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Alemão é preso com aranhas

CB, Cidades, p. 23
01 de Dez de 2004

Alemão é preso com aranhas

Renato Alves
Da equipe do Correio

O alemão Dietmar Pinz, 52 anos, foi preso ontem no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, acusado de contrabando. Em sua mala, havia seis aranhas e um acervo de fitas de vídeo e cartões de fotos digitais com imagens de centenas de animais da fauna brasileira. Ele acabou detido por policiais federais quando embarcava para São Paulo, onde pegaria um avião com destino a Frankfurt, na Alemanha, amanhã.
Para os agentes da Delegacia do Meio Ambiente, da Superintendência da Polícia Federal em Brasília, Pinz é um biopirata, pessoa que leva para o exterior plantas e animais brasileiros. Os policiais acreditam que as aranhas seriam usadas em pesquisas científicas na Europa. O valor do aracnídeo está no veneno que ele carrega. Lá fora a substância é comprada por até mil dólares (R$ 2,7 mil) o mililitro, explicou o delegado Francisco Serra Azul, titular da Delegacia do Meio Ambiente. O veneno pode virar remédio e ser patenteado por uma empresa estrangeira.
Das seis aranhas apreendidas com Dietmar Pinz, uma estava morta. Da espécie caranguejeira, a aranha morta era a maior dos animais capturados, mas de menor valor no mercado internacional. Apesar da aparência medonha, ela não tem veneno e é exportada ilegalmente para servir de bicho de estimação. As outras, com apenas cinco centímetros de comprimento, estavam dentro de tubos para negativos fotográficos. Elas sobreviveram graças a pequenos furos no recipiente. Os peritos as identificaram como espécies perigosas, com venenos letais para os homens. Chegam a pular até 1,5 metro de altura para atacar suas vítimas, contou Serra Azul.
Excursão pela Amazônia
No depoimento aos agentes federais, Pinz disse ser um serralheiro a passeio no Brasil. Alegou que cria aranhas da fauna brasileira por hobby. Mas os policiais não acreditaram na sua versão. Pelos registros no passaporte, Pinz chegou ao Brasil, por São Paulo, no dia 2 de novembro. Foi direto para a região da floresta amazônica. Esteve em Porto Velho (RO) e depois voou para Rio Branco (AC). Em seguida, veio para Brasília.
Além das aranhas, do material fotográfico e da filmadora, Pinz carregava mapas e estudos científicos sobre as propriedades das aranhas brasileiras. Em cinco fitas de vídeo e três cartões para fotos digitais, o alemão gravou imagens de insetos, aves e mamíferos típicos da Amazônia. Ele carregava ainda pinça para coleta de insetos, facão e um rabo de arraia.
As imagens datadas em algumas das fitas, mostram que as gravações foram feitas em 2000, 2001, 2002 e 2004. Com isso, os investigadores desconfiam que Pinz vinha regularmente ao país. Mas ele tinha apenas visto de turista. Para fazer pesquisas no Brasil, é preciso uma autorização especial do governo brasileiro. Antes de desembarcar em São Paulo, o alemão ficou na Índia entre outubro de 2003 e abril de 2004, de acordo com registros em seu passaporte.
Outro alemão preso
Apesar dos indícios de biopirataria, Pinz foi indiciado por contrabando, que tem penas mais pesadas. É um crime que a polícia não pode arbitrar fiança. Ele só poderá ficar livre por ordem da Justiça Federal, ressaltou Serra Azul. A pena para o contrabando varia de um a quatro anos de cadeia. Mas no caso do uso de transporte aéreo, a pena dobra. Até o fim da noite, o alemão estava preso na carceragem da PF em Brasília, no Setor Policial Sul.
Dietmar Pinz é o segundo alemão preso, em pouco mais de dois meses, no aeroporto de Brasília, com aranhas brasileiras na bagagem. Carsten Richard Roloff, 58, foi detido no dia 25 de setembro. Roloff, que mora na Suíça, confessou que levaria centenas de ovos de aranhas para serem estudados na Europa. Apesar disso, devido à determinação da lei quanto ao tratamento de traficantes de animais, ele foi liberado no mesmo dia e deixou o país, onde havia estado outras três vezes. A biopirataria não está prevista na Constituição Federal.

CB, 01/12/2004, Cidades, p. 23

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