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Ameaça contra o sauim-de-coleira, símbolo de Manaus, gera ações de preservação

acritica.com
Autor: Cecília Siqueira
25 de Out de 2018

Ameaça contra o sauim-de-coleira, símbolo de Manaus, gera ações de preservação
25/10/2018 às 07:28

Cecília Siqueira

Iniciativas da sociedade civil e órgãos públicos buscam estimular a consciência ambiental e debater ideias como a criação de um corredor urbano

Muito mais que mascote da capital amazonense, o primata sauim-de-coleira é também símbolo de resistência da selva dentro do meio urbano. Com o avanço da metrópole sobre a floresta, iniciativas da sociedade civil e órgãos públicos buscam se encaixar da melhor forma possível com a mesma determinação: estimular a consciência ambiental, assim como a preservação dessa espécie singular que existe apenas em Manaus e na Região Metropolitana.

Peça importante da rede que luta pela proteção da espécie, o biólogo Maurício Noronha é autor do livro "Sauim-de-Coleira: A História de uma Espécie Ameaçada de Extinção" e encabeça a campanha homônima, que iniciou em 2015 e tem como mote principal a reivindicação de unidades de conservação (UC) e o estímulo do engajamento social. "Hoje temos programas de conservação, mas quando a gente faz uma campanha, ela é pontual porque a gente não tem 'pernas' suficientes para fazer ações o tempo todo. O processo de educação ambiental e construção de valores para com o público infanto-juvenil tem que ser contínuo", afirmou.

"Então, a gente conta com iniciativas que coloquem o sauim na pauta do dia. Contamos principalmente com o envolvimento da sociedade para que colaborem na solução desse grande problema que é a conservação do sauim de coleira", enfatizou Noronha.

Um dos frutos do trabalho da campanha aconteceu no último dia 18, na Escola Municipal Armando de Souza Mendes, bairro São José 3, Zona Leste da capita, onde os alunos apresentaram uma feira de ciências com o propósito de alertar a comunidade para a preservação do macaquinho.

Engajamento

Também engajada com o mesmo intuito, a Comunidade do Julião, situada dentro da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Tupé, promoveu o Festival do Sauim-de-Coleira. Com atividades esportivas, trilhas, mini cursos sobre turismo sustentável e oficinas para as crianças e adultos, o evento foi motivada pela presidente da associação de moradores da comunidade, Raimunda Nonata Silva. "Foi bem agitado, mas deu tudo certo. Antes não tínhamos ideia de como fazer para preservar o sauim, agora já sabemos como agir", disse ela.

O agricultor Emerson Martins da Silva mora com a esposa, a dona de casa Vanderleia Souza, juntamente com os três filhos adolescentes há oito anos na comunidade do Julião. Ele conta que através da atividade, tomou conhecimento de informações valiosas tanto sobre o espécime como para o desenvolvimento econômico do local.

"Foi muito bom porque a gente recebeu as orientações, além de ser capacitado para lidar com pessoas que vêm de fora para ver os bichinhos. É um projeto muito bom de incentivo, principalmente para os moradores daqui preservarem e até desenvolver esse turismo sustentável. Eu nasci e me criei no interior, mas tem muitas coisas que a gente desconhece mesmo morando aqui. É importante que façam esse trabalho toda a região", destacou.

'É preciso conciliar o uso da terra', diz analista

Conforme o analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Diogo Lagoteria, dentro do Plano de Ação Nacional para a Conservação do sauim-de-coleira existem vários objetivos. "A parte de educação ambiental, pesquisa e também a criação de áreas protegidas, que é um dos principais objetivos do plano. Tem a proposta de criar o corredor urbano através dessa APA na Zona Central, assim como outros corredores no Distrito Industrial e na Zona Oeste da cidade, ali no bairro Tarumã, Ponta Negra. A gente sabe que as pessoas não gostam muito de áreas protegidas e dizem que não resolve nada, porém temos que conciliar o uso da terra", destacou ele.

Ainda na opinião do analista, a criação de uma unidade de conservação é significante, entretanto seria mais enfático a formação de uma grande APA, que teria em torno de 200 mil hectares e também tentar criar uma reserva para o sauim-de-coleira.

Ele ainda defende a criação de Áreas de Preservação Ambiental (APA). "É muito importante a criação da APA até mesmo por uma questão pedagógica para as pessoas entenderem o que essa espécie significa. A APA vai ajudar inclusive no ordenamento do território de Manaus, porém para avançarmos realmente nas ações que garantam a sobrevivência da espécie a longo prazo, temos que pensar em áreas de proteção na zona rural. Existe uma proposta de criação de uma APA estadual, que englobaria todo o distrito agropecuário de Manaus, Rio Preto da Eva e Itacoatiara e está sendo analisada pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema)", comentou.

Importância na natureza

De pequeno porte e coloração bicolor, o carismático sagui tem importante papel também na manutenção da biodiversidade amazônica. Por se alimentar exclusivamente de insetos, néctar e frutos, o calitriquídeo ajuda a semear o que um dia podem se tornar frondosas árvores. Pesquisadores observaram que o sauim vive em grupos de até dez indivíduos e as fêmeas da espécie geram apenas dois filhotes ao ano.

A fragmentação dos espaços onde o sauim vive tem sido um dos fatores que diminuem mais ainda a sua população - que atualmente está estimada de 30 a 40 mil em todo o Amazonas, pois, para ele se locomover entre as áreas onde habitam dentro da cidade, ou, mesmo amedrontados por causa dos desmatamentos e invasões, o macaco vai para as ruas e acaba atropelado.

Como medida de preservação, em 6 de junho deste ano, foi criada através do Termo de Ajustamento de Conduta Ambiental (TACA) entre Ministério Público Federal (MPF) e Prefeitura de Manaus, a Área de Proteção Ambiental (APA) que justamente interliga essas locais onde o animal habita.

De acordo com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas), a APA Sauim-de-Manaus possui cerca de 1.015 hectares, entre áreas verdes, de preservação e particulares no perímetro do Corredor Ecológico e Urbano do igarapé do Mindu e a Reserva Adolpho Ducke, que passam pelos bairros Parque Dez de Novembro, Novo Aleixo, Cidade Nova, Nova Cidade e Cidade de Deus.

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