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Alemanha apóia "etanol bom"

CB, Mundo, p. 35
15 de Mai de 2008

Alemanha apóia "etanol bom"
Primeira-ministra Angela Merkel assina acordo de cooperação energética, mas cobra "produção sustentável" de biocombustíveis. Lula diz que futuros presidentes brasileiros serão "xeques do petróleo"

Silvio Queiroz
Da equipe do Correio

A Alemanha vai cooperar com o Brasil no desenvolvimento dos biocombustíveis e na promoção mundial do etanol, mas exige em contrapartida garantias de que a produção será balizada pelos "três pilares do desenvolvimento sustentável: ambiental, econômico e social". É o que diz o texto do acordo de cooperação energética assinado ontem no Planalto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pela primeira-ministra Angela Merkel, que iniciou por Brasília sua primeira visita oficial à América Latina. Sob o impacto da saída da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, considerada pelos alemães (e pelos europeus em geral) a principal avalista da preservação da Amazônia no governo Lula, Merkel reiterou o endosso ao programa brasileiro de biocombustíveis, mas cobrou compromissos.

"Os biocombustíveis são uma forma de substituir as fontes clássicas de energia fóssil, mas desde que sejam produzidos de maneira sustentável", disse a chefe de governo durante encontro com jornalistas alemães, pela manhã. "Devemos cuidar para que eles não substituam os cultivos para produção de alimentos", concluiu. Durante entrevista coletiva conjunta, ao final do encontro que mantiveram no Planalto, Lula repetiu o argumento de que o Brasil "produz etanol há 30 anos e não deixou de aumentar a produção de alimentos, de aumentar a exportação de grãos".

O presidente insistiu também que "a humanidade não pode continuar dependente do petróleo" e exaltou as recentes descobertas feitas pelo país. "Se vocês voltarem daqui a 10 anos, vão dizer que o presidente brasileiro é um xeque, tamanha a quantidade de petróleo que vamos estar produzindo", exagerou, parafraseando o colega venezuelano, Hugo Chávez - que se referiu a Lula, meses atrás, como "novo magnata do petróleo". "Mesmo assim", continuou Lula, "eu insisto nos biocombustíveis porque acredito que são uma alternativa para conter as mudanças climáticas."

Parceria
O acordo energético assinado por Brasil e Alemanha está centrado na "produção e uso de fontes renováveis de enegia", entre elas hidrelétrica, solar, eólica e biomassa. Quanto aos biocombustíveis, estabelece a criação de um grupo de trabalho para, entre outras tarefas, examinar os requisitos para "comércio, padronização, certificação ambiental e social" - alguns dos requisitos da União Européia (UE) para dar sinal verde para a elevação do etanol brasileiro à categoria de commodity no mercado internacional. O acordo prevê ainda cooperação técnico-científica no setor, inclusive com o intercâmbio de especialistas. Além do desenvolvimento das fontes "limpas", os dois países também se associarão na busca de maior eficiência energética de máquinas e equipamentos.

O viés ambiental da relação bilateral está contemplado também em um amplo acordo de cooperação financeira que prevê créditos de até 35 milhões de euros (cerca de R$ 100 milhões) para manejo sustentável da floresta e preservação da Amazônia. Os dois acordos estão contidos no Plano de Ação da Parceria Estratégica Brasil-Alemanha, que atualiza o programa original de 2002. Entre outros temas, o plano reafirma a ação conjunta pela reforma das Nações Unidas e pela ampliação do Conselho de Segurança, onde ambos países pleiteiam uma vaga permanente.

Merkel seguiu à tarde para São Paulo, onde seria homenageada com jantar (seguido de palestra) oferecido pela Federação das Indústrias (Fiesp). Hoje, a premiê visita a fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo e embarca para Lima, onde participará do encontro de cúpula entre União Européia e América Latina/Caribe.

CB, 15/05/2008, Mundo, p. 35

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