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Autor: MÍRIAM, Leitão
18 de Out de 2024
Agronegócio que não desmata, não ateia fogo precisa cortar laços com quem está envolvido com o crime ambiental
Míriam Leitão
18/10/2024
O agronegócio está perdendo para ele mesmo. A fatia do setor que não desmata, não bota fogo, também tem sido vítima dos incêndios. Foi o que vimos em São Paulo, principalmente, nas usinas de açúcar e do álcool. Quem faz o bom agronegócio tem que denunciar, tem que cortar laços com essa agricultura que destrói. Não pode aceitar nenhum fornecedor com esse perfil. Nem o fornecedor do fornecedor. É preciso separar joio e trigo no Brasil. Isso é fundamental para que o agronegócio prospere e seja o vencedor nessa batalha. Até aqui, eles estão perdendo para eles mesmos.
Em reportagem publicada no GLOBO, nesta sexta-feira, Eduardo Gonçalves e Dimitrius Dantas mostram o resultado de um trabalho cuidadoso, minucioso, que além de levantar que o Ibama aplicou R$ 451 milhões em multas contra 138 alvos por queimadas na Amazônia e no Pantanal, mostra quem são os acusados desses crimes ambientais. E eles são fazendeiros, advogados e empresários, enfim, são proprietários rurais ateando fogo em suas propriedades ou em áreas públicas produzindo boa parte de toda a tragédia que temos visto nos últimos meses.
Há casos muito impressionantes, por exemplo, o do advogado Luiz Gustavo Battaglin Maciel, e o fazendeiro Ademir Aparecido de Jesus, em Corumbá, no Mato Grosso do Sul, que foi multado em setembro em R$ 50 milhões. Uma área que eles reivindicam como sendo deles, pegou fogo e isso demorou 110 dias para ser controlado e atingiu 135 imóveis rurais.
Por que eles são os principais suspeitos? Por várias razões. Eles nada fizeram para combater o fogo, não haviam protegido a área com aceiros por exemplo, um sistema de proteção comumente utilizado em propriedades rurais, que consiste em deixar uma faixa de terra cercando uma área para que o fogo não se propague. Outra razão é que essa área não pode ser acessada de fora, não é perto de uma estrada, por exemplo. O Ibama tem muitas suspeitas em relação ao Battaglin e Aparecido, diante dessa falta de esforço em apagar o fogo, justamente numa área que ambos reivindicam. Como já mostrou levantamento recente do MapBiomas, a queimada de áreas de mata é uma estratégia usada para abrir pasto para o gado. E eles já têm antecedentes.
Outro personagem da reportagem é o fazendeiro Delmir José Alba, que nasceu em Santa Catarina e foi para Novo Progresso e Altamira, no Sul do Pará, desenvolver empreendimentos do agronegócio. Em 2020, Alba confessou à Polícia que tinha intenção de derrubar 80% da mata na propriedade, justamente onde se identificou um dos maiores desmatamentos contínuos na Amazônia, de 4.350 hectares. No entanto, ele disse que não fez a queimada.
É importante destacar que os casos acontecem sempre nas mesmas cidades que na semana passada a gente conversou, como Altamira, Novo Progresso, Lábrea, Buritis, Boca do Acre, São Félix do Xingu, nessa última eu estive para apuração da reportagem que se transformou no livro "Amazônia na encruzilhada". O Ibama e as autoridades de segurança investigam 138 alvos nessas área.
Luiz Gustavo Battaglin Maciel é o advogado de Luiz Fernando da Costa, o traficante Fernandinho Beira-Mar. A história vai ficando pior.
Jair Schmitt, diretor de Proteção Ambiental do Ibama, ouvido pela reportagem, destacou ainda que apenas 20% das multas são pagas sem judicialização e menos de 1% dos suspeitos é condenado por crime de incêndio no Brasil. A Justiça acaba dando ganho de causa a quem incendiou, a quem destruiu e isso é muito grave, porque tem reflexo na vida de todos, na economia e no meio ambiente.
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