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Amazônia, questão nacional, dizem bispos

O Estado de S.Paulo, p. A-11 (São Paulo - SP)
Autor: MAYRINK, José Maria
17 de Jul de 2001

Arcebispo de Porto Velho defende um esforço conjunto para a região

Uma comissão de bispos da Amazônia sugeriu ontem, em documento apresentado ao plenário da 39.ª Assembléia- Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Itaici, município de Indaiatuba, que o episcopado encare a região como uma questão nacional e não apenas das dioceses locais. "A Amazônia é um desafio para toda a Igreja do Brasil, assim como de toda a sociedade", advertiu o arcebispo de Porto Velho (RO), d. Moacyr Grecchi, argumentando que a solução dos problemas regionais depende de um esforço conjunto, dentro de uma visão global, tanto no aspecto religioso como no político e social. O arcebispo disse que a revisão do trabalho pastoral deve ter em vista o futuro da Amazônia, em vez de limitar-se à análise da situação atual, mesmo que seja para a denúncia de crimes cometidos contra o meio ambiente e as nações indígenas, como ocorre com freqüência. D. Moacyr lembrou a devastação das matas e o extermínio de índios. "A Amazônia sempre foi considerada como uma espécie de província, cuja vocação seria resolver problemas de outras regiões", emendou o bispo-prelado do Xingu, d. Erwin Kräutler, lembrando como exemplos disso os assentamentos de colonos vindos do Sul e a construção de hidrelétricas destinadas a abastecer o Nordeste e o Sudeste. Como bispo da região escolhida para construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, para produção de 11 mil MW, d. Erwin alertou para "o desastre ecológico" que a usina representará para o Pará: "O Xingu jamais será o mesmo após a execução do projeto". "Vendida como sinônimo de desenvolvimento nessa hora em que todos estão com medo de apagões, a hidrelétrica de Belo Monte assusta a população ribeirinha, porque ela sabe que não é levada em conta, na hora de tomada de decisão", afirmou o bispo de Xingu. "Se a presença de moradores atrapalha o projeto, os tecnocratas não hesitam em retirá-los da região como solução final", acrescentou. Ao debater a questão com os expositores e com o professor Armando Mendes, assessor da CNBB responsável pela redação do documento, vários bispos alertaram para o esvaziamento da ação missionária da Igreja Católica na região. Foi inevitável uma comparação com o trabalho dos evangélicos, especialmente a Assembléia de Deus, mais presentes e mais atuantes. Em resposta aos bispos que lamentaram a falta de padres e freiras na região, d. Moacyr disse que isso ocorreu porque durante muito tempo a Igreja brasileira não assumiu a Amazônia como devia, pois a considerava de responsabilidade de missionários estrangeiros. Defendeu também o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) das críticas dos que acusam esse organismo da CNBB de haver desvirtuado a evangelização dos índios.

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