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Acusados de matar irmã Dorothy vão a júri no sábado

OESP, Nacional, p. A21
04 de Dez de 2005

Acusados de matar irmã Dorothy vão a júri no sábado
Julgamento dos pistoleiros que assassinaram freira de 73 anos no Pará atrai até a representante dos direitos humanos da ONU

Carlos Mendes
Especial para o Estado

Os pistoleiros Rayfran das Neves Sales, o Fogoió, e Clodoaldo Carlos Batista, o Eduardo, acusados pelo assassinato da missionária americana Dorothy Stang, sentarão no banco dos réus no próximo fim de semana, em Belém. O assassinato da religiosa de 73 anos, ocorrido em 12 de fevereiro, em Anapu, sudoeste do Pará, chocou o mundo. O julgamento será acompanhado por ativistas de direitos humanos do Brasil e do exterior, por parentes da freira e pela representante especial para defensores dos direitos humanos da ONU, Hina Jilani.
A paquistanesa Jilani confirmou a sua presença anteontem, em contato com dirigentes da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos e da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Pará. Jilani atuará no júri popular, como observadora internacional.
Para Meire Cohen, presidente da comissão, foi um dos crimes mais bárbaros já praticados no País contra alguém que defendia a reforma agrária e o desenvolvimento sustentado da floresta amazônica. "Foi um crime contra a humanidade."
Dorothy, freira naturalizada brasileira, foi atingida pelas costas, com quatro tiros disparados por Fogoió. Caminhava na mata, rumo ao Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS), que idealizou em Anapu, quando foi abordada. Parou, conversou, leu um trecho da Bíblia para os pistoleiros. Em seguida, foi fuzilada. Alguns lavradores que acompanhavam a freira fugiram ao ouvir os tiros.
Fogoió e Eduardo, réus confessos, estão presos na penitenciária Fernando Guilhon, a 45 quilômetros de Belém. Foram denunciados pelo Ministério Público por homicídio triplamente qualificado e serão os primeiros a ir a júri popular. Se condenados, os pistoleiros poderão pegar entre 45 e 60 anos de prisão. Eles contaram que o crime teria custado R$ 50 mil, mas não receberam o dinheiro.
FAZENDEIRO
Serão julgados no ano que vem os últimos três réus - os fazendeiros Vitalmiro Bastos Moura, o Bida, e Regivaldo Pereira Galvão, o Taradão, acusados de encomendar o crime, e Amair Feijoli da Cunha, o Tato, apontado como intermediário.
Eles aguardam o julgamento de recursos que tramitam no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e Supremo Tribunal Federal (STF) contra decisão da Justiça paraense de mandá-los a júri popular.
Enquanto isso, os advogados dos pistoleiros apostam numa versão diferente para tentar livrar os acusados. Pretendem defender no julgamento a tese de que foi a própria irmã Dorothy quem provocou sua morte.
Segundo eles, a missionária americana seria inimiga declarada de fazendeiros, grileiros de terras e madeireiros da região e com isso teria atraído o ódio de todos. A tese será reforçada com antecedentes criminais da religiosa.
'CUMPLICIDADE '
Meses antes de morrer, a missionária denunciou o que chamava de cumplicidade da polícia de Anapu e Altamira com os grandes latifundiários dos arredores da Rodovia Transamazônica. E o exemplo que sempre apontava era um inquérito policial em que foi indiciada por homicídio, formação de quadrilha ou bando, porte ilegal de arma e alteração de limites.
O homicídio foi resultado de confronto entre posseiros de Anapu e seguranças de uma fazenda, no final de 2003. Um segurança morreu e dois saíram feridos. A freira disse que não estava no local do crime e alegou ter sido indiciada por orientação dos fazendeiros. Segundo a polícia, Dorothy costumava ir à cadeia de Anapu levar comida para os acusados.

OESP, 04/12/2005, Nacional, p. A21

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