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Agropecuária exige união de pequenos

FSP, Mercado, p. B10
17 de Fev de 2013

Agropecuária exige união de pequenos
Responsável por 13,6% do valor da produção nacional, classe média rural ganha força com associação de agricultores
Para sobreviver num setor de gigantes, saída é juntar forças para ter acesso a tecnologias e negociar melhor

Tatiana Freitas

Entre os extremos de renda no campo, existe uma classe média que responde por quase 14% do valor da produção agropecuária nacional.
São pequenos e médios produtores, espremidos entre a agricultura familiar e os gigantes do agronegócio. Como estão fora de programas assistenciais e não têm a escala dos grandes grupos, a chamada "classe C rural" busca competitividade na união com outros produtores.
"A única forma de sobreviver é adoção de alto padrão de tecnologia e a organização em formas associativas de produção", afirma Mauro de Rezende Lopes, pesquisador do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da FGV).
Para o coordenador da pós-graduação em agronegócios da FGV, Fábio Mizumoto, o pequeno produtor tem duas alternativas clássicas: associar-se a outros agricultores ou produzir especialidades.
Marcos Guilherme Eltink, produtor de flores em Holambra (SP), optou pelos dois. Deixou a produção de grãos e citros da família e migrou para as flores. Escolheu cyclamen, de maior valor agregado, e investiu em tecnologia.
Os 50 mil vasos produzidos por mês na Alameda Flores saem de estufas com controle de temperatura e umidade. O retorno compensa, diz ele, sem falar em cifras.
Ao reconhecer a falta de habilidade comercial, Eltink adotou a segunda recomendação de especialistas e procurou se associar. "O agricultor sabe produzir bem, mas na hora de comprar e vender, peca", afirma o produtor, um dos 300 membros da cooperativa Veiling, de Holambra.
Cooperativismo
As cooperativas são o caminho mais procurado por pequenos agricultores para sobreviver em um setor dominado pelos grandes -a classe A/B responde por 79% do valor da produção nacional.
A concentração ocorre porque a atividade agropecuária requer alto investimento inicial, comparada com outros setores, como o de serviços.
Além da terra, o produtor precisa de sementes, agroquímicos, máquinas e, em alguns casos, local para armazenagem. Comprar tudo sozinho, para produzir um volume pequeno, é inviável.
"Individualmente, é um jogo muito desigual", diz Márcio Lopes de Freitas, presidente da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras).
Além do apoio na compra e venda, Freitas diz que o cooperativismo pode aproximar o produtor da tecnologia. "Em conjunto, o acesso à tecnologia é mais fácil", afirma.
Valdir Sangaletti, da Emater/RS, destaca o caráter educativo das cooperativas. "Muitas vezes o produtor não sabe nem qual é o seu custo de produção", diz o agrônomo que trabalha no interior do Rio Grande do Sul.
"Se não existissem as pequenas cooperativas de leite, muitas famílias já teriam desistido da atividade aqui."
Outra forma comum de associativismo são os consórcios e condomínios agrários. Nesse modelo, produtores se unem para comprar bens, como terras, máquinas ou silos.
Apesar de obedecer a um estatuto, nos condomínios os produtores são parceiros e trabalham de forma mais independente do que nas cooperativas, onde são sócios.

Orgânicos crescem com diferenciação

Deixar de produzir commodity e oferecer alimentos diferenciados, com valor agregado. Esse é o caminho para o pequeno produtor rural se destacar entre os grandes, diz Enio Queijada, gerente de agronegócios do Sebrae.
"Como o preço das matérias-primas é dado pelo mercado externo, a escala é muito importante", diz. "O pequeno agricultor deve procurar canais de venda que pagam melhor e conseguir um preço diferenciado."
A aposta na diferenciação fez a Cia Orgânica, distribuidora de café orgânico de São Paulo, crescer rapidamente. O negócio começou em 2002, com uma fazenda em Ribeirão Claro (PR) que produzia cerca de 50 sacas de café orgânico por ano.
Cresceu até atingir 300 sacas anuais em 2008, quando começou a comprar de outras propriedades em Mogiana (SP) para responder ao crescimento da demanda no varejo. "Decidimos estender a marca para outras fazendas e estimulamos novos parceiros na produção orgânica", diz Thiago Fontoura Filho, sócio diretor da empresa.
Hoje, a Cia Orgânica é responsável pela distribuição de 700 sacas de café orgânico, que recebe de cinco fazendas.
A expansão ocorreu também no varejo. Além de empórios e restaurantes especializados, a empresa fornece para grandes redes de supermercados, incluindo o Pão de Açúcar -nesse caso, como fornecedor exclusivo da marca própria Taeq.
"A adesão das redes de supermercados aos produtos orgânicos nos possibilitou alcançar escala, que é fundamental para qualquer empresa", afirma Fontoura Filho.
Migração
Voltada ao cultivo de verduras, legumes e frutas, a Cultivar Orgânicos, de São Roque (SP), também cresceu apostando na diferenciação.
"Percebi, em uma feira nos EUA no final dos anos 90, que o mercado de orgânicos era emergente e que era possível produzir em escala comercial", diz Cristiano Psillaris, sócio diretor da empresa.
O agrônomo decidiu, então, abandonar a agricultura convencional e partir para a orgânica. Com um faturamento anual em torno de R$ 6 milhões, a Cultivar leva os seus produtos para São Paulo, Rio e Minas Gerais.
Para atender à demanda, conta com aproximadamente cem agricultores parceiros no interior de São Paulo. Segundo Psillaris, a parceria foi fundamental para o sucesso. "Ninguém faz nada sozinho", afirma o empresário. (TF)
"Como o preço das matérias-primas é dado pelo mercado externo, a escala é muito importante. O pequeno agricultor deve procurar canais de venda que pagam melhor e conseguir um preço diferenciado" Enio Queijada, gerente de agronegócios do SEBRAE

FSP, 17/02/2013, Mercado, p. B10

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/94204-agropecuaria-exige-uniao…

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/94205-organicos-crescem-com-di…

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/94206-frases.shtml

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