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Ambientalista ateia fogo ao corpo em protesto no MS

OESP, Vida, p. A27
13 de Nov de 2005

Ambientalista ateia fogo ao corpo em protesto no MS
Foi assim que Francisco Anselmo de Barros, pioneiro da ecologia no Estado, encerrou ato contra usinas no Pantanal

João Naves de Oliveira

O ambientalista Francisco Anselmo de Barros, o Francelmo, de 65 anos, fez um protesto radical ontem na esquina mais movimentada de Campo Grande. Durante manifestação contra a instalação de usinas de álcool na região do Pantanal, ele ateou fogo ao próprio corpo e foi levado em estado gravíssimo para a Santa Casa.
Segundo amigos e companheiros na luta ambiental, foi a forma que ele achou para dizer não à disposição do governador José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT, de incentivar a instalação dessas indústrias. "Continuem descascando esse abacaxi, porque eu não agüento mais", afirmou Francelmo numa das cartas que deixou para a família e os amigos. As cartas estavam numa pasta entregue para Jorge Gonda, vice-presidente da Fundação para Conservação da Natureza de Mato Grosso do Sul (Fuconams), ONG fundada por Francelmo há 20 anos, da qual era o presidente.
Numa segunda carta, ele se lembrou do presidente de outra entidade, a Ecologia e Ação: "Meu querido Alessandro Menezes, o barco está afundando."
"Parece que o Francelmo tinha certeza da morte", disse um dos participantes do movimento, que não quis se identificar. Além disso, segundo o diretor jurídico da Fuconams, Douglas Ramos, numa das cartas o ambientalista deixou até um nome para substituí-lo na ONG: Jorge Gonda, professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Francelmo participou por alguns minutos da manifestação, iniciada por volta de 11h30 no chamado calçadão, no cruzamento das Ruas 14 de Julho e Barão do Rio Branco, no centro. Sem que ninguém notasse, foi à Kombi que usou para chegar ao local, pegou um colchonete, despejou álcool, pôs fogo, deitou no chão e jogou o colchonete sobre o corpo.
A mulher de Francelmo, Iracema, também ecologista, escritora e dona da Editora Executivo, entrou em pânico ao saber o que o marido tinha feito, por meio de um jornalista amigo. Foi logo cercada por parentes. Eles disseram desconhecer totalmente o propósito do ambientalista.
Na semana passada os prefeitos dos nove municípios que querem as usinas estiveram com o secretário de Produção e Turismo, Dagoberto Nogueira Filho. Sob a alegação de que suas cidades estão com a área rural degradada e improdutiva, defenderam a instalação das usinas como forma de aproveitar as terras ociosas com o plantio de cana-de-açúcar. Dagoberto defende os prefeitos, afirmando que alta tecnologia desenvolvida a para contenção de poluentes é segura. Mas seus opositores não têm tanta certeza disso e alertam que se acontecer um acidente, os poluentes irão para a bacia pantaneira, podendo causar grandes desastres ecológicos.

Uma luta de 30 anos em defesa da Bacia do Alto Paraguai
ATIVISMO: O jornalista e ambientalista Franscisco Anselmo de Barros, de 65 anos, tem uma trajetória ligada à defesa do meio ambiente, especialmente do Pantanal. Nascido em Fortaleza, tem em seu currículo a participação e a coordenação de diversas entidades. Entre suas atividades está a de presidente da Fundação para Conservação da Natureza de Mato Grosso do Sul e a participação como membro fundador do Conselheiro Nacional de Meio Ambiente (Conama) e do Conselho Estadual de Controle Ambiental (Ceca). Para a família, a militância é a única justificativa para o ato radical. "É um homem muito equilibrado. Não tem nenhum vício, nem fumar fuma", disse uma cunhada dele, que se identificou apenas como Bia. Ela lembrou que há quase 30 anos consecutivos Francelmo defende a Bacia do Alto Paraguai, que forma a planície pantaneira, das usinas de álcool e de açúcar.

OESP, 13/11/2005, Vida, p. A27

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