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Acusado de mandar matar Dorothy, Bida se entrega

FSP, Brasil, p. A4
28 de Mar de 2005

Acusado de mandar matar Dorothy, Bida se entrega

Jaqueline Almeida
Colaboração para a agência Folha, em Belém

O fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, 34, acusado de ser o mandante do assassinato da missionária norte-americana naturalizada brasileira Dorothy Stang, 73, entregou-se na manhã de ontem à Polícia Federal, na região de Altamira, a 140 km de Anapu, onde ocorreu o crime. O fazendeiro estava com a prisão preventiva decretada desde o dia 13 de fevereiro, um dia depois da morte da missionária.
Bida foi levado de Altamira para Belém, onde chegou às 15h, algemado, sob forte esquema de segurança, em um avião da Força Aérea Brasileira.
Em depoimento à Policia Federal, que durou cerca de seis horas, ele negou envolvimento na morte de Dorothy. "Não fui eu, não fui eu, sou inocente. Eu a vi uma vez na minha vida e na vida dela também. Uma vez só, e não tinha interesse em matar ela, não", disse.
O fazendeiro afirmou em entrevista que ficou em Altamira durante todo o tempo em que estava foragido e que chegou a cruzar com a polícia algumas vezes. Ele ficou hospedado na casa de amigos, um deles o fazendeiro Délio Fernandes, um dos maiores proprietários de terras da região.
Bida disse ainda que era amigo de Amair Feijoli da Cunha, o Tato -apontado como intermediário do crime-, e que os supostos autores dos disparos que mataram a missionária passaram pôr sua fazenda após o crime. "Eu fiquei sabendo que eles estavam por lá, mas não soube que eles ficaram dois dias escondidos", afirmou.
O delegado da PF que preside o inquérito, Ualame Machado, disse que Bida deu nomes de fazendeiros que poderiam ter interesse em assassinar a freira. O delegado não quis revelar os nomes.
Negociação
A apresentação de Bida vinha sendo negociada, em sigilo, havia três semanas, diretamente com a PF e com membros da comissão externa do Senado formada para acompanhar o caso.
Os senadores Ana Júlia (PT-PA), presidente da comissão, e Eduardo Suplicy (PT-SP) foram os responsáveis na comissão pelas negociações. Os interlocutores do fazendeiro foram seu advogado Augusto Septímio e seu irmão, Waldir José de Moura, que revelou o local onde o acusado estava escondido e se entregaria.
Segundo Ana Júlia, Bida disse, ao se apresentar, que se entregava para provar sua inocência.
O delegado da PF Anderson Souza D'áurea disse que, para se entregar, Bida exigiu o afastamento de representantes do governo do Pará. Exigiu ainda ficar preso na carceragem da PF em Belém, não no presídio de Americano 3, onde estão os demais acusados. Bida se entregou em um bar à beira de uma estrada vicinal, em um área de mata fechada, a 100 km da Altamira. O acesso ao local só é possível de helicóptero.
Segundo Ana Júlia, a confirmação de que o fazendeiro se apresentaria só ocorreu na madrugada de sábado para domingo. "Ele saiu de uma estrada vicinal próxima de um campo de futebol onde pousou o helicóptero", afirmou.
D'áurea afirmou que a PF aceitou as exigências de Bida porque ele tem "informações importantes" que poderão elucidar o crime. Segundo ele, Bida terá que explicar o bilhete escrito por ele e entregue a Tato com os nomes de dois fazendeiros da região de Altamira, que já são investigados pela CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito), que investiga grilagem de terras no Pará.
Para o delegado Machado, o fazendeiro precisa explicar também o fato de ser o suposto proprietário do revólver usado no crime.
Nesta semana, deve ocorrer acareação entre Bida e os demais acusados -Rayfran das Neves Sales, o Fogoió, Clodoaldo Carlos Batista, o Eduardo, e Tato. Eles chegaram a negar o envolvimento de Bida no caso, mas voltaram atrás.
Colaborou Sílvia Freire, da Agência Folha

FSP, 28/03/2005, Brasil, p. A4

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