busca nos ramais da rua e consertamos", explica o gerente da Divisão de Jales da Sabesp, Antonio Rodrigues de Grela Filho.
No restante das cidades da região, onde o monitoramento não é online, um técnico verifica o nível das represas sempre por volta das 2 horas. "Esse horário é particular de cada cidade. Calcula-se o ponto de menor consumo para que possamos verificar qualquer alteração no sistema", afirma Grela Filho. Além do monitoramento constante, desde 1997 esses municípios passaram por troca de ramais, canos e válvulas de pressão, o que ajuda a conservar o nível da água nos sistemas produtores. E.R.

OESP, 11/04/2009, Metrópole, p. C3

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