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Água e esgoto em caminhos opostos

O Globo, Ciência, p. 34
07 de Mar de 2012

Água e esgoto em caminhos opostos
O primeiro recurso é quase universal; o segundo não atingirá metas da ONU

Renato Grandelle
renato.grandelle@oglobo.com.br

Um novo relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) mostra que o mundo avançou em relação à oferta de água para beber. Entre 1990 e 2010, de acordo com o documento, 2 bilhões de pessoas ganharam acesso à água potável. Com isso, 89% da população mundial têm, agora, este bem disponível. O saneamento básico, porém, não traz motivo para comemorações. Apenas 63% do planeta têm este recurso - o que significa que 2,5 bilhões de pessoas ainda não possuem rede coletora de esgoto.
Segundo as Nações Unidas, 98% dos brasileiros têm água potável - no campo, são 85%. Setenta e nove por cento do país contam com saneamento básico. Na população rural, seriam apenas 44%. Esses índices, porém, são contestados por especialistas ouvidos pelo GLOBO.
- Só 45% da população brasileira têm acesso à rede de esgoto - assegura Edison Carlos, presidente-executivo do Instituto Trata Brasil, organização que luta pela universalização do saneamento básico. - E, do que é coletado, só um terço é tratado. A maior parte dos governos no mundo, incluindo o nosso, deu prioridade ao financiamento para água potável, por se tratar de um bem essencial e para evitar o surto de várias doenças. Enquanto isso, por duas décadas, praticamente nada foi feito com o esgoto. Até a criação do Ministério das Cidades, sequer sabíamos qual pasta estava à frente dos projetos.
Com a indefinição federal e a decorrente falta de investimentos, as prefeituras destinaram suas verbas para outras obras de infraestrutura. Mas o retorno dos recursos ao saneamento básico, uma conquista da última década, não resolveu todas as mazelas. O Programa de Aceleração do Crescimento, que concentra a maioria das verbas para a resolução deste problema, tem andado lentamente.
- Apenas 4% das obras da primeira fase do PAC voltadas a saneamento básico foram concluídas - lamenta Glauco Kimura de Freitas, coordenador interino do Programa Água para a Vida do WWF Brasil. - O problema é a operação do dinheiro. Os municípios não têm capacidade para gerenciar tantos recursos nem transformá-los em obras.
Os próprios órgãos responsáveis pelo levantamento ressaltam que os índices de adesão a esses recursos podem ter sido superestimados. A definição de "água potável", por exemplo, abrange apenas o bem livre de contaminação externa, como coliformes fecais. A restrição não é suficiente para saber se trata-se de um bem devidamente adequado para consumo.
A projeção do que ocorrerá com água e esgoto nos próximos anos é, também, oposta. Em 2000, quando foram aprovados os Objetivos do Milênio, previa-se que, em 2015, 88% da população do planeta teriam acesso à água potável. Cinco anos antes do prazo, a meta já foi cumprida. Enquanto isso, a rede de esgoto dificilmente chegará ao nível indicado. No ritmo atual, chegaremos a 2015 com 67% das pessoas tendo acesso a este serviço. Estimava-se que seriam 75%.
Há, em ambos os recursos, segundo a ONU, grande diferença geográfica em sua disponibilidade. Apenas 61% da população da África Subsaariana contam com água potável. Na América Latina, são 90%.
Com saneamento ocorre o mesmo. Cerca de 7,2 milhões de brasileiros não dispõem de rede de esgoto. Já na China, são 14 milhões. Na Índia, 626 milhões.

O Globo, 07/03/2012, Ciência, p. 34

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