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Americano acha isca humana normal

Veja, Vida, p. A23
15 de Dez de 2005

Americano acha isca humana normal
Conselho Nacional suspende estudo que submetia ribeirinhos do Amapá a picadas de mosquito da malária

Ricardo Westin

O pesquisador americano Robert Zimmerman, coordenador de um estudo sobre a malária no Amapá, admite que submeteu um grupo de ribeirinhos às picadas do mosquito transmissor da doença. A pesquisa foi suspensa ontem pelo Conselho Nacional de Saúde, que investigará o uso de "iscas humanas". Cada voluntário recebia R$ 12 para se expor. O caso já está sendo apurado pelo Ministério Público do Amapá e pela Comissão de Direitos Humanos do Senado.
"Foram expostos às picadas do mosquito em 2003, por um curto período. Percebemos que não era boa idéia", disse Zimmerman ao Estado, por telefone, da Universidade da Flórida.
A mudança não foi motivada pela preocupação com a saúde dos ribeirinhos. Parte do estudo consistia em coletar os mosquitos, analisá-los, marcá-los e libertá-los para ver até onde voavam. O pesquisador esperava que, alimentados com sangue, os insetos vivessem mais. "O problema é que eram muito manipulados e acabavam não picando os coletores", explicou.
O estudo termina em março do ano que vem. Agora os ribeirinhos apenas coletam os mosquitos. Continuam se expondo, mas não se deixam picar. Fizeram curso para aprender a capturar o inseto antes da picada.
Zimmerman não vê nenhum problema em usar "iscas humanas". "Não entendo por que estão suspeitando. É um enigma. Trabalho com malária desde 1986." Para ele, são infundadas as queixas dos "poucos coletores" do povoado de São Raimundo do Pirativa que ficaram doentes. Eles reclamam que os R$ 12 não dão nem para a doença. "O dinheiro não é para comprar remédio nem melhorar de vida. É apenas porque estão ajudando na pesquisa. Além disso, quem tem de dar remédio é o governo."
A pesquisa está sendo feita com apoio da Universidade de São Paulo (USP). " Nós nos sentimos logrados. Isso tem de ser esclarecido", disse o professor de Epidemiologia da USP José Maria Barata. "O protocolo da pesquisa que recebemos não tinha nada sobre submeter as pessoas às picadas dos mosquitos. Isso não teria sido aprovado aqui."
O pesquisador também é investigado por atuar em área de quilombo sem autorização oficial e por pagar para que as pessoas se submetessem aos procedimentos. COLABOROU: GILSE GUEDES

OESP, 15/12/2005, Vida, p. A23

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