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Antídoto contra a degradação

O Globo, Rio, p. 8
14 de Dez de 2009

Antídoto contra a degradação
Firjan propõe plantio de cem mil hectares de florestas para favorecer economia e meio ambiente

Paulo Marqueiro

O pequeno percentual de florestas plantadas combinado com as grandes áreas de pastagens degradadas deixam o Rio mal na foto entre os estados do Sudeste. Um estudo feito pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) mostra que aqui existem 18.427 hectares de florestas plantadas, o que corresponde a apenas 0,4% de sua área total.

O levantamento, que utiliza dados da Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas (Abraf), revela que Minas Gerais tem 1,1 milhão de hectares; São Paulo, 814 mil; e Espírito Santo, 208 mil.

Em percentuais, Espírito Santo lidera o ranking verde: 4,5% do seu território são ocupados por florestas plantadas. Em seguida, vêm São Paulo (3,3%) e Minas (1,8%).

Diante desse cenário, o estudo da Firjan propõe que o Estado do Rio adote como meta, para os próximos cinco anos, o plantio de cem mil hectares de florestas, o que corresponderia a 14% de suas áreas de pastagens.

- O plantio desses 100 mil hectares de florestas poderia atrair para o estado grandes empresas que utilizam matérias-primas naturais - diz Antônio Salazar Pessoa Brandão, coordenador do grupo de agroindústria da Firjan.

O estudo, inédito no estado, foi feito em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Com base no Censo Agropecuário de 2006 do IBGE, segundo o qual o Rio de Janeiro tem 694 mil hectares de áreas com pastagens naturais e pastagens plantadas degradadas, o trabalho sustenta que parte dessas terras de baixíssima produtividade poderia ser usada para o plantio de florestas, "sem impacto expressivo sobre a produção pecuária."
Reflorestamento pode gerar renda
Técnicos que elaboraram o relatório calculam que o plantio de árvores florestais pode gerar uma receita bruta adicional de R$ 270 milhões anuais para os produtores rurais, considerando apenas a comercialização de lenha (uma das menos rentáveis).

A estimativa é referente à produção a partir do sexto ano.

Com a nova fonte de renda (o ganho líquido seria de R$ 1.200 por hectare a cada ano), produtores rurais poderiam investir na modernização de suas outras atividades.

- Os produtores rurais teriam mais uma alternativa de renda, pois poderiam usar para o plantio de florestas aquelas áreas que têm baixa utilização para a agricultura. Com isso, gerariam empregos e recursos, principalmente no interior do estado, o que diminuiria a pressão migratória para os grandes centros.

Haveria ainda uma série de serviços associados a essa atividade, como corte e processamento de madeira - afirma Salazar.

De acordo com o estudo, o plantio de árvores florestais em regiões com grandes extensões de áreas degradadas, como o Noroeste Fluminense, também favoreceria a recuperação dessas terras. A atividade poderia ainda suprir fontes de matériaprima para as indústrias de móveis e papel.

Ainda segundo o levantamento, a produção de madeira proveniente de florestas plantadas no estado corresponde a pouco mais de 1% da registrada em todo o país. Como o PIB fluminense representa 12% do nacional, estima-se que o consumo de madeira no estado supere muito a atual oferta.

O mapeamento das florestas plantadas foi realizado com base em imagens de satélite e complementado com um trabalho de campo que teve como objetivo obter informações sobre os tipos de agricultura nas diversas regiões do estado.

Foram identificadas 1.077 áreas de reflorestamento em todo o estado. O Médio Paraíba, com 8.587 hectares de florestas plantadas, e a Região Serrana, com cerca de 4 mil hectares, concentram quase 70% dos reflorestamentos. As Baixadas Litorâneas registram 1.746 hectares; o Centro-Sul Fluminense, 1.567, e a Região Metropolitana, 1.199.

"A Região Serrana é, provavelmente, a que tem mais tradição no plantio de florestas no Estado do Rio. A região do Médio Paraíba recebe influência de empresas de papel e celulose localizadas em São Paulo, e isso tem efeito muito favorável sobre a atividade, tornando a região uma das mais dinâmicas do estado nos últimos anos", informa o relatório.

Por outro lado, as menores áreas de reflorestamento são encontradas na Costa Verde (206 hectares), no Noroeste (525) e no Norte Fluminense (593). Segundo o estudo, os plantios no Noroeste resultam, em sua maioria, de contratos de fomento com a indústria Fibria (união da Aracruz Celulose com a Votorantim Celulose e Papel). Apesar de incipientes, eles teriam potencial de expansão pela grande disponibilidade de terras na região.

O inventário revela ainda que o eucalipto é, de longe, a espécie mais utilizada nos reflorestamentos, espalhandose por 98% da área de 18.427 hectares. Mas foram identificadas também plantações de pínus (156,71 hectares), cedro australiano (113,24) e seringueiras (63,64), esta última encontrada principalmente em Campos, no Norte Fluminense.

Para Hugo Barbosa Amorim, professor do Instituto de Engenharia Florestal da Universidade Rural e coordenador do estudo da Firjan, as florestas de eucaliptos não trazem danos ao meio ambiente, já que representam menos de 1% da área total plantada do estado. Além disso, diz ele, do ponto de vista ambiental, elas seriam melhores do que as pastagens: - O plantio de eucalipto está vinculado à obrigação de plantar também mata nativa, o que dá mais qualidade ao ambiente.

Amorim se refere à Lei estadual 5.067, de 9 de julho de 2007, que determina que os grandes empreendimentos (com mais de 200 hectares) são obrigados a plantar espécies nativas da Mata Atlântica em 20% das áreas utilizadas.

O estudo sustenta ainda que as florestas plantadas favorecem as reservas nativas, já que reduzem a utilização de madeira proveniente de áreas naturais.

O Globo, 14/12/2009, Rio, p. 8

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