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Algodão transgênico é liberado no Brasil

O Globo, Ciência e Vida, p. 34
18 de Mar de 2005

Algodão transgênico é liberado no Brasil

Rodrigo Rangel

A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) liberou ontem a comercialização e o plantio de sementes do algodão transgênico inseticida Bollgard, da multinacional Monsanto. Essa é a primeira vez que a comissão dá sinal verde para um produto transgênico ingressar no mercado desde a polêmica liberação, em 1998, da soja Roundup Ready, também da Monsanto. É também a primeira liberação desde a aprovação da Lei de Biossegurança na Câmara. O algodão poderá ser usado tanto para a confecção de tecido quanto para a produção de óleo para consumo humano.
O pedido da Monsanto foi aprovado sob protestos. A reunião foi fechada, mas logo na entrada da CTNBio integrantes de movimentos rurais se manifestavam contra a aprovação. "CTNBio, refúgio das multinacionais", acusava uma faixa estendida por trabalhadores sem-terra. O único voto contrário à liberação foi do representante do Ministério do Meio Ambiente, Rubens Nodari.
Para entrar em vigor, a decisão só precisa ser publicada no Diário Oficial da União, o que deve ocorrer em dias. A CTNBio estabeleceu quatro exigências. A Monsanto terá que informar toda a composição genética da planta, antes e depois da modificação. O plantio também deverá obedecer a áreas de exclusão - o algodão não poderá ser cultivado em áreas onde há espécies nativas da planta. Na lista de exclusão estão áreas do Nordeste, da Amazônia e faixas onde há remanescentes de Mata Atlântica. No cerrado, zona das mais aproveitadas para a cultura do algodão, o plantio está liberado.
Os plantadores também serão obrigados a manter em volta das plantações de transgênicos cinturões com a variedade comum de algodão. A medida visa a criar uma barreira de contenção para o pólen das plantas transgênicas. Na época da colheita, os algodoeiros terão de ser retirados até a raiz. A decisão do CTNBio abre caminho para que a variedade transgênica já seja plantada para a próxima safra.
O plantio foi autorizado sem apresentação de um estudo de impacto ambiental. A decisão foi tomada com base em 23 análises apresentadas pela Monsanto. Rubens Nodari disse são pesquisas de baixa qualidade.
- Essas análises são estudos sérios - defendeu o secretário-executivo da CTNBio, Jairon do Nascimento.
A Monsanto anunciou que só vai se manifestar após a publicação no Diário Oficial. O Greenpeace divulgou comunicado em que diz que a autorização põe o cerrado em risco. O engenheiro agrônomo Ventura Barbeiro, do Greenpeace, disse que o algodão inseticida vai produzir um néctar tóxico que poderá matar insetos como abelhas e vespas, que polinizam outras plantas.

Como é a planta
Conhecida também como algodão inseticida ou algodão BT, a variedade transgênica liberada ontem pela CTNBio foi modificada para resistir a insetos que atacam as plantações.
O algodão produz uma toxina para afastar as pragas. Para fazer isso, cientistas da Monsanto tiveram de introduzir no código genético da planta um gene extraído do Bacillus thuringiensis , uma bactéria comumente encontrada no solo e usada também como inseticida natural em plantações orgânicas.
Foi feita ainda, em laboratório, uma outra modificação para introduzir mais dois genes, também provenientes de microorganismos, que são resistentes a antibióticos. A publicidade da Monsanto anuncia que a variedade foi desenvolvida "com o objetivo de proteger as lavouras do ataques de insetos, reduzindo os custos com agroquímicos e facilitando o manejo da cultura pelos cotonicultores".

O Globo, 18/03/2004, Ciência e Vida, p. 34

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