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Achados indígenas em Goiana

JORNAL DO COMMERCIO
14 de Out de 2007

Vestígios de aldeias indígenas histórica e pré-histórica foram encontrados por arqueólogos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) nas terras do Engenho Umbu, entre os municípios de Igarassu e Goiana, no Litoral Norte do Estado.
Os pesquisadores resgataram cerca de três mil fragmentos de cerâmica e material lítico (pedra) da área onde será implantado um aterro sanitário e no entorno do futuro empreendimento. Todas as peças estão sendo analisadas em laboratório, na UFPE, localizada na Zona Oeste do Recife. Um dos achados chamou a atenção da equipe pela forma como estava disposto: pedaços de cerâmica, carvão e material lítico do período pré-histórico enterrados numa cova com dois metros de profundidade e 50 centímetros de diâmetro. "Localizamos a cova no entorno do futuro aterro. Tudo indica
que tenha sido uma ação intencional do grupo indígena, porque o buraco estava bem delimitado, mas ainda não sabemos explicar as razões", diz a arqueóloga da UFPE Cláudia Oliveira. Ela coordena os trabalhos com as pesquisadoras Viviane Castro, Vera Menelau e Vívian Carla Sena.

O grupo recolheu, no mês passado, cacos de tigela, panela, pratos rasos (assadores) e fuso, instrumento roliço usado para fiar, em mil metros quadrados de área. Na universidade, o material está sendo analisado, catalogado e quantificado. "Também estamos caracterizando a tecnologia usada na cerâmica", diz Cláudia Oliveira. A datação do carvão será feita com o teste do carbono-14. O exame determina a idade pela quantidade de carbono-14 ainda presente no fragmento, que diminui com o passar do tempo. Para a cerâmica, os arqueólogos empregarão a técnica da termoluminescência, que indica o tempo transcorrido desde a última vez em que a amostra sofreu aquecimento. Com a datação é possível determinar com precisão se a ocupação era da época em que os índios tiveram contato com os portugueses ou se é mais antiga.

Na avaliação de Cláudia Oliveira, os achados são importantes porque ajudarão a explicar com mais clareza o
processo de povoamento no Nordeste brasileiro. "Com o estudo do material, tentaremos identificar o comportamento dos índios nesta região. É um resgate da pré-história e da colonização portuguesa no Litoral Norte de Pernambuco. Isso completa o mapa da ocupação indígena no local", diz. Até então, o arqueólogo Marcos Albuquerque havia
localizado a Feitoria de Cristóvão Jaques, de 1516, na região, diz ela. "Agora, temos mais peças para compor o mapa."

As pesquisadoras descobriram três ocorrências na Usina São José, exatamente na área do aterro e outras sete no entorno, batizadas de aldeias indígenas Mereré I e II e Arataca I e II, em referência ao Rio Arataca, que divide
Igarassu de Goiana. A cova fica em Arataca I. "São várias concentrações, que poderão indicar como eram as antigas aldeias", reforça. A pesquisa arqueológica é financiada pela empresa Serquip, responsável pelo aterro sanitário. O diagnóstico compõe o Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (Eia-Rima) do empreendimento.

O trecho do estudo está inserido no programa de Prospecção Arqueológica da Sesmaria Jaguaribe, núcleo de povoamento do século 16, situado nos atuais municípios de Paulista, Abreu e Lima e Igarassu.

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