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Agricultura saudável

O Globo, Opinião, p. 13
Autor: CAVALCANTE, Tânia
08 de Set de 2014

Agricultura saudável
Houve um decréscimo acentuado do consumo de tabaco no Brasil e no mundo, o que é ótimo

Tânia Cavalcante

O GLOBO publicou recentemente uma série de reportagens sobre um aspecto pouco conhecido do problema do tabagismo: o drama dos pequenos agricultores brasileiros que dependem economicamente da produção de tabaco. Mostrou que, na Região Sul, milhares de famílias (159 mil em 2013) estão inseridas na cadeia produtiva de tabaco, controlada por grandes transnacionais. E trouxe à tona os graves riscos que essa atividade gera para a saúde de adultos e crianças, como os efeitos da intoxicação por nicotina, presente nas folhas de tabaco e absorvida pela pele durante a colheita, e por pesticidas largamente empregados nessa lavoura.
O esforço para ajudar os agricultores a superar essa situação de dependência econômica e de insalubridade será um dos temas principais da 6ª Conferência das Partes da Convenção (COP6), que reunirá, em outubro, em Moscou os 178 países signatários do grande tratado mundial para redução do consumo de produtos de tabaco e de doenças e mortes resultantes - a Convenção Quadro da Organização Mundial de Saúde para Controle do Tabaco (CQCT).
Esse esforço faz-se particularmente necessário no Brasil, que é o segundo maior produtor e maior exportador de tabaco em folha - 85% da produção nacional de fumo são exportados. No momento da ratificação pelo Brasil da CQCT em 2005, o Legislativo exigiu que o governo brasileiro instituísse o Programa de Diversificação de Áreas Cultivadas com Tabaco. No entanto, apesar dos avanços, o fumo continua a ser a principal atividade econômica no Vale do Rio Pardo, no Rio Grande do Sul. Em Santa Cruz do Sul, considerada a capital mundial do tabaco, 72% do PIB dependem do tabaco.
Sabemos que houve um decréscimo acentuado do consumo de tabaco no Brasil e no mundo, o que é ótimo. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), que é responsável pela Secretária Executiva da Comissão Nacional para Implementação da CQCT (Conicq), a prevalência de fumantes no Brasil diminuiu quase 50% de 1989 a 2010. O Brasil é um caso de sucesso mundial, mas vários outros países signatários da CQCT também avançaram.
Com a queda na demanda, o preço do quilo da folha de tabaco está em franco declínio, o que coloca em risco a sobrevivência econômica dos agricultores. No entanto, certos gestores e políticos, em vez de assumir a frente do esforço pela criação de uma matriz econômica alternativa nas regiões, continuam a defender a produção de fumo.
Esperamos que a COP6 represente uma oportunidade para que todos somem esforços para ampliar o alcance do Programa de Diversificação, que, por meio de assistência técnica, capacitação e pesquisa, estimula a substituição da lavoura de folhas de tabaco pela produção, inclusive orgânica, de frutas, hortaliças, leite e mel. Bom para o bolso do agricultor, melhor ainda para a sua saúde.

Tânia Cavalcante é secretária-executiva da Conicq/Inca

O Globo, 08/09/2014, Opinião, p. 13

http://oglobo.globo.com/opiniao/agricultura-saudavel-13849673

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