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Agronegócio avança com maior produtividade da soja e milho

Valor Econômico, Especial p. G4
29 de Mai de 2015

Agronegócio avança com maior produtividade da soja e milho

Lauro Veiga Filho

A área destinada à produção de grãos na região Norte avançou 55% desde o fim dos anos 1980, mas a produção se multiplicou por quatro no período, refletindo alta de 133% na produtividade das lavouras, com predominância para a soja e o milho. Entre as safras 1987/88 e 2014/15, segundo série histórica construída pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a área plantada saiu de 1,50 milhão de hectares, equivalente a 3,5% do espaço total dedicado aos grãos no país, para 2,32 milhões de hectares, passando a representar em torno de 4,1%.
Naquele mesmo período, a produção regional saltou de 1,98 milhão para 7,13 milhões de toneladas, correspondentes a 3,5% da produção brasileira.
A produção soja registrou expansão mais vigorosa, ao crescer de meros 54,7 mil para 3,98 milhões de toneladas, passando a ocupar uma fatia de 56% da produção da região ou algo como 4,2% de todo o volume do grão a ser colhido pelo país neste ano.
A colheita de milho estimada para a safra em curso no Norte deverá se aproximar de 1,97 milhão de toneladas, 3% da produção total, 185% maior que no ciclo 1987/88. Somados, soja e milho assumirão uma fatia de 83,5% da colheita prevista para 2015 na região, diante de uma participação próxima a 60% na safra 2004/05.
Segundo o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), o crescimento da área plantada ocorreu de forma mais intensa no leste do Pará, em Rondônia e principalmente em Tocantins, Estado de onde sairão, neste ano, perto de 54% de toda a safra da região e em torno de 60% da soja produzida no Norte. "O crescimento da agropecuária tem ocorrido tanto pelo ganho de produtividade - ou seja, maior produção em áreas que já eram desmatadas - quanto pelo Desmatamento de novas áreas", observa o Imazon.
Para Ian Thompson, diretor de Conservação do Programa Brasil da The Nature Conservancy, os polos de expansão da soja na porção norte da região amazônica concentram-se principalmente na região de Santarém e ao longo do eixo da BR-163 no Pará; no nordeste daquele Estado, envolvendo Paragominas, Dom Eliseu, Rondon do Pará; e mais ao sul, entre Redenção e Santana do Araguaia.
Esse processo é observado ainda nos municípios de Vilhena, Machadinho do Oeste, Cerejeiras e no entorno da Hidrovia do Rio Madeira, em Rondônia, e ainda em Boa Vista, Bonfim, Alto Alegre e Cantá, em Roraima.
Segundo Thompson, de forma mais geral, a área ocupada pela soja, assim como a produção, assume uma escala reduzida se comparada a outros grandes polos de produção do grão no país, "mas as taxas de crescimento tendem a ser elevadas". Dados do projeto TerraClass, feito em conjunto pelo Inpe e pela Embrapa, mostram que "a área ocupada pela agricultura anual, entre 2008 e 2010, aumentou de 38% em Rondônia, 6% em Roraima, 58% no Pará".
A edição de 2012 do projeto, aponta Francisco Oliveira, diretor do Departamento de Política para o Combate ao Desmatamento do Ministério de Meio Ambiente, mostra que a participação da agricultura de ciclo anual na área total desmatada na Amazônia Legal alcançou 5,64% diante de 5,39% em 2010.
No total, a agricultura passou a ocupar 42,346 mil km², num avanço de 5,9% em relação a 2010, quando o TerraClass havia registrado 39,978 mil km². Entre 2008 e 2010, esse crescimento havia sido de 14,5%. Na média geral, a produtividade nas lavouras do Norte aumentou 133% entre 1987/88 e 2014/15, diante de uma variação de 128% no restante do país.
"Várias iniciativas já demonstraram que é possível reduzir e até zerar o desmatamento e, ao mesmo tempo, aumentar a produção agropecuária", observa Thompson. Numa iniciativa conjunta da TNC e Cargill, além de centenas de produtores rurais do Pará e de Mato Grosso, em 2004 foi lançada a Soja Mais Sustentável. A parceria ajudou a reduzir as taxas de desmatamento, elevando o nível de exigência da cadeia produtiva em relação à conservação da floresta, indica Thompson.

Receita da pecuária deve aumentar 5,6% em 2015

O rebanho bovino na região Norte chegou a experimentar um aumento ligeiramente superior a 72% na última década e meia, aproximando-se de 43,9 milhões de cabeças no ano passado, informa Alexandre Figliolino, diretor de agronegócio do Itaú BBA, com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da consultoria Agroconsult. Desde 2000, o plantel de bovinos na região registrou um acréscimo de 18,4 milhões de cabeças, em grandes números, respondendo praticamente por todo o avanço acumulado pela pecuária no restante do país.
Apenas para comparação, o rebanho brasileiro aumentou menos de 10% entre 2000 e 2014, evoluindo de 189,9 milhões para 208,6 milhões de animais. "Apesar do avanço da soja no Norte, a pecuária de corte ainda é uma atividade econômica importante
e, neste ano, deverá ser responsável por quase metade do valor bruto da produção agropecuária regional", observa Figliolino.
A pecuária de corte deverá gerar uma receita bruta de R$ 26,852 bilhões em 2015, de acordo com a Assessoria de Gestão Estratégica do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), crescendo 5,6% na comparação com 2014, o que permitirá ao setor acumular um incremento real de 141,8% desde 2005, frente a uma variação de 76,9% observada no período para o valor bruto total da agropecuária na região. A participação do segmento de bovinos avançou de 34% para 47% no mesmo intervalo.
O tamanho do rebanho teve crescimento mais vigoroso, no entanto, ainda na primeira metade da década de 2000, com salto de 62,7%, de 25,5 milhões (14% do rebanho brasileiro) para 41,5 milhões de animais, passando a responder por um quinto do plantel nacional (ou 21%). Entre 2005 e o ano passado, o avanço ficou limitado a 5,8%, diante de virtual estagnação do rebanho brasileiro.
O forte incremento da pecuária no Norte, observa Gustavo Aguiar, zootecnista e consultor da Scot Consultoria, ocorreu nas décadas de 1970 e 1980, com os programas do governo federal para expansão da fronteira agrícola e ocupação da Amazônia. Numa fase mais recente, a expansão foi motivada pelo preço baixo das terras.
"A expansão deu-se de forma horizontal na região Norte, com exploração extensiva da pecuária de corte e baixos índices de produtividade e eficiência", analisa Aguiar.
Um levantamento mais recente do TerraClass, realizado em 2012 e divulgado no fim do ano passado, mostra uma redução de 3,7% nas áreas desmatadas com a presença de pastagens na Amazônia Legal de 459,467 mil km², em 2010, para 442,403 mil km², o que significou 17,064 mil km² a menos, ou pouco mais de 1,7 milhão de hectares.
A participação dos pastos na área total desmatada na região recuou ligeiramente de 62% para 58,9%, refletindo uma possível tendência de maior tecnificação da atividade, com intensificação da criação de bovinos, sugerem Aguiar e Figliolino.(LVF)

Valor Econômico, 29/05/2015, Especial, p. G4

http://www.valor.com.br/brasil/4071970/agronegocio-avanca-com-maior-pro…

http://www.valor.com.br/brasil/4071950/receita-da-pecuaria-deve-aumenta…

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