O Globo, Ciência e Vida, p. 31
08 de Abr de 2004
Amazônia já perdeu 16% de suas florestas
Jailton de Carvalho
O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, anunciou ontem que entre agosto de 2002 e agosto do ano passado foram desmatados 23.750 quilômetros quadrados da floresta amazônica, conforme estimativa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O número é 2% superior ao registrado no levantamento anterior. O desmatamento já atinge 16,32% da área total da Amazônia.
Como a diferença está dentro da margem de erro dos cálculos oficiais, que é de 4%, Dirceu sustenta que o governo pôs um freio no ritmo do crescimento das áreas desmatadas, mas reconhece que a devastação permanece num patamar elevado. Os números do Inpe revelam, entretanto, um dado preocupante: apesar da estabilização geral, houve um crescimento de 57,3% na área desmatada em reservas indígenas.
Terras indígenas são palco de graves conflitos
Os mais altos índices de desmatamentos ocorreram nas terras indígenas Apyterewa, Cachoeira Seca e Baú, na chamada Terra do Meio, no Sul do Pará. Nestas e em outras reservas indígenas da região foram desmatados 682 quilômetros quadrados de floresta, 57,33% a mais dos 433 quilômetros quadrados de mata destruídos em 2002. Segundo o secretário de Biodiversidade e Florestas, João Paulo Capobianco, trata-se de uma região de muitos conflitos.
Mesmo que não tenha havido um crescimento da área desmatada (total) em relação ao período anterior, os índices de desmatamentos permanecem em patamares intoleráveis disse Dirceu na abertura de uma solenidade, no Palácio do Planalto, destinada à divulgação dos dados do Inpe.
O instituto fez o cálculos do desmatamento com base em 77 imagens obtidas por satélites. Os dados reais só vão ser divulgados no próximo ano, mas a estimativa é que o tamanho da área devastada na Amazônia Legal entre 2002 e 2003 é de 23.750 quilômetros quadrados. Ou seja, quase a mesma área desmatada entre 2001 e 2002, fase final do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
A situação é preocupante, mas o mais significativo é que demos um breque no crescimento dos índices de desmatamento afirmou a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, também presente na solenidade, no Palácio do Planalto.
Embora o período utilizado para os cálculos do Inpe corresponda apenas aos sete primeiros meses do ano passado, Marina acha que o desmatamento parou de crescer em virtude de conjunto de medidas adotadas pelo governo federal, pelos governos locais e também pela sociedade civil. Segundo ela, apesar das dificuldades do primeiro ano, o governo não ficou parado. Entre as medidas adotadas, ela destacou a intensificação da fiscalização. Há duas semanas, o governo também lançou um plano nacional de combate ao desmatamento.
Mato Grosso é o estado mais afetado
Como em anos anteriores, o desmatamento é atribuído a ação das madeireiras e à expansão da atividade agropecuária, principalmente com o aumento das pastagens e das plantações de soja. Segundo o secretário João Paulo Capobianco, o mais grave é que a maior parte da devastação das florestas ocorre em áreas públicas, invadidas por empresários.
O Inpe mostrou também que entre os estados com os mais altos índices de desmatamento estão Mato Grosso (10.416 quilômetros quadrados), Pará (7.293 quilômetros quadrados) e Roraima (3.463 quilômetros quadrados).
O Globo, 08/04/2004, Ciência e Vida, p. 31
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