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Álcool e drogas assolam aldeias de Dourados

Dourados Agora-Dourados -MS
Autor: Hakeito Almeida
10 de Fev de 2005

Índio flagrado quando levava sacola cheia de baquinha para aldeia de Dourados. foto: Hedio Fazan
Indígenas estão apreensivos desde o dia 5 de janeiro com a suspensão oficial da Operação Sucuri

Comerciantes vendem cada 'baquinha' de aguardente por até R$ 3

As cenas deprimentes de índios entregando-se ao vício das drogas, álcool e a um futuro incerto parecem estar longe de um fim nas aldeias Bororó e Jaguaripu em Dourados. Uma portaria determinando oficialmente o fim da Operação Sucuri desde o dia 5 de janeiro e a espera de verbas da Funai para a continuidade do programa neste ano, faz retomar o clima de intranquilidade entres os mais de 10 mil índios das etnias terenas, guaranis e caiuas que moram nas aldeias.
A Operação Sucuri foi lançada pela Funai com parcerias das Polícias Civil, Militar e Federal, dia 19 de julho do ano passado, com o propósito de proibir o acesso de pessoas não-índias que estariam levando bebidas alcóolicas e drogas para dentro da Reserva Indígena.
Problemas como venda de bebidas dentro e fora das aldeias, troca de cestas de alimentos por uma garrafa de pinga motivando estupros, suicídios e assassinatos, podem voltar a tona, acreditam algumas lideranças.
"Quando a Operação Sucuri estava autuando aqui melhorou bastante. Agora voltaram a vender bebida aqui dentro da Jaguaripu. Tem quatro comerciantes que negociam cachaça com os índios", denuncia o guarani Miguel Brito, 49. "No final de semana, a noite fico com medo de sair de casa, já que os jovens bebem e se drogam", preocupa-se a guarani Severina Garcia, 50.
Um dos sete filhos de Severina, Adilson Lopes, 29, também diz temeroso com a escalada da violência. "Tenho dois filhos menores e temo pela segurança deles. Faço minha parte, incentivando-os a ir à escola e à igreja", salienta Adilson.
Vilipêndio
O capitão da Jaguaripu, Hélio Nibó, afirma que o consumo de álcool traz junto o aliciamento de brancos para enveredar os indígenas no tráfico de drogas. "Além de vender cachaça, os brancos viciam os nossos jovens na maconha e depois eles acabam tornando traficantes e presos por crimes como furtos e arrombamentos", lamenta Hélio.
"As festas regadas a chicha - bebida alcóolica que é feita a partir da fermentação do milho com açúcar -, que faz parte dos costumes indígenas, foram reduzidas, já que compareceriam jovens usando drogas e promoviam brigas", conta o diretor de cultura da Jaguaripu, Carlos Antônio Duarte.
O apelo e o direito a cidadania também encontra eco nas palavras do capitão da Bororó, Luciano Arévalo. "Existem comerciantes que vendem cada 'baquinha' de aguardente por até R$ 3 e ainda tem aqueles que trocam produtos alimentícios com clientes e até mesmo entre os próprios indígenas", lamenta Luciano.
O Estatuto do Índio prevê de seis meses a dois anos de prisão, para o comerciante que for flagrado comercializando bebidas, conforme a Lei 6.001/73, inciso III, artigo 54.
"Recebemos constantamente denúncias de consumo exagerado de pinga e sobre a prática de venda e troca de alimentos, que reduziu durante a Operação Sucuri", reforça o chefe do Núcleo da Funai de Dourados, Israel Bernardo.

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