VOLTAR

Alunos de comunidade ticuna estão sem escola

A Crítica, Cidades, p. C7
25 de Fev de 2005

Alunos de comunidade ticuna estão sem escola

Aulas estão sendo ministradas nas residências dos professores e alunos ficam amontoados no chão
Alunos estudando deitados no chão, amontoados nas casas dos professores que cedem suas residências para transformá-las em salas de aula e sem material escolar. Essas são algumas das dificuldades enfrentadas pelos alunos da comunidade indígena Ticuna de Vendaval, no .município de São Paulo de Olivença, a 988 quilômetros de Manaus, denunciada pelo cacique da aldeia, Geremias Calistro Véu.
Conforme Geremias, há 12 anos a comunidade vem sofrendo com a falta de condições adequadas para os alunos estudarem. "Na realidade não existe escola na comunidade há 12 anos. 0 que estamos pedindo é que o governo do Estado possa nos ajudar, já que a prefeitura não faz nada", denuncia Véu.
Os alunos que insistem em estudar contam com a boa vontade dos professores, que se esforçam para mantê-los interessados nos livros. "Se não fosse os professores, muita gente aqui já tinha desistido de estudar. Além do mais, eles dão material escolar para os alunos, como lápis e cadernos", disse Paulo Mendes, funcionário da Fundação Nacional do índio (Funai) de Tabatinga, e mora na comunidade Vendaval. Como os alunos não têm carteira para estudar, assistem às aulas de maneira desconfortável. "A vontade de aprender é tanta que a maioria dos alunos assistem às aulas de barriga no chão", afirmou o morador da comunidade.
'Paulo Mendes, diz que todos os anos na época de eleições, vários políticos visitam a comunidade e prometem tudo, mas não fazem nada. "Somos lembrados só na época de eleições. Nos fazem várias promessas, mas nunca as cumprem. Terminam os mandatos dos prefeitos e nós continuamos esquecidos aqui".
De acordo com Paulo Mendes, a prefeitura de São Paulo de Olivença começou a construir uma escola na comunidade Vendaval em agosto do ano passado, mas as obras ainda não foram concluídas.
A representação do município em Manaus, afirmou que a escola da comunidade indígena está sendo construída, mas as chuvas estão atrapalhando o andamento das obras.
A assessoria de imprensa da Secretaria de Estado de Educação (Seduc) também confirmou a construção da escola e acrescentou que o prédio terá oito salas com capacidade para atender a 960 alunos nos três turnos do ensino fundamental.
A obra faz parte do Consórcio do Alto Solimões que atende aos municípios de Tabatinga, São Paulo de Olivença, Jutaí, Benjamin Constant, Atalaia do Norte, Santo Antonio do Iça, Amaturá, Fonte Boa e Tonantins. No dia 15 deste mês, uma .equipe de engenheiros da Seduc viajou, para aquela localidade pára fazer um levantamento geral da construção da escola.

Em Números
R$ 360 mil É o valor do investimento para a construção da escola da Comunidade Indígena de Vendaval. A escola estará pronta para o ano letivo de 2006.
442 É o número de estudantes da comunidade. Todos estudam nas residências dos professores. Além disso, eles ajudam os alunos dando material escolar, como lápis e cadernos.

Três perguntas para
Vera Edwards Secretária Estadual de Educação
1 Além da comunidade de Vendaval, tem outra aldeia indígena que será beneficiada com a construção de uma nova escola?
Tem sim outra aldeia que será beneficiada. 0 Governo do Estado está construindo uma escola no Município de Benjamin Constant (1.116 quilômetros de Manaus), na Comunidade Feijoal, onde as obras já estão bastante adiantadas, com previsão para ser inaugurada este ano, servindo aos alunos ainda no ano letivo de 2005.
2 Quantos alunos indígenas estão estudando na rede estadual de educação? Atualmente existem 4.309 alunos indígenas, espalhados nas 600 escolas indígenas em todo o Estado do Amazonas. Só que apenas 11 escolas são de responsabilidade do poder público Estadual. Para aumentar o número de alunos indígenas, o Governo do Estado pretende inaugurar mais duas escolas. Uma na comunidade de Feijoal e a outra será nessa comunidade (Tikuna do Vendaval).
3 A secretaria tem algum projeto voltado para a educação indígena escolar em 2005? Não temos projetos. 0 que existe é uma política de educação indígena que vem sendo desenvolvida pelo Estado, que inclui a questão da formação de professores. Essa política é construída em parceria com as lideranças indígenas, mas a verba vem do Governo Federal. A parte de gerência dos recursos fica na responsabilidade dos municípios, o Estado fica gerenciando essas ações, mesmo assim investe na educação indígena.

Pontos
Quem são os ticuna
A tribo Ticuna está em contato com a sociedade 1 nacional há mais de trezentos anos.
Sobrevive da pesca, da caça dos produtos da roça e do comércio nas cidades.
Sua evangelização foi realizada pela missões ABEM (Associação dos Batista de Evangelismo Mundial) e CIBI (Convenção das Igrejas Batistas Independentes).
Em 1990 a liderança ticuna criou a OMITAS (Organização Missionária Ticuna do Alto Solimões).
Mais recentemente missões coreanas vêm apoiando a evangelização e o discipulado desse povo.
Em 1991 a Junta Missionária da Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana da Coréia fundou o Seminário Teológico Timóteo do Amazonas ao lado da Aldeia Filadélfia em Benjamin Constant.
Com o apoio do pessoal da OPAN (Operação Anchieta) e vários outros colaboradores e através do centro Magüta (uma organização pró-índio localizada em Benjamin Constant) foi a elaborado um programa de educação para a tribo.
Imprimiu-se uma série de cartilhas e livros na língua ticuna e professores foram treinados e investidos.
Atualmente há um programa bilíngüe funcionando, sendo que a maioria dos professores são da etnia ticuna.
Um levantamento feito em 1998 registrou 32.613 ticunas no Amazonas, 4.200 no Peru e 4.535 na Colômbia.

A Crítica, 25/02/2005, Cidades, p. C7

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.