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Advogado que relativizou crimes da ditadura volta ao governo de SP

FSP, Poder, p. A6
19 de Jul de 2016

Advogado que relativizou crimes da ditadura volta ao governo de SP

Ricardo Salles, do movimento Endireita Brasil, será secretário de Meio Ambiente de Geraldo Alckmin (PSDB)

Thais Bilenky

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) trouxe de volta à gestão o fundador do movimento Endireita Brasil, Ricardo Salles, 41, que diz ter sido "mal interpretado" ao questionar crimes cometidos por militares na ditadura.
Secretário particular de Alckmin entre 2013 e 2014, Salles foi empossado secretário de Meio Ambiente nesta segunda (18), após o seu partido, o PP, ter aderido à pré-candidatura de João Doria (PSDB) à Prefeitura de São Paulo.
Salles disse à reportagem que "nunca defendeu a ditadura", mas argumenta que, no Brasil, prevalece uma versão, a da esquerda. "Os militares fizeram coisa errada? Fizeram, não tenho dúvida. A guerrilha também fez", afirmou.
"Alguns fatos precisam ser imputados à direita e alguns à esquerda. Isso não anula o passado, mas esclarece o que hoje está meio esquisito, mal explicado", defendeu.
Ele citou o caso do soldado Mário Kozel Filho, morto em 1968. "Até hoje não sabem quem explodiu a bomba e ninguém investiga", diz.
Kozel morreu em um ataque de guerrilheiros da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) contra o quartel-general do 2o Exército, em SP.
Em 2013, em uma palestra no Clube Militar, no Rio, Salles defendeu que militares não deviam temer falar à Comissão da Verdade.
"Não vamos ver generais e coronéis, acima dos 80 anos, presos por causa dos crimes de 64. Se é que esses crimes ocorreram", disse, na ocasião.
À época, sua presença no lançamento da digitalização de fichas do Dops, central de repressão da ditadura, causou revolta. Marcelo Rubens Paiva, filho do deputado Rubens Paiva, torturado e morto pelo regime militar, exigiu retratação de Alckmin.
Para Salles, a aversão à ditadura provoca reações exageradas com quem se diz abertamente de direita, como é o seu caso. "Nunca neguei que houve tortura", afirmou na semana passada.
Ele se disse contra todo tipo de autoritarismo, mas, "entre uma ditadura de esquerda e uma de direita, foi melhor para o Brasil ter tido uma de direita", opinou.
"As ditaduras de esquerda, mundo afora, foram muito mais sanguinárias. É uma questão de matemática. Pega a Rússia com Stalin, Cuba com Fidel Castro", comparou.

MENOS EMBATES
Salles assumirá a pasta de Meio Ambiente com a intenção de aproximar ambientalistas e o setor produtivo.
O secretário quer evitar embates para proteger "o único setor da economia brasileira que vai bem", a agricultura.
Para isso, defende que o tombamento da serra da Mantiqueira seja feito criteriosamente e não totalmente, como pedem algumas associações. Também argumenta que é necessário levar em consideração características regionais na hora de delimitar a proteção de mata ciliar em propriedades privadas.
O Código Florestal determina que as áreas de proteção sejam calculadas com base no tamanho do corpo d'água, mas ele disse que, em algumas propriedades, isso inviabiliza a produção.
O novo secretário, que já foi filiado ao PSDB e ao Democratas, manteve críticas ao Movimento dos Sem Terra, que, na sua visão, "não tem mais razão de existir".

FSP, 19/07/2016, Poder, p. A6

http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/07/1793024-advogado-que-relativ…

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