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Afinal, o que é desmatamento?

OESP, Vida, p. A17
03 de Fev de 2008

Afinal, o que é desmatamento?
Divergência com Inpe parte do olhar: para Mato Grosso, mata queimada, mas em pé, deve ficar fora de estatística

Herton Escobar e José Maria Tomazela

O secretário de Meio Ambiente de Mato Grosso, Luiz Henrique Daldergan, aponta para uma área de mata queimada e diz: "Tá vendo aquela área ali? É fogo, mas eles contam como desmatamento. A floresta continua em pé."

A frase, dita à reportagem do Estado durante uma vistoria de campo, evidencia claramente uma das divergências sobre as estatísticas do desmatamento na Amazônia: o que os satélites identificam como área desmatada, o governo de Mato Grosso chama de floresta. Nesse caso, um pedaço de terra escurecida pelo fogo, com árvores - muitas mortas, algumas verdes - pontuando a paisagem de uma fazenda próxima a Marcelândia, município que registrou o maior desmatamento na Amazônia entre agosto e dezembro de 2007, no nordeste do Estado.

A forma mais óbvia de desmatamento é o chamado "corte raso", no qual a floresta literalmente desaparece para dar lugar a pastos ou plantações. Entre a floresta nativa e o corte raso, porém, há muitos estágios de degradação. Na matemática ambiental dos ecólogos, uma soma de troncos não equivale necessariamente a uma floresta.

Na matemática ótica dos satélites, também não. O sensor Modis, que gera imagens para os sistemas de monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), diferencia basicamente entre sinal espectral de floresta e sinal de solo. Numa floresta tropical intacta, o sinal de solo é zero, ou muito próximo de zero.

Pelo sistema do Imazon, quando o satélite detecta aumento de mais de 20% no sinal de solo, a área já é incluída num sistema de alerta de desmatamento. "O que tem de ser considerado é a perda de cobertura florestal original; não importa qual destino foi dado à terra, se virou pastagem ou não", diz o pesquisador Carlos Souza Jr.

No caso das queimadas, árvores podem continuar em pé, mas a estrutura ecológica da floresta pode já ter desmoronado por completo. O corte de madeiras nobres abre buracos no dossel, que permitem a entrada de luz, deixando a floresta mais seca e mais vulnerável ao fogo. O mesmo ocorre nas bordas de florestas vizinhas a áreas desmatadas. Pouco a pouco, a floresta vai definhando e morrendo.

Duas equipes do Estado com repórter e repórter-fotográfico percorreram durante uma semana lugares críticos nos Estados que lideram o ranking do desmatamento: Pará e Mato Grosso.

OESP, 03/02/2008, Vida, p. A17

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