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Agricultura familiar, como uma 'empresa organizada'

OESP, Economia, p. B7
27 de Abr de 2008

Agricultura familiar, como uma 'empresa organizada'

Evandro Fadel

O agricultor Eduardo Rugiski, de 61 anos, nasceu ali e nunca deixou a chácara de 9 hectares no município de Campo Magro, na região metropolitana de Curitiba. Casado com Bronislava, de 60 anos, que morava em propriedade vizinha, teve cinco filhos e hoje embala duas netas. Da terra própria tirou e continua tirando boa parte da sobrevivência da família. "Foi tudo feito no cabo da enxada", exulta. Os filhos têm outros empregos, mas nenhum abandonou a lavoura.

Segundo a mãe, a terra é o elo que mantêm todos eles unidos, morando no mesmo local. Além dos 9 hectares, os filhos alugam áreas vizinhas para ampliar a produção. Atualmente, a maior parte está coberta pelo milho, utilizado para alimentar os animais e complementar a renda. Eles também plantam feijão, para consumo próprio e venda. E desistiram do arroz pela falta de tempo para se dedicar à cultura.

Perto da casa, uma horta garante verduras e legumes para consumo, e ainda sobra para vender a um mercado. A responsabilidade pela horta é do filho Teodoro, de 39 anos, que, agora, com o pai e a mãe, está terminando um curso sobre a qualidade no meio rural. "A propriedade precisa ser uma empresa organizada", salienta. Segundo ele, auxílio governamental para produzir nunca faltou. "Principalmente para a agricultura familiar." No entanto, eles têm optado por evitar financiamentos.

Também para consumo próprio, o pomar fica recheado com laranja, tangerina, uva e caqui. Até vassoura é plantada na propriedade. Para complementar a renda, Bronislava, conhecida como vovó Bruna, montou uma casa de café colonial. Os produtos são feitos por ela. E por isso costuma ir ao supermercado, onde adquire, sobretudo, o trigo, cultura inviável pela falta de pequenos moinhos. Mas da terra ela tira a batata-doce, matéria-prima para fabricar balas, sua mais nova especialidade.

Eles quase foram à falência na grande geada de 1975. Toda a batata plantada se perdeu. Para pagar o financiamento bancário, desfizeram-se de muita coisa, entre elas o Aero Willys, ainda hoje lembrado com saudade. "Foi uma época difícil e chegamos a pensar em vender tudo", diz vovó Bruna. "Mas, se tivéssemos vendido, não sei se não estaríamos em barracos de sem-terra."

Trabalhando desde os 6 anos em lavouras, ela não consegue se ver em outra atividade que a obrigue a morar na cidade. "Na roça, a vida é muito tranqüila, apesar de muito difícil. O agricultor é um herói." Hoje, um trator ajuda nas atividades. No pasto, um cavalo curte a aposentadoria depois de ter puxado muito arado. Ao lado, três bois pastam. "Não compramos carne", acentua vovó Bruna.

Dezenas de galinhas ciscam no quintal, enquanto porcos engordam para fornecer a banha usada no dia-a-dia. "Aqui toda a alimentação é pura", arremata.

OESP, 27/04/2008, Economia, p. B7

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