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Águas do Xingu

Produtor Rural n. 150, Produção & Ambiente, p. 44-45
31 de Ago de 2005

Águas do Xingu

O laboratório de uma nova forma de agir, em que representantes de segmentos diversos, com uma causa comum - a água - se unem, em vez de se confrontar
Na última semana de outubro de 2004, representantes dos índios, de pequenos, médios e grandes produtores, de organizações governamentais e não-governamentais e pesquisadores encontraram-se no município de Canarana (a cerca de 800
km da capital mato-grossense) para discutir a proteção e a recuperação das matas ciliares e dos recursos hídricos da bacia do Xingu - uma área de 51 milhões de ha, dos quais 17,7 milhões em Mato Grosso. Sob a coordenação do Instituto Socioambiental (ISA), os participantes do histórico Encontro Nascentes do Rio Xingu firmaram na Carta de Canarana um compromisso em prol da "preservação do Xingu e do seu inestimável valor simbólico para as futuras gerações". Apenas um gesto de boa vontade dos habitantes de uma região que abriga um dos maiores rebanhos bovinos do país? Não, segundo o coordenador da campanha 'Y Ikatu Xingu, Márcio Santilli. Para ele, apesar da burocracia governamental e das dificuldades de alguns parceiros na elaboração de projetos, houve avanços nas duas frentes de atuação: tanto na busca de políticas públicas e da intervenção do Estado para alcançar os objetivos considerados prioritários, como de recursos para a realização de projetos-piloto nos municípios envolvidos na campanha.
' "Vemos esta campanha como um laboratório de uma nova forma de agir, em que representantes de segmentos diversos, com uma causa comum - a água - se unem, em vez de se confrontar", comenta Santilli, que torce para que a experiência do Xingu funcione como um novo padrão, deixando de lado a tradição de cada segmento da sociedade se organizar em separado, definir suas demandas corporativas e pressionar o Estado - o "paizão" - para atendê-las. No caso do Xingu, a preservação e recuperação das nascentes e recursos hídricos é o objetivo maior, mas outros problemas precisam ser resolvidos no caminho, como a questão do saneamento básico, objeto de um diagnóstico, em fase de conclusão, realizado pelo Ministério das Cidades em 14 municípios situados nos eixos das BRs 163 e 158. A situação nos 21 assentamentos rurais da região também será levantada num prazo de três meses pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), assim como a realidade dos agricultores familiares será diagnosticada com recursos do Ministério do Desenvolvimento Agrário. "Com os dados nas mãos, poderemos definir estratégicas de acordo com as prioridades definidas na Carta de Canarana", explica o coordenador da campanha.
Além disso, o ISA, uma das organizações apoiadoras de 'Y Ikatu Xingu, está articulando com a Embrapa e com o Ministério da Ciência e Tecnologia um programa de pesquisa para Bacia do Xingu, envolvendo a definição de indicadores de sustentabilidade ambiental e a transferência de tecnologia. Outra frente de trabalho tem reunido a diretoria da Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), a Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA) e representantes de municípios (Prefeitura, sindicatos rurais e Câmara de Vereadores) da região na busca de soluções para os problemas ambientais sem prejuízo aos produtores rurais que venderam terras no Sul para desbravar o Centro-Oeste e hoje se sentem enganados devido a mudanças na legislação de proteção ao meio ambiente. O vice-presidente e o secretário da Famato, Rui Prado e Valdir Correa da Silva, respectivamente, estiveram em Querência (a mais de 900 km de Cuiabá) na terceira semana de julho e acertaram com lideranças locais a ida de um técnico para fazer um diagnóstico da situação. "De posse desse levantamento, vamos discutir com o pessoal do ISA e da Embrapa a elaboração de projetos que contemplem os interesses de produtores e o meio ambiente", conta Silva.
Por outro lado, as entidades envolvidas na campanha estão atentas aos editais de órgãos como os ministérios do Meio Ambiente e da Ciência e Tecnologia para identificar oportunidades de garantir recursos para projetos-piloto que favoreçam a recuperação de nascentes e matas ciliares. "Esperamos chegar ao final deste ano com seis projetos de recuperação ambiental aprovados nos municípios de Querência, Água Boa, São José do Xingu, Cláudia e Marcelândia", informa o coordenador. Um desses projetos, no valor de R$ 500 mil, visa a recuperação das cabeceiras do rio Paturi, um dos tributários do Xingu, e tem como parceiros o Sindicato Rural de São José do Xingu, a Associação dos Fazendeiros do Vale do Araguaia e Xingu (Asfax) e o governo municipal.

Produtor Rural, n. 150, Ago 2005, Produção & Ambiente, p. 44-45

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