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Agronegócio disputa cidades desmatadoras

FSP, Brasil, p. A9
14 de Jul de 2008

Agronegócio disputa cidades desmatadoras
Nos 36 municípios que mais devastam a floresta, 35% dos candidatos a prefeito são madeireiros, pecuaristas ou agricultores
Em quatro cidades de Mato Grosso e do Pará, a disputa pela prefeitura se dará apenas entre candidatos do ramo da agropecuária

Da agência Folha, em Campo Grande
Da agência Folha, em Belém

Levantamento feito pela Folha nas 36 cidades que mais desmatam a Amazônia mostra que cerca de 35% dos candidatos a prefeito são ligados ao agronegócio -pecuaristas, agricultores ou donos de madeireiras. E que, entre os candidatos à reeleição nesses municípios (que historicamente têm mais chances de vencer a disputa), 44% também atuam em alguma dessas atividades.
Distribuídas por Mato Grosso (19), Pará (12), Rondônia (4) e Amazonas (1), as cidades da lista da devastação tiveram ao todo 116 pedidos de homologação de candidaturas a prefeito.
Segundo apurou a Folha, no grupo constam 41 candidatos dos setores que mais causam impactos ambientais na região -19 pecuaristas, 11 agricultores e 11 madeireiros.
O PT, com 18 candidaturas, será o partido que mais disputará as cidades da lista. Já o PR, do governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, é o que terá mais candidatos à reeleição -nove. Em quatro municípios de Mato Grosso e Pará, a disputa se dará exclusivamente entre representantes do agronegócio.
Para candidatos ouvidos pela Folha, ambiente será um ponto essencial da campanha, mas muitos se mostram reticentes à adesão total dos planos federais de reduzir o desmate.
Candidato único em Querência (MT), na região do Xingu, o prefeito Fernando Gorgen (PR) promete "trabalhar" para que o "problema" não inviabilize a economia da cidade. "Se deixar na mão desse ministro aí [Carlos Minc, do Meio Ambiente], nossa cidade acaba", diz ele, que é produtor rural.
O madeireiro Carlos Roberto Torremocha (DEM), candidato em Aripuanã (MT), defende uma visão "menos radical". "Nosso município não conseguirá sobreviver só da floresta."
A prefeita de Alta Floresta (MT), Maria Izaura Dias Alfonso (PDT), também candidata à reeleição, reclama da visão distorcida "passada pela mídia". "Ninguém mostra a realidade. E não temos respaldo algum do governo federal nessa luta."
A ligação direta entre prefeitos e os segmentos que exploram os recursos naturais em geral dificulta as iniciativas de preservação da floresta, diz o ambientalista Sérgio Guimarães, coordenador da ONG ICV (Instituto Centro de Vida).
"Na maioria das vezes, o eleito entra preocupado em fazer valer as demandas do seu setor. Em cidades que dependem de um modelo econômico insustentável, a tendência é manter esse padrão." (Rodrigo Vargas e João Carlos Magalhães)

FSP, 14/07/2008, Brasil, p. A9

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