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Autor: Marcela Belchior
05 de Ago de 2014
O mais recente contato de índios isolados na região da Amazônia brasileira, no norte do país, em junho deste ano, gerou um alerta entre organizações de direitos humanos e indigenistas para a necessidade de planos de contingência e de atenção à saúde desses povos. Isso porque sete deles foram contaminados, acometidos de Infecção Respiratória Aguda (IRA), logo após primeiro encontro, chegando a apresentar sintomas como febre e tosse.
O primeiro contato direto entre os indígenas da etnia ashaninka e servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai) foi estabelecido no último dia 29 de junho, na Aldeia Simpatia da Terra Indígena Kampa e Isolados do Alto Rio Envira, no Estado do Acre, região de fronteira do Brasil com o Peru. Os povos originários estão migrando por causa do avanço de narcotraficantes e de madeireiros peruanos.
De acordo com o médico sanitarista Douglas Rodrigues, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que coordenou o atendimento médico da Funai e do Ministério da Saúde aos ameríndios, conhecidos como isolados do Xiname (mas cuja provável autodenominação seja Chitonawa), falta estrutura no local, especialmente de comunicação, insumos e equipamentos adequados. Além disso, ele alerta para o riscos de epidemias por doenças mais graves, como sarampo.
"Tanto a Funai como a Sesai [Secretaria Especial de Saúde Indígena, do Ministério da Saúde] devem estar preparadas para novos contatos, eventualmente com grupos maiores, que, possivelmente, ocorrerão a partir desse contato atual, e poderão, inclusive, acontecer em curto espaço de tempo", escreveu Rodrigues, em relatório.
Em entrevista ao Instituto Socioambiental (ISA), organização brasileira de defesa de bens e direitos relativos ao meio ambiente, patrimônio cultural, direitos humanos e dos povos, o médico diz acreditar que o episódio de contaminação por conta do contato, intensamente noticiado pela imprensa, pode representar uma mudança importante na forma como são realizadas as ações de proteção aos povos em isolamento voluntário e de recente contato.
Segundo o ISA, em 2013, o médico prestou consultoria para a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), na qual sistematizou referências e ameaças a povos isolados, apresentando propostas. Encaminhado à Funai e ao Ministério, o relatório informa que, na Sesai, não havia, até aquele momento, orientação ou norma técnica referente à assistência à saúde aos grupos de recente contato e que eles estavam sob a responsabilidade dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI), cujos territórios sanitários incluem diversas aldeias.
Índios já teriam sofrido violência
Mais do que isso, a Survival International, movimento global pelos direitos dos povos indígenas e tribais, publicou informações de que a etnia isolada já teria sido vítima de violência, levando especialistas a exigirem que seja protegida a terra desses povos com urgência. Do contrário, haverá risco de seu extermínio e genocídio.
Segundo a organização, relatos dos indígenas que estabeleceram contato sugerem que muitos de seus parentes mais velhos teriam sido massacrados e suas casas incendiadas. O intérprete Zé Correia relata: "A maioria dos idosos foram massacrados pelos brancos peruanos, que dispararam contra eles e incendiaram as casas dos isolados. Eles disseram que muitos idosos morreram e que chegaram a enterrar até três pessoas em uma mesma fossa. Disseram que morreu tanta gente que não puderam enterrar todos e que os abutres comeram seus cadáveres", publicou a Survival.
Especialistas advertem que a Funai carece de recursos e pessoal suficiente para responder a casos similares no futuro, como equipes sanitárias especializadas em lidar com situações de contato e pós-contato. De acordo com a Survival, em 2011, postos de guarda da zona chegaram, inclusive, a serem fechados depois de saqueados por narcotraficantes.
Diante disso, a organização exige que o governo brasileiro restabeleça, de imediato, os postos de guarda na área, como medida de urgência, e que destine mais recursos financeiros para o trabalho com índios isolados, investigando denúncias de massacre e protegendo suas terras.
"É vital que Brasil e Peru destinem fundos, imediatamente, para a proteção total das vidas e das terras dos indígenas isolados. Seu crescimento econômico está sendo produzido às custas das vidas de seus cidadãos indígenas. Agora, sua recém-acumulada riqueza deve ser usada para proteger os poucos indígenas isolados que, até o momento, sobrevivem ao contínuo genocídio dos povos originários da América", declarou o diretor da Survival, Stephen Corry.
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