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Amazônia em discussão

CB, Brasil, p. 15
25 de Jan de 2005

Amazônia em discussão
Chefes de estado e cientistas discutem na sede da Unesco, em Paris o problema dos desmatamentos e queimadas na Região Amazônica

Napoleão Sabóia
Correspondente

Paris - Os desmatamentos e queimadas na Amazônia estavam entre as principais cenas que a televisão francesa divulgou, durante o último fim de semana, para ilustrar a preocupação dos chefes de Estado e de Governo e de centenas de cientistas que participam da conferência internacional sobre Biodiversidade, Ciência e Governança, iniciada ontem em Paris.
No discurso de abertura do evento, o presidente Jacques Chirac, ao falar sobre a ameaça que pesa sobre o planeta devido à destruição progressiva das espécies vegetais e animais, anunciou a criação do parque natural da Guiana Francesa e a interdição da exploração de ouro na área.
Dessa atividade predatória, participam centenas de garimpeiros brasileiros que entraram clandestinamente naquele território francês. Os especialistas reunidos em Paris fizeram, de imediato, a constatação de que permaneceram praticamente esquecidos os objetivos fixados pelos 170 países participantes da conferência de cúpula realizada no Rio de Janeiro, em 1992, sobre a questão ambiental.
As advertências da segunda 'Cúpula da Terra", efetuada em Joanesburgo, na África do Sul, em 2002, também não foram suficientes para que uma política de preservação da biodiversidade fosse implantada. Em conseqüência, milhares de espécies vegetais e animais, sobretudo nas zonas em que elas são ainda abundantes - as florestas tropicais - correm o risco de extinção dentro de pouco tempo.
Na conferência que se desenrolará até sexta-feira, na sede da Unesco, o Brasil é representado pelo técnico Bráulio Dias, do Ministério do Meio Ambiente, pela professora Edith Fanta, da Universidade do Paraná, e pelo diplomata Ewerton Vargas, da Divisão de Assuntos Ecológicos do Itamaraty. Eles integram os grupos de trabalho sobre a bioética e a biodiversidade nas florestas tropicais.
Sobre o último tema, os organizadores do encontro esperavam, de preferência, a palavra ao vivo da ministra Marina Silva, sobretudo por causa de suas experiências como nativa da Região Amazônica. Ausente na conferência, Marina, em entrevista ao jornal Libération, publicada na edição de ontem, tentou rebater as críticas de ambientalistas europeus segundo as quais o Brasil não parece se inquietar com a biodiversidade, visto o ritmo de desmatamento da Amazônia.
Engajamento
A ministra assinalou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva engajou todo o governo - e não apenas o Ministério do Meio Ambiente - na luta contra o desflorestamento ilegal que, segundo suas estimativas, passou de 28%, entre 2001 e 2002, para 2%, entre 2002 e 2003, graças a uma política de controle e de repressão. "Aliamos a conservação a um plano de desenvolvimento sustentável para a Amazônia, pois é preciso oferecer oportunidades sociais aos 20 milhões de habitante da região", ponderou.
Sobre as razões para a erosão da biodiversidade, ela disse que os países do sul têm obrigações cumprir, mas é preciso igualmente que eles possuam "alternativas econômicas e sociais para reduzirem a pressão sobre biodiversidade."
"A biodiversidade estará ameaçada enquanto os países do sul forem encarados pelo norte como celeiros de matérias-primas e enquanto a Convenção Biodiversidade não for aplicada.
Nesse vácuo prospera a biopirataria", disse Marina.

CB, 25/01/2005, Brasil, p. 15

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