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Agora, invasão na Capital

Diário de Cuiabá
Autor: Joanice de Deus
27 de Mai de 2008

Oitenta homens de etnia de Brasnorte ocupam sede da Funasa para cobrar regularização da assistência

Cerca de 80 índios das etnias myky e manoki irantxe, de Brasnorte (579 quilômetros, ao noroeste de Cuiabá) invadiram ontem a sede regional da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), em Cuiabá. Em Juína, o antropólogo do órgão, Miguel Foti, era mantido, desde sábado, em cárcere privado na aldeia Rio Seco, terra dos índios cinta larga.

Em ambos os casos, a principal reclamação é a precariedade da assistência médica nas aldeias. "Não estamos tendo nenhum tipo de atendimento", afirmou o líder indígena Mário Gilson Irantxe. "A saúde indígena no Estado está parada. Programas preconizados pelo Ministério da Saúde, como saúde da mulher, do idoso e das crianças, estão parados", afirmou.

Na Capital, os funcionários da Funasa foram impedidos de entrar na sede do órgão. A entrada foi bloqueada pelos índios dede às 6 horas. "Enquanto não tiver uma posição do presidente da Funasa (Danilo Fortes), não vamos sair", disse. Pintados e com arco e flechas, borduna (armas de madeira) e espadas de madeiras, os indígenas vieram de aldeias como Cravari, Paredão e Myky.

Em Juína, Miguel Foti integrava uma comissão de autoridades que intermediaram, na última quinta-feira, a liberação da rodovia MT-170, que ficou bloqueada por cinco dias por mais de 200 índios, das etnias enawenê-nawê, rikbaktsa, cinta larga, arara, myky, irantxe, kayabi, apyaka e mundurucu.

O chefe da Fundação Nacional do Índio em Juína, Antônio Carlos Ferreira de Aquino, informou que Foti foi levado para a aldeia dos cinta larga depois que ficaram insatisfeitos com a resposta da presidência da Funasa em relação às reivindicações. "O órgão disse que não tem como repassar o dinheiro para as conveniadas porque estão com pendências na prestação de contas", informou.

Segundo Mário Irantxe, o repasse não é feito desde janeiro deste ano. "Sem recurso, as ONGs não têm como trabalhar. Na aldeia Arara já morreu até gente. A saúde está precária nas aldeias", afirmou. "O atendimento da atenção básica está caótico. A entrada de equipes multidisciplinares em áreas indígenas está inviabilizada por falta de veículos e combustível", acrescentou.

As verbas são relativas a convênios de prestação de atendimento à saúde indígena, como vacinação, pré-natal e acompanhamento do peso das crianças, às organizações não-governamental Operação da Amazônia Ativa (OPAN) e Asdersal, de Ji-Paraná. Os índios também se dizem contra a municipalização da saúde indígena. "Cada etnia tem suas diferenças e os municípios não conhecem essas diferenças e não estão preparados para atender a saúde indígena".

Negociações
O chefe do Distrito Indígena de Cuiabá (Dsei), Paulo Almeida, esteve na sede do órgão federal conversando com os indígenas. Ele informou que desde 2004, quando o convênio foi firmado, já foram repassadas 15 parcelas do valor total. A 16ª, da ordem de R$ 887 mil, deveria acontecer agora em maio, mas ainda depende da avaliação de prestação de contas feitas pela Advocacia Geral da União (AGU). Quanto à municipalização da saúde, Almeida comentou que esta possibilidade dependeria até mesmo de mudanças na Constituição Federal.

Durante toda a tarde, os líderes do movimento indígena permaneceram em reunião com Paulo Almeida, na sede da Funasa. A direção do órgão garantiu que o diretor nacional de saúde indígena, Wanderley Guenka, estará em Cuiabá para por fim ao impasse. Enquanto isso, os índios vão permanecer acampados na sede da Fundação, em Cuiabá. Até lá, apenas alguns funcionários serão autorizados a entrar no prédio. (Colaborou Alexandre Aprá)

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