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Ameaça global

O Globo, Opinião, p. 6
28 de Nov de 2004

Ameaça global

Atal ponto se acumulam as evidências que já não é possível manter ceticismo a respeito do aquecimento global. O processo é incontestável - e, mostram dados recentes, bem mais rápido do que se pensava.
No distante Tibete, um novo rio se formou em conseqüência do desmoronamento de uma geleira milenar, de 70 quilômetros quadrados; no Ártico, está em alarmante retração a banquisa de gelo sobre o oceano enquanto se derrete o permafrost, camada do solo que ganhou este nome porque se imaginava permanentemente congelada - fenômeno que se registra também na Groenlândia. No Alasca, um fenômeno inédito: casas desmoronam porque foram construídas sobre essa fundação cuja solidez eterna mostra-se agora ilusória.
Também em nosso continente há efeitos dramáticos, como o encolhimento da camada de neve nos Andes, que ameaça provocar crise de abastecimento de água em muitos povoados, ou ainda o desmoronamento parcial de geleiras na Patagônia. Efeitos ainda mais graves podem ser esperados no futuro próximo: cientistas ingleses constataram que o teor de dióxido de carbono - principal gás do efeito estufa - na atmosfera está crescendo bem mais depressa do que se previa.
E as medidas de defesa que estão sendo tomadas contra essa ameaça são pouco mais do que inócuas. No início deste mês, o presidente Putin, da Rússia, sancionou a adesão do país ao Protocolo de Kioto, que entrará em vigor no ano que vem. Os países signatários se comprometem a reduzir a emissão de dióxido e outros gases, entre 2008 e 2012, para níveis 5% abaixo do registrado em 1990. Não só é muito pouco como, para agravar, os Estados Unidos, responsáveis por um quarto do volume de CO2 lançado na atmosfera em todo o mundo, recusam-se a aderir ao acordo.
Kioto, argumentam seus defensores, é melhor do que nada. É verdade. Mas, em face das dimensões que o processo de aquecimento global vem tomando, só pode trazer alguma esperança se, demonstrando que finalmente os governos se conscientizaram da gravidade real da situação, servir de base para a montagem de uma estratégia mundial, até hoje inexistente, de combate ao problema.

O Globo, 28/11/2004, Opinião, p. 6

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