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Agentes da Funai e índios são acusados de contrabando

JB, País, p. A6
18 de Mai de 2004

Agentes da Funai e índios são acusados de contrabando
Grupo estaria matando animais silvestres para exportação ilegal de artesanato

Hugo Marques

Aves e animais silvestres do Brasil estão sendo abatidos por índios de várias aldeias e sendo utilizados como matéria-prima para a confecção de produtos artesanais de exportação. A constatação foi feita pela Polícia Federal ao ouvir 11 pessoas, entre as quais agentes da Fundação Nacional do Índio (Funai), presas por contrabando de artesanato, vendido para EUA e Europa.
Dono de lojas de arte indígena em Mato Grosso, Bahia e Goiás, o empresário João Carlos Dull foi preso e disse à PF que este tipo de comércio faz com que os índios abatam animais ''exclusivamente'' para a produção de peças de artesanato. Também presos pela PF, o chefe do Posto Erikbaktsa, em Juína (MT), Francisco das Chagas Cavalcante, e o coordenador da Associação dos Povos Indígenas Tumucumaque, Arlison Kleber, confirmaram que os índios estão matando animais silvestres.
O chefe da Divisão de Repressão aos Crimes Ambientais da PF, delegado Jorge Pontes, considerou muito grave o artifício dos contrabandistas, usando os índios para matar animais. Ele instaurou inquérito para investigar o caso com profundidade, em Brasília, mas já avisou que vai pedir investigações adicionais em vários Estados, com a instauração de outros inquéritos.
- Isso é gravíssimo. A caça é proibida e os contrabandistas usam os índios como caçadores, fornecedores primários. Os índios não caçam só para comer - disse Jorge Pontes.
Documentos apreendidos pela PF mostram que a unha de um tatu canastra vale R$ 5 nas aldeias. A presa de uma onça pintada vale R$ 9 e o bico de um tucano, R$ 4. Os contrabandistas compram ainda peles de mamíferos, penas de pássaros em extinção, chifres e carcaças de diversos tipos de animais.
A PF desmontou a rede de contrabando, na semana passada, com a ajuda da polícia federal americana, o FBI, que prendeu no fim do ano passado, em Miami, o contrabandista Milan Hrabovsky, de origem tcheca. Vários documentos foram apreendidos pelo FBI, inclusive cópias de remessas para os EUA de artesanato indígena da Artíndia, loja administrada pela própria Funai.
A gerente da Artíndia em Belém (PA), a servidora aposentada da Funai Liláz de Sousa Loureiro, disse à PF que enviou para o exterior garras de animais silvestres. O técnico indigenista da Funai em Marabá (PA), Felipe Marcelino Vilela foi preso sob a acusação de ter recebido depósitos de Hrabovsky na conta pessoal, em troca do envio de diversos itens de artesanato indígena. Servidora da Funai no Centro Cultural Indígena de Altamira (PA) Maria de Jesus Soares também foi presa, mas disse à PF que só fala em Juízo. Outra servidora da Funai presa foi a coordenadora de educação da Associação do Povo Indígena Zoró, no município de Ji-Paraná (RO), Lígia Neiva, que também vendeu peças a Milan Hrabovski.
Durante a operação, a PF apreendeu US$ 25 mil na Casa Monte Líbano, em São Félix do Araguaia (MT). O dono do comércio, Noel Rachid Silva, admitiu à PF que enviou diversas peças de artesanato indígena para Hrabovsky. Rachid lembrou que o próprio presidente Lula ''apareceu nos jornais'' com cocar de pena de arara-azul. O índio Missico Oiawei, de Belém (PA), também está sendo acusado de ter enviado contrabando para Hrabovsky.

JB, 18/05/2004, País, p. A6

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