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Ambientalistas são mortos em emboscada no Pará

O Globo, O Pais, p.9
25 de Mai de 2011

Ambientalistas são mortos em emboscada no Pará
Casal denunciou extração irregular de madeira; Dilma determina que Polícia Federal investigue o assassinato

Marcelo Remígio e Luiza Damé

RIO e BRASÍLIA. Os ambientalistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, líderes do Projeto Agroextrativista Praialta-Piranheira, foram mortos a tiros na manhã de ontem em uma emboscada na localidade de Maçaranduba, a 50 quilômetros do município de Nova Ipixuna, no sudoeste do Pará. O ataque aconteceu pouco depois das 7h, quando o casal passava por uma ponte sobre um igarapé, a oito quilômetros de distância de sua casa.
José Cláudio parou o carro, uma picape, para ver as condições da ponte, uma pinguela, e foi surpreendido por pistoleiros. Foram disparados vários tiros contra ele. Sua mulher foi morta em seguida. Antes de fugirem, os pistoleiros arrancaram uma das orelhas de José Cláudio.
Os corpos dos ambientalistas, que denunciavam a extração irregular de madeira, foram encaminhados na tarde de ontem para o Instituto Médico Legal (IML) de Marabá. Ao saber do crime, a presidente Dilma Rousseff determinou que a Polícia Federal investigue a autoria dos assassinatos. Dilma foi informada das mortes pelo ministro da Secretaria-Geral, Gilberto Carvalho, e o crime foi discutido durante a reunião com ex-ministros do Meio Ambiente sobre a votação do Código Florestal. A recomendação para que a PF entre no caso foi passada, por telefone, ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.
Casal denunciava há três anos crimes ambientais
José Cláudio e Maria integravam o Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), ONG fundada pelo ambientalista Chico Mendes, também assassinado. De acordo com o coordenador regional do CNS em Belém, Atanagildo Matos, o casal recebia ameaças desde 2008, quando começou a denunciar de forma mais ostensiva a extração irregular de madeira para a produção de carvão e a transformação de áreas de floresta em pasto. Ainda segundo Atanagildo, era comum à noite disparos contra a casa dos ambientalistas e contra animais domésticos criados por eles. Órgãos de segurança pública do Pará e a Justiça chegaram a ser comunicados sobre as intimidações.
- O Brasil não tem uma política ambiental eficiente. Eles lutavam pela preservação da floresta e contra as madeireiras e foram mortos em uma época que se discutia o novo Código Florestal. Perdemos dois guerreiros. Os assassinos ficaram de tocaia e esperaram o carro deles parar numa pinguela para atirar. O lugar é ermo, não havia ninguém para testemunhar. Foi um crime quase perfeito, porque crimes perfeitos não existem. Levaram uma orelha de José Cláudio, provavelmente para o mandante das mortes - disse.
A CNS encaminhou ao governo federal e à Justiça pedido de rigor nas investigações e de garantias de segurança para a região.
O casal morava em Nova Ipixuna há 24 anos, onde desenvolvia um trabalho de exploração sustentável da floresta com 500 famílias - retirada de óleos vegetais, açaí e cupuaçu. Segundo a sobrinha de José Cláudio, Clara Santos, o casal era proprietário de uma área de 20 hectares, sendo 80% preservados. Eles comercializavam óleos de andiroba e castanha.
- Sabíamos que eles corriam risco, mas a gente sempre acreditava e tinha a esperança que nada aconteceria, que eles nunca seriam alvo de embosca. A morte de meu tio deixou a região em comoção. Eles lutavam pela preservação da floresta e eram queridos - afirmou Clara, também integrante da CNS.

O Globo, 25/05/2011, O Pais, p.9

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