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Alerta máximo

O Globo, Ciência, p. 38
28 de Set de 2013

Alerta máximo
Novo relatório do IPCC traça cenários que pela primeira vez incluem limites para emissões

CESAR BAIMA
cesar.baima@oglobo.com.br
CLAUDIO MOTTA
claudio.motta@oglobo.com.br

É cada vez mais certo que a ação humana tem provocado o aquecimento da Terra, e as alterações no clima resultantes disso vão continuar a afetar o planeta até o fim deste século e muito além. A conclusão é de relatório do Painel Intergovernamental sobre mudanças climáticas da ONU (IPCC) divulgado ontem em Estocolmo, Suécia, que também traz cenários sobre o que vai mudar na temperatura, chuvas, cobertura de gelo, nível dos oceanos e outros indicadores em escala global até 2100 com base em quatro modelos de previsão que, pela primeira vez, traçam limites para a emissão de gases do efeito estufa pela Humanidade - um mais otimista, dois intermediários e um mais pessimista. No primeiro, ela deve ficar em 270 bilhões de toneladas de carbono entre 2012 e 2100, enquanto no último em 1,69 trilhão de toneladas. Desde 1750, início da Era Industrial, a ação humana já emitiu 545 bilhões de toneladas de carbono e a taxa atual é de mais de 10 bilhões de toneladas anuais, o que significa que, se tudo continuar como está, o limite para o cenário otimista será atingido em 2040.
De acordo com o documento, é "extremamente provável" (o que na linguagem padrão do IPCC quer dizer um nível de certeza de no mínimo 95%) que o homem tenha causado mais da metade da elevação média da temperatura global registrada entre 1951 e 2010, entre 0,6 e 0,7 grau Celsius. No relatório anterior, publicado em 2007, o IPCC considerava que a contribuição humana no aquecimento global era "muito provável", isto é, o nível de certeza era mais baixo, de 90%. E mesmo que a Humanidade reduza fortemente sua emissão de gases-estufa, este aquecimento vai continuar pelo menos até 2100. No cenário mais otimista, a temperatura média da Terra ainda vai subir de 0,3"C a 1,7"C até o fim do século em relação à média verificada de 1986 a 2005, enquanto no mais pessimista a alta ficará entre 2,6"C e 4,8"C, superando o limite considerado seguro pelos especialistas, de 2"C.
- A mudança de temperatura da superfície do planeta até o fim do século XXI deverá exceder 1,5 grau Celsius e, provavelmente, será superior a 2 graus - disse Thomas Stocker, copresidente do trabalho. - É muito provável que as ondas de calor ocorram com mais frequência e durem mais tempo. E com o aquecimento da Terra, esperamos ver regiões atualmente úmidas recebendo mais chuvas, e as áridas, menos, apesar de haver exceções.
E as consequências deste maior calor serão sentidas em todo planeta. Até 2100, o nível do mar deve aumentar perigosamente de 45 a 82 centímetros, considerando o pior cenário (ou de 26 a 55 centímetros, no melhor), alimentado pelo progressivo derretimento das calotas polares e das geleiras de altitude e nas regiões mais temperadas da Terra. O gelo que recobre o Oceano Ártico, por exemplo, "provavelmente" (66% de certeza) vai desaparecer quase que por completo durante o verão no Hemisfério Norte antes mesmo do meio deste século no cenário mais pessimista, perdendo 94% de sua área nesta época do ano até 2100.
- O relatório é muito bom, repleto de informações e todas muito bem fundamentadas - comentou a especialista brasileira Suzana Kahn, que faz parte do grupo de pesquisadores do IPCC em Estocolmo. - No fundo, o grande ganho é a comprovação do que tem sido dito há muito tempo, com muito mais informação sobre o papel dos oceanos, das nuvens e dos aerossóis. Isto é muito importante para o mundo científico, pois aponta para áreas que precisam ser mais investigadas.
Produzido por 259 cientistas de 39 países, que revisaram mais de 9 mil estudos climáticos, a maioria publicada após o último relatório do IPCC, o documento divulgado ontem é apenas o resultado dos esforços do primeiro grupo de trabalho do IPCC. Em março de 2014, será a vez do Grupo de Trabalho II, que analisa os impactos, a adaptação e a vulnerabilidade do planeta às mudanças climáticas, apresentar suas conclusões em Yokohama, no Japão. Já o Grupo de Trabalho III, especializado na mitigação dos impactos das mudanças climáticas, está previsto para se reunir em abril de 2014 em Berlim, Alemanha. Por fim, será fechado um relatório síntese em outubro de 2014 em Copenhague, Dinamarca

OS PONTOS

Concentrações de CO2 e de outros gases-estufa aumentaram em níveis sem precedentes nos últimos 800 mil anos. A queima de combustível fóssil é a principal razão da elevação de 40% de CO2.

Temperatura
O aumento até 2100 pode chegar a 4,8 graus Celsius, bem acima do limite de 2 graus Celsius preconizado pelos cientistas.

Aumento do nível do mar
Até o fim do século, a elevação ficará entre 26 cm e 82 cm, uma ameaça às cidades costeiras.

Consenso
A redução do ritmo de aumento da temperatura nos últimos 15 anos não é significativo.

O Globo, 28/09/2013, Ciência, p. 38

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