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Agrônomo critica extrativismo na AM

GM, Saneamento & Meio Ambiente, p. A9
04 de Dez de 2003

Agrônomo critica extrativismo na AM

Quem assiste a uma palestra do engenheiro-agrônomo Alfredo Kingo Oyama Homma, com sua voz baixa e uma certa dificuldade em se expressar, provavelmente não o ligará logo à figura responsável por quatro livros e pelo menos três centenas de artigos polêmicos sobre temas como desenvolvimento agrícola, economia de recursos naturais, meio ambiente e políticas públicas. Nesses trabalhos, é possível acompanhar as muitas polêmicas que Homma tem provocado, como quando critica os que defendem o extrativismo vegetal como alternativa econômica para a região amazônica. "Eu entendo que o extrativismo é apenas uma maneira de ganhar tempo, enquanto não surgem mais alternativas", disse Homma, 56 anos, pesquisador da Embrapa na Amazônia Oriental desde 1976.

Esta semana, Alfredo Homma lançou em Belém seu quinto livro - "História da Agricultura na Amazônia" -, que promete levantar novas polêmicas. Num dos trechos do livro, ele afirma que o desafio quanto ao desnível tecnológico da Amazônia e a existência de 600 mil pequenos produtores, que necessitam fazer o desmatamento para garantir a sua sobrevivência, "refletem o perigo das propostas essencialmente ambientalistas, esquecendo-se de uma política agrícola para a Amazônia".

"Questiona-se quanto à validade das atuais políticas em atingir o 'desmatamento zero' na Amazônia e reduzir as agressões ambientais, sem uma tecnificação da agricultura e a criação de alternativas para os pequenos produtores. O pensamento comum entre os ambientalistas sobre a Amazônia, de condenar as tecnologias intensivas, pode ter um efeito contrário quanto à conservação e à preservação, conduzindo a um subdesenvolvimento sustentado para a Amazônia", afirma Homma em seu livro.

Mas não é por pensar assim que se pode imaginar que a questão ambiental não está presente nas preocupações de Homma. Pelo contrário, ele destaca, por exemplo, que os mega-investimentos que estão sendo realizados hoje na região procuram, entre outras coisas, criar novos caminhos para a exportação de soja dos cerrados. E alerta: "Esta cultura na Amazônia Legal já atinge 1/5 da produção nacional. O seu avanço deve culminar em grandes riscos ambientais nas áreas de cerrados próximas aos eixos de desenvolvimento e nas áreas desmatadas de floresta densa, se não forem acompanhadas de programas de compensação ecológica. Os cerrados, que tinham sido pouco aproveitados na região Norte, pela baixa fertilidade de seus solos para a agricultura e pastagens, com a expansão da soja, passaram a sofrer riscos de serem derrubados e queimados".

Nascido na cidade amazonense de Parintins, Homma formou-se pela Universidade Federal de Viçosa, onde também obteve o doutorado em Economia Rural. Ao longo dos últimos anos tem acumulado prêmios, como o 3 Prêmio Nacional de Ecologia, exatamente por causa de sua tese sobre o extrativismo vegetal. Com o livro "Amazônia: meio ambiente e desenvolvimento agrícola", ele ganhou em 1999 o Jabuti, na categoria Ciências Naturais e Medicina.

O livro que acaba de lançar mostra, em escalas cronológica e sintética, os principais fatos históricos, vultos, inovações tecnológicas e políticas públicas que marcaram a história da agricultura na Amazônia, desde a presença dos primeiros paleoíndios até a atualidade. Ele mostra, por exemplo, que Henry Alexander Wickham, ao transportar 70 mil mudas de seringueira, coletadas às margens do rio Tapajós, no Pará, para Londres e depois para sudeste asiático, em 1876, modificou o eixo da história da Amazônia.

Essa ação de Wickham levou a que a Amazônia, que em 1908 concentrava 94,4% da produção mundial de borracha extrativa, sofresse uma queda brutal. Já em 1913, a produção regional igualava-se à do sudeste asiático. Apenas cinco anos depois, a produção amazônica não passava dos 10% do total mundial. "Até hoje as carpideiras amazônicas ainda lamentam a queda da economia extrativa da borracha e o crime de biopirataria praticado por Henry Alexander Wickham".

O livro de Alfredo Homma mostra outras perdas sofridas pela região. De 1730 até a Independência do Brasil, por exemplo, o extrativismo do cacau respondia por mais da metade do valor das exportações do então Estado do Maranhão e Grão-Pará, quando perdeu a competitividade para os plantios da Bahia, iniciados em 1746. Foi nessa época, em 1727, que sementes de café foram trazidas pelo sargento-mor Francisco de Mello Palheta e plantadas em Belém. "Essa inocente entrada de café em Belém transformou o Brasil no maior produtor mundial desse produto", conta Homma.

GM, 04/12/2003, Saneamento & Meio Ambiente, p. A9

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