VOLTAR

Ambientalistas comemoram resultado da COP 16.2 no contexto geopolítico turbulento

Valor Econômico - https://valor.globo.com/
01 de Mar de 2025

Ambientalistas comemoram resultado da COP 16.2 no contexto geopolítico turbulento
"Um destaque desse acordo é o compromisso de criar - pela primeira vez - um diálogo internacional de ministros de Meio Ambiente e das Finanças de países desenvolvidos e em desenvolvimento", diz Brian O'Donnell, diretor da Campaign for Nature

Daniela Chiaretti

01/03/2025

"Em um momento geopolítico complicado, esta é uma demonstração animadora de progresso e cooperação internacional para a natureza", disse Linda Krueger, diretora de política de biodiversidade e infraestrutura da The Nature Conservancy, a TNC. "Os países não deixariam este acordo falhar", sintetizou.

"Chegou-se a um acordo sobre todas as questões pendentes", resumiu Jessika Roswall, comissária europeia para o meio ambiente, resiliência em água e economia circular competitiva, definindo o resultado da Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade, COP 16.2, que aconteceu esta semana em Roma, na sede da FAO. "Essa é a prova de que o multilateralismo funciona, apesar de um contexto geopolítico internacional difícil e de vários desafios globais".

A comissária listou os avanços do encontro: "Garantimos um roteiro global para apoiar o financiamento da biodiversidade para além de 2030". Também se chegou a um acordo sobre a estrutura de monitoramento dos avanços na conservação. E foi lançado o recém-criado Fundo Cáli. "Agora, as empresas que se beneficiam das informações de sequências digitais sobre recursos genéticos podem compartilhar parte dos lucros com os países de origem da biodiversidade, sendo que metade do fundo é destinada aos povos indígenas e às comunidades locais", citou. "Essas conquistas mostram que, apesar de um cenário geopolítico fragmentado, a comunidade global decidiu se unir para deter e reverter a perda de biodiversidade".

"A decisão tomada na madrugada de sexta-feira (28), em Roma, sobre como financiar o plano global para enfrentar a crise sem precedentes da biodiversidade é muito bem-vinda após anos de negociações", celebrou Brian O'Donnell, diretor da Campaign for Nature. "Nestes tempos turbulentos, é inspirador ver 196 países se unirem e superarem diferenças e desafios nacionais para chegar a uma solução compartilhada. Um destaque desse acordo é o compromisso de criar - pela primeira vez - um diálogo internacional de ministros de Meio Ambiente e das Finanças de países desenvolvidos e em desenvolvimento para acelerar a mobilização de financiamento para conservar, restaurar e gerenciar de forma sustentável a biodiversidade."

Rodrigo Lima, sócio-diretor da Agroicone e um dos maiores especialistas brasileiros em COPs de Biodiversidade, acredita que a decisão sobre financiamento foi muito favorável. "Muito embora o resultado crie um processo de negociação para se adotar um novo mecanismo - ou seja, não cria o mecanismo, mas define que isso será feito -, isso é um ganho e é importante de ser destacado, especialmente em um momento geopolítico e com efeito Trump muito pesado sobre o multilateralismo", avalia.

Lima diz, ainda, que acredita em uma repercussão positiva para a própria meta de clima, de se atingir US$ 1,3 trilhão ao ano até 2035, em um caminho que terá que ser traçado na COP 30, a conferência de clima das Nações Unidas que será sediada em Belém em novembro.

"Especialmente quando a decisão da COP 16.2 menciona a necessidade de recursos de bancos multilaterais, de bancos privados, de doações dos próprios países em desenvolvimento - que se acontecer, talvez seja pouco -, mas essa diversificação de fontes de financiamento fica mais clara na decisão de biodiversidade e pode alimentar o processo de clima, o que me parece muito interessante", diz Lima.

Ele também destaca o fato de a decisão mencionar a necessidade de se reduzir, em pelo menos US$ 500 bilhões anuais, os subsídios globais em atividades que são danosas ao meio ambiente. "Se a ideia do financiamento é beneficiar o que é positivo, o fato de se ter um processo para definir o que é negativo, vai permitir estas caracterizações e idealmente encarecer o custo do financiamento ao que são subsídios perversos".

Lima continua: "É uma decisão interessante em um momento geopolítico complicado e que dá um pouco de fôlego para a Convenção da Biodiversidade".

Esse aspecto, e a atuação dos negociadores brasileiros, foram destacados, também, por Michel Santos, gerente de políticas públicas do WWF-Brasil. "O Brasil desempenhou um papel essencial na busca por soluções concretas, demonstrando que países mega biodiversos não estão apenas esperando compromissos, mas ativamente construindo pontes para viabilizar a implementação do Marco Global de Biodiversidade", disse, citando o acordo de 2022, em Montreal, tão importante para a biodiversidade quanto o Acordo de Paris é para o clima. "Em um momento de crise do multilateralismo, avançar em um arranjo financeiro para a biodiversidade é uma resposta necessária e urgente".

Destaque à atuação dos negociadores brasileiros também foi dado por Karen de Oliveira, diretora de políticas públicas e relações governamentais da TNC. "É importante ainda ressaltar o protagonismo do Brasil junto aos Brics, na condição de presidência rotativa do bloco, na apresentação de uma alternativa consistente que resultou em um rápido acordo entre os países, refletido nos resultados finais da COP16, em Roma", disse ela em nota à imprensa.

Efraim Gomez, diretor de políticas globais do WWF Internacional, lembra, em nota à imprensa, contudo, que os passos dados em Roma ainda não são suficientes. "Agora começa o trabalho árduo. Ainda é preocupante que as nações desenvolvidas não estejam no caminho certo para cumprir seu compromisso de arrecadar US$ 20 bilhões até 2025 para os países em desenvolvimento", lembrou. "Investir na natureza é essencial - é um seguro de vida global. Através disso, podemos mitigar a crise climática, tornar ecossistemas e comunidades mais resilientes, estabilizar os preços dos alimentos e capturar o carbono que alimenta eventos climáticos extremos e desloca pessoas. Precisamos aproveitar a oportunidade para investir na natureza."

O aspecto negativo da COP 16.2 foi um fato paralelo às negociações. Os países têm o compromisso de apresentarem até fevereiro de 2026 suas Estratégias e Planos de Ação Nacionais para a Biodiversidade (NBSAPs, na sigla em inglês). O Reino Unido publicou seu plano nacional durante a reunião em Roma, o que eleva o número total de países que apresentaram suas estratégias para 46.

No entanto, 150 países ainda não publicaram suas estratégias e planos de ação atualizados, e o Brasil é um deles. O governo brasileiro acaba de apresentar as metas nacionais e finaliza a aprovação do plano de ações que deverá ficar pronto em março. A aprovação final da Estratégia Nacional deve sair até maio.

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2025/03/01/ambientalistas-comemor…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.