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Acredite, a Rio+20 foi um sucesso

O Globo, Especial, p. 7
Autor: VIEIRA, Agostinho
23 de Jun de 2012

Acredite, a Rio+20 foi um sucesso
A implantação de um novo modelo econômico, mais sustentável, não é uma tarefa exclusiva dos chefes de Estado ou da ONU. Se fosse, nós estaríamos perdidos

Agostinho Vieira

É claro que sempre pode ser melhor. Tudo depende do nível de exigência, e o meu não era baixo. Mas confesso que, de um modo geral, a Rio+20 superou as minhas expectativas. Obviamente, não estou falando do sarau diplomático que se instalou no Riocentro, onde uns fingiam sugerir mudanças e outros faziam de conta que aprovavam. Até porque, a expectativa neste caso estava perto de zero. Falo do maior evento socioambiental já realizado no planeta e que tomou conta da cidade nos últimos dez dias. Nenhum de nós sairá incólume dessa experiência.
O momento agora é de cada um assumir suas responsabilidades, comuns, porém diferenciadas. As da presidente Dilma e seus ministros são maiores que as do governador que, por sua vez, são grandes como as do prefeito. Empresários e cientistas têm um papel mais importante a desempenhar do que o cidadão comum. Mas estamos todos no mesmo barco. A implantação de um novo modelo econômico, mais sustentável, não é uma tarefa exclusiva dos chefes de estado ou da ONU. Se fosse, estaríamos perdidos. Não é uma onda que vai passar. Trata-se da praia onde vivemos.
É verdade que a fantasia de líder sustentável não cai bem na presidente. Aperta, incomoda, pinica. Basta olhar as fotos dela nos eventos. Mas está em suas mãos o investimento em renováveis, a redução das emissões, a preservação das florestas, a política de resíduos sólidos, o fim da pobreza, a exploração consciente da biodiversidade. Cabe a nós cobrar que aconteçam. Aliás, temas que não poderão mais ficar de fora de qualquer campanha eleitoral, em qualquer nível, nos próximos anos.
O prefeito Eduardo Paes sai da conferência maior do que entrou. Foi um dos poucos a apresentar metas claras de redução de emissões, política de transportes e ações de reflorestamento. Medidas que vêm embrulhadas por interesses políticos, mas que são legítimos. Mais uma vez, cabe a nós fiscalizar.
Já o governador não foi visto na Rio+20. Não me lembro de foto ou declaração de Sérgio Cabral. A área ambiental do seu governo ia divulgar metas de redução de CO2 para as empresas do Rio. Tudo pronto e combinado com as partes. Mas ele vetou. Ficou com medo de afugentar novos investimentos. Mas até isso dá para comemorar. As metas existem e, mais cedo ou mais tarde, precisam ser implantadas.
Os empresários, grandes, pequenos e médios, foram responsáveis por boa parte da movimentação na cidade. Mostraram o que vêm fazendo e, principalmente, o que sonham fazer. Faltou ousadia nos compromissos e faltaram metas claras. Mas mesmo quem anda só fazendo marketing ou não faz nem isso, viu que numa economia verde também é possível ganhar dinheiro e reduzir custos. Não faltaram bons exemplos, de todo o mundo. Perder o bonde da sustentabilidade pode ser um risco muito grande.
Mas as imagens mais bonitas da conferência vieram dos estudantes que faziam fila e ocupavam espaços no Forte de Copacabana, na Praça Mauá, no Parque dos Atletas e no Aterro. Todos interessados, participando. Esse é um investimento inestimável. Se os temas que fizeram parte da Rio+20 não aparecerem no dever de casa do seu filho, reclame com o diretor. Podem ser vistos em ciências, história, geografia e até matemática. Se não funcionar, mude de colégio. Estes jovens serão os chefes de estado, prefeitos e cientistas da Rio+40. Aí, a conversa terá um outro nível.

Agostinho Vieira é jornalista e titular do Blog e da Coluna Economia Verde do Globo

O Globo, 23/06/2012, Especial, p. 7

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