FSP, Brasil, p. A8
11 de Mai de 2008
Agricultores dizem que vitória de Bida na Justiça estimula 'grileiros' de Anapu
Da agência Folha, em Anapu (PA)
Lideranças ligadas a pequenos trabalhadores rurais de Anapu consideram que a absolvição de Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, pode ameaçar a relativa calma que se instalou na cidade desde a morte de Dorothy Stang, em 2005.
"Foi um tapa na nossa cara. Vai fortalecer todos esses grandes grileiros da nossa cidade", afirmou Gabriel Domingos, ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Ele estava no cargo à época da morte.
Como "grileiros", Domingos se refere aos maiores fazendeiros da região. Segundo Domingos, eles começaram a grilar as terras na década de 1980, beneficiados por linhas de crédito da Sudam (Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia). Na década de 1990, com a chegada de migrantes do Nordeste, principalmente, a disputa por terras se acirrou.
Os fazendeiros alegam que têm a posse legal das áreas.
"Eles podem querer se armar, juntar seus jagunços para tirar os outros [pequenos agricultores] de sua terra", disse o vereador Romero Batista Medeiros (PT). "[A decisão de absolver Bida] deixou a gente revoltado", completou Medeiros.
Para o padre José Amaro, que trabalhou 15 anos ao lado da missionária, "ainda há gente marcada para morrer". Ele mesmo, disse, seria um dos primeiros da lista.
"Mas, desde que a irmã foi morta, ao menos uma coisa boa nos aconteceu, que foi aumentar a mobilização do pessoal. Hoje, todo mundo assume a luta", afirmou o padre Amaro sentado à mesa da cozinha da casa onde a missionária morava.
A casa tem como única segurança uma cerca baixa de madeira e três cachorros da raça fila. "Além de Deus", acrescentou ele.
Em relação à segurança pública, houve melhoras para tentar evitar a violência agrária. Foi inaugurada uma delegacia em Anapu, o que antes não existia. Também houve investimento na iluminação pública, ainda que blecautes sejam constantes.
Afora isso, foi criada uma Procuradoria Regional da República, em Altamira, a 140 km de Anapu, onde há também um recém-inaugurado posto da Polícia Federal.
Outro fator que impediu maiores conflitos foi a presença, por quase um ano, da força-tarefa que se instalou após o assassinato, com agentes da PF, do Ibama e soldados do Exército.
Alguns moradores vêem essa força-tarefa como algo que travou a economia local, então no auge da exploração ilegal de madeira. Hoje os empregos voltaram a ser gerados pelas atividades pecuária e pelo comércio incipiente.
FSP, 11/05/2008, Brasil, p. A8
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