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Agente do Ibama recebe proteção da Polícia Federal após nova ameaça

O Globo, Rio, p. 16
01 de Mar de 2005

Agente do Ibama recebe proteção da Polícia Federal após nova ameaça

Antônio Werneck e Taís Mendes

Ameaçado de morte desde o ano passado, o agente florestal do Ibama Márcio Castro das Mercês já está sob proteção da Polícia Federal. Márcio, que não queria segurança federal, foi convencido a aceitá-la e ontem dormiu na sede da PF em Nova Iguaçu. A decisão de requisitar proteção para o funcionário do Ibama foi do procurador Renato Silva de Oliveira, do Ministério Público federal, após ouvir relato do agente sobre uma nova tentativa de intimidação. O fiscal contou que, na noite de domingo, por volta de 23h, ouviu vários tiros bem próximos à sua casa, perto da Reserva Biológica do Tinguá, em Nova Iguaçu.
No depoimento que prestou ao delegado Marcelo Bertolucci, da 52 DP (Nova Iguaçu), Márcio contou ainda que vários homens armados e ocupando um Gol preto foram vistos domingo à tarde atirando (aparentemente para o alto) na Estrada Boa Esperança e em frente à sede de uma ONG, próximo à reserva. O caso aconteceu cinco dias após o assassinato do ambientalista Dionísio Júlio Ribeiro Filho, ocorrido perto da entrada da reserva.
- Não há dúvida de que existe um clima de ameaça aos funcionários do Ibama que trabalham na Reserva do Tinguá - disse o delegado Bertolucci
Chefe de reserva diz que Ibama não será intimidado
Márcio disse que, logo após os disparos, amigos bateram à sua porta. Eles também haviam escutado os disparos:
- Fomos até a beira do rio com lanternas, mas não encontramos ninguém. Estou muito confuso e deprimido com toda essa situação - desabafou Márcio, que atua na Reserva do Tinguá e também integra a ONG Grupo de Defesa da Natureza (GDN).
Segundo o chefe da Reserva Biológica do Tinguá, Luís Henrique Santos Teixeira, os disparos não vão intimidar o Ibama:
- Vamos continuar multando em caso de irregularidades. E agora com mais força, com apoio de mais policiais.
Dois ambientalistas do GDN já estão em Brasília para pedir ajuda ao Ministério da Justiça e ao Congresso. Eles levaram um dossiê sobre ameaças feitas a 11 pessoas, entre ambientalistas e funcionários do Ibama no Tinguá.
Desde ontem, a PF de Nova Iguaçu está investigando restaurantes e bares da região da Reserva do Tinguá suspeitos de vender carne de animais silvestres. Um dossiê encontrado na casa de Dionísio menciona bares que são abastecidos por caçadores. Segundo o chefe da reserva, ano passado fiscais do Ibama realizaram uma operação nos estabelecimentos, mas não conseguiram flagrar a venda ilegal de carne de caça:
- Alguém soube da operação e contou aos comerciantes. Por isso, não conseguimos apreender nada - lamentou Luís Henrique.
O caçador Leonardo Marques, que confessou ter matado Dionísio, permanece na carceragem da 52 DP. Segundo policiais, o assassino confesso está tranqüilo e só recebeu visita de um advogado.
Os disparos ocorridos na noite de domingo, na avaliação do deputado Carlos Minc (PT), reforçam a necessidade da formação de uma força-tarefa federal para combater crimes ambientais:
- Os tiros foram disparados atrás da casa de Márcio, que é ameaçado há anos. Temos que acelerar em Brasília a formação da força-tarefa, não só para atuar no Tinguá, mas em outras áreas onde há ameaças armadas contra ambientalistas.
O delegado Marcelo Bertolucci disse que hoje policiais irão a Tinguá para cumprir alguns mandados de busca. Ele suspeita que outras pessoas, além de Leonardo, estejam envolvidas no assassinato de Dionísio.

Saiba mais sobre o crime

O ambientalista Dionísio Júlio Ribeiro Júnior, de 61 anos, morreu no dia 22 de fevereiro com um tiro de espingarda calibre 28 na cabeça, numa emboscada a 200 metros da entrada da Reserva Biológica do Tinguá, que ele ajudou a criar em 1989, em Nova Iguaçu. Dionísio Júlio era militante da ONG Grupo de Defesa da Natureza e recebera ameaças de caçadores e extratores de palmito e de areia.
O crime passou a ser investigado pelas polícias Federal e Civil. Dois dias depois, a Polícia Civil prendeu dois suspeitos com base em informações passadas pelo Disque-Denúncia. Um deles, José Reis de Medeiros, de 40 anos, homicida condenado a 13 anos, se disse inocente. O outro, o caçador Leonardo de Carvalho Marques, de 21 anos, que disse ter matado o ambientalista porque ele denunciava constantemente ao Ibama a ação de caçadores na reserva.

O Globo, 01/03/2005, Rio, p. 16

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