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Alternativa

O Globo, Opinião, p. 7
Autor: OTTONI, Adacto Benedicto
29 de Dez de 2008

Alternativa

Adacto Benedicto Ottoni

Os rios na Natureza correspondem a organismos vivos, possuindo fauna e flora hídricos que estão em equilíbrio dinâmico com os componentes abióticos (nutrientes, oxigênio etc.). Com a antropização desordenada da bacia hidrográfica os rios podem ficar poluídos ao longo do tempo, mas ainda possuírem alguma vida.

As Unidades de Tratamento de Rio (UTRs) têm por objetivo tratar as águas poluídas dos rios como se eles fossem verdadeiros "valões" de esgotos, esquecendo que esses rios ainda podem ter seres vivos, mesmo com a sua biodiversidade natural bastante afetada. Através do processo Flotflux ou similar, são adicionados às águas dos rios agentes químicos coagulantes, como o sulfato de alumínio, que vão juntar as impurezas em suspensão do rio, retirando a sua poluição. Porém isso gera, em contrapartida, uma redução brusca do pH das águas, tornando-as mais ácidas. Além disso, essa solução das UTRs não tem embasamento científico e tecnológico, pois elimina o que restou de vida ao rio, ao invés de recuperá-la.

O que os livros de engenharia sanitária recomendam é investir no saneamento da bacia hidrográfica drenante, impedindo que os esgotos, o lixo e demais poluentes cheguem aos rios, e nunca deixar esses corpos d'água ficarem poluídos e depois tratá-los como se fossem esgotos.

Com o saneamento da bacia hidrográfica, deve-se, paralelamente, realizar-se o desassoreamento da calha dos rios, e a implantação de um programa permanente de monitoramento hidrométrico e de qualidade de águas fluviais.

Com o tempo, o próprio ciclo hidrológico se encarregará de revitalizar o rio de forma efetiva (pela renovação natural de suas águas), com a recuperação sustentável da sua biodiversidade em curto prazo de tempo.

O que se precisa é atuar na origem do problema sanitário (impedindo a entrada de poluentes), como recomenda a boa técnica, e não na conseqüência do problema, como é o caso das UTRs, que permitem a poluição dos rios em sua bacia drenante, não revitalizando-os de fato (pois vão destruir a vida existente no processo de tratamento), e poderão gerar outros problemas ambientais.

Em áreas já densamente ocupadas e sem infraestrutura existente de saneamento, pode-se utilizar, de forma emergencial, a implantação de galerias interceptoras de esgotos paralelas ao rio nessa região com intensa ocupação, e encaminhar esses esgotos sanitários coletados (esgotos de tempo seco) para uma estação de tratamento de esgotos, protegendo-se a curto prazo as águas dos rios; essa solução é provisória, no entanto é muito mais barata e eficiente do que a construção das UTRs. A médio e longo prazos, implantar-se-iam as obras definitivas de redes coletoras de esgoto pelo Sistema Separador Absoluto.

É indicado, outrossim, que seja criado nas ocupações irregulares com comunidades carentes (onde a coleta regular e eficiente de lixo é difícil) um programa de coleta seletiva e reciclagem do lixo, protegendo o solo e os rios, prevenindo a formação de focos do mosquito da dengue (pelo lixo disperso), e gerando renda para essas comunidades, que, com investimentos adequados em educação ambiental, também podem vir a proteger os rios, ao invés de degradá-los.

Deve-se investir também em reflorestamento (priorizando as Faixas Marginais de Proteção - FMPs - e nascentes dos rios) e controle ambiental e de uso e ocupação do solo adequados, visando à garantia da sustentabilidade ambiental da bacia hidrográfica como um todo, havendo a conseqüente recuperação permanente da qualidade da água, regularização do regime fluvial e revitalização ecológica dos rios urbanos ao longo do tempo.

Adacto Benedicto Ottoni é assessor de Meio Ambiente do Crea-RJ e professor do Departamento de Engenharia Sanitária e do Meio Ambiente da Uerj.

O Globo, 29/12/2008, Opinião, p. 7

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