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A Amazônia, o Cerrado e seu inimigo em comum

Época - http://epoca.globo.com
Autor: Julio Cesar da Silva e Marco Aurélio Lentini
11 de Set de 2015

80% do desmatamento que ocorrerá no mundo até 2030 ficará concentrado em 11 lugares - dois deles são a Amazônia e o Cerrado

No mês de setembro, celebra-se o Dia da Amazônia e o Dia do Cerrado - comemorados nos dias 5 e 11 deste mês, respectivamente. Dois dos mais importantes biomas brasileiros que, embora sejam importantíssimos para o equilíbrio natural do planeta, ainda são ameaçados por diversos problemas e pressões ambientais.

Talvez o maior empecilho para a promoção da sustentabilidade nessas regiões seja o desmatamento. Em abril, o WWF divulgou um estudo em que indicava que 80% do desmatamento que ocorrerá no mundo até 2030 ficará concentrado em apenas 11 lugares do planeta - dois deles são a Amazônia e o Cerrado.

Segundo este mesmo estudo, se não tomarmos providências, uma área de 170 milhões de hectares deve sumir nos próximos anos (principalmente nos trópicos). Esta área é equivalente ao território da Alemanha, França, Espanha e Portugal juntos.

Na Amazônia, as maiores causas de desmatamento são a pecuária, a agricultura de pequena e grande escala, a construção de obras de infraestrutura sem planejamento e sem integração com diretrizes socioambientais e a especulação fundiária. Embora este bioma tenha registrado, na última década, um enorme declínio em seus índices de desmatamento, ainda há muito a ser feito e consolidado para que este problema seja considerado resolvido.

Recentemente, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou o resultado consolidado das taxas de desmatamento entre agosto de 2013 e julho de 2014 - foram 5.012 quilômetros quadrados de perda de cobertura florestal. Pará, Mato Grosso e Rondônia foram os Estados onde essa perda foi maior.

O Living Forest Report, o estudo que o WWF publicou no mês de abril, estima que entre 23 e 48 milhões de hectares serão perdidos na Amazônia nos próximos 15 anos.

No Cerrado, o desmatamento é causado sobretudo pela conversão das áreas naturais em áreas de agricultura e pecuária, o ritmo dessa conversão foi bastante intenso nos últimos 50 anos. Atualmente, cerca de 48% do bioma foi convertido. O problema é que a pressão sob a savana mais rica em biodiversidade no planeta continua intensa.

Sua situação é ainda mais crítica que a da Amazônia, pois apesar da intensa atividade de conversão no bioma, o governo federal não faz um monitoramento sistemático do desmatamento no Cerrado. O último dado oficial que existe é de 2009, apresentado em 2010 no lançamento do Plano de Ação para Prevenção e Controle dos Desmatamentos e das Queimadas no Cerrado. E, infelizmente, aquelas foram as últimas atualizações.

Pesquisas desenvolvidas por universidades brasileiras apontam que o ritmo de desmatamento no Cerrado é crítico e que se mantido, promoverá a extinção do bioma em duas ou três décadas.

A estimativa de perda de florestas no Cerrado, segundo o Living Forest Report, é de 15 milhões de hectares entre 2010 e 2030.

Monitorar e proteger o Cerrado é portanto vital para a manutenção dos ecossistemas presentes nessa região. Ainda este ano, por exemplo, o Inpe divulgou que o número de queimadas ocorridas em unidades de conservação, no primeiro semestre de 2015 no Cerrado, foi 57,63% maior que o mesmo período do ano passado, o que mostra uma provável intensificação da ação do homem na região. É claro que fenômenos climáticos, como o El Niño, podem aumentar as chances de queimadas, contudo, não é a principal, já que muitas queimadas ocorrem de forma intencional e/ou criminosa e acabam fugindo ao controle e comprometendo importantes áreas naturais. Hoje menos de 10% de todo o Cerrado são unidades de conservação e, destas, menos de 3% está sob Proteção Integral.

Não há fórmulas mágicas para lidar com o desmatamento. Uma série de soluções precisam ser adotadas por toda a sociedade - e algumas delas já estão à nossa disposição.

Elas incluem basicamente melhor ordenamento e gestão territorial, a consolidação e criação de áreas protegidas (terras indígenas e Unidades de Conservação), a promoção de cadeias produtivas sustentáveis e o estímulo a obras de infraestrutura ambientalmente benignas, que prevejam medidas para minimizar impactos e proteger as florestas.

Adicionalmente, é preciso que mecanismos sejam criados para promover a intensificação do uso do solo para a agropecuária e que os serviços ambientais providos pelas florestas (regulação climática, segurança hídrica, etc.), sejam valorizados. Finalmente, é necessária de maneira urgente a implementação qualificada da lei ambiental, em especial do Código Florestal.

É preciso que, num futuro próximo, o desmatamento esteja sob controle - do ponto de vista da intensidade, escala e localização - e que ainda seja tolerável para o desenvolvimento sustentável destes biomas. Quem sabe, assim, nossos preciosos Amazônia e Cerrado possam de fato ser celebrados e comemorados.

Julio Cesar Sampaio da Silva é coordenador do programa Cerrado-Pantanal do WWF-Brasil. Marco Aurélio Watanabe Lentini é coordenador do programa Amazônia do WWF-Brasil

http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/blog-do-planeta/noticia/2015/09/…

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