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Autor: Andrezza Trajano
04 de Nov de 2011
Treze garimpeiros foram retirados da terra Yanomami pelo Exército Brasileiro, Polícia Federal (PF) e Fundação Nacional do Índio (Funai), desde o início da operação Baixo Rio Branco, deflagrada na segunda-feira passada, 31, para acabar com a extração irregular de minérios na reserva.
Somados, os prejuízos dos garimpeiros com a destruição de maquinários ultrapassam R$ 1 milhão, segundo levantamento das forças federais. Seis balsas foram afundadas e mais de 500 itens usados na exploração, como motores, bombas de sucção e geradores de energia, foram detonados com a utilização de explosivos. Onze garimpos foram desativados.
A convite da Funai, a Folha esteve ontem no 4o Pelotão Especial de Fronteira do Exército, em Surucucu, na área Yanomami, onde está funcionando a base da operação. Lá foi divulgado o primeiro balanço das atividades.
Sete garimpeiros, sendo seis homens e uma mulher, foram trazidos nessa quinta-feira para Boa Vista. Eles prestaram depoimento na Polícia Federal, fizeram exame de corpo de delito e depois foram liberados para responder ao processo em liberdade. Os outros seis, sendo cinco homens e uma mulher, aguardam remoção para a capital. Todos, conforme o coronel José Arnon Guerra, comandante da operação, foram detidos pela primeira vez.
Com os garimpeiros, não foi encontrada nenhuma porção de ouro ou outros metais, nem armas de uso restrito. Apenas uma arma de caça e uma pequena porção de mercúrio, usada na extração do minério.
O planejamento da operação iniciou em maio, com os trabalhos de inteligência. Foram mapeados 21 pontos de garimpo dentro da reserva. Quase todos têm acesso por pistas clandestinas ou pelos rios Mucajaí e Couto Magalhães. Neste último foi encontrada a maior quantidade de balsas. A maioria está localizada na região do Paapiú. Lá, foram identificados pelo menos oito garimpos.
Cento e cinquenta agentes federais vasculham a região. Nas atividades são realizadas ações táticas com patrulhas a pé, aeromóveis e fluviais. Dois helicópteros do 4o Batalhão de Aviação do Exército, sediado em Manaus (AM), uma aeronave C-98 da PF e embarcações da Funai são empregadas na operação.
Não há data exata para o fim da fiscalização, que conta com mais de 800 homens, entre militares, policiais federais e servidores da Funai. Contudo, a operação não se restringe à exploração irregular de minérios. Os dois mil km de faixa de fronteira com a Venezuela e a Guiana são fiscalizados, para reprimir o tráfico de drogas, crimes ambientais e ao contrabando e descaminho de mercadorias. A Força Aérea Brasileira, Polícia Rodoviária Federal, o ICMBio e o Ibama prestam apoio.
Apesar de toda a preparação da operação Baixo Rio Branco, os garimpos estão sendo encontrados vazios. Os garimpeiros fugiram na mata. As autoridades acreditam que a discussão acalorada sobre o tema, que ganhou destaque nas últimas semanas, possa ter alertado os garimpeiros. Nenhum deles foi encontrado trabalhando, todos estavam escondidos na mata.
Escondidos também estavam muitos dos itens utilizados na garimpagem. Os garimpeiros enterraram motores e diversos equipamentos, na tentativa de despistar os policiais. Até gêneros alimentícios, totalizando uma tonelada de produtos apreendidos, estavam debaixo da terra. Os alimentos próprios para o consumo foram doados aos indígenas. Os inservíveis, assim como os equipamentos, foram destruídos.
O coronel José Arnon Guerra destaca que não houve resistência no momento da detenção dos garimpeiros. Inclusive, ele ressalta que a "rendição é muito importante". "Aqui conosco eles estão em segurança e recebem atendimento médico. No meio da floresta, sozinhos, a situação é diferente, principalmente porque os indígenas não os querem aqui", pontuou. Um garimpeiro que passou mal recebeu atendimento médico no pelotão antes de ser enviado para Boa Vista.
COMUNICAÇÃO - A expectativa, reforça Guerra, é que com a continuidade da operação todos os garimpos sejam desativados. Os agentes federais encontraram até uma central de comunicação clandestina no meio da floresta, que foi desativada. Um rádio principal repassava para os radiocomunicadores que estavam em poder dos garimpeiros informações diversas sobre a atividade de exploração, incluindo a presença de policiais.
Neste momento as pistas de pouso não serão destruídas, até porque elas são facilmente recuperadas pelos garimpeiros. A Funai estuda meios de administrá-las, com o apoio do Exército Brasileiro.
Uma delas é a Serra da Estrutura, conhecida como "pista do Botinha". Bastante frequentada pelos garimpeiros, ela foi ocupada pelo Exército e será repassada à Funai, que montará uma base de vigilância no local.
"Estamos retomando as pistas que estavam sendo usadas pelo garimpo. Faremos junto À Frente de Proteção e Etnodesenvolvimento Yanomami e Ye'kuana um trabalho continuado de vigilância", explicou André Vasconcelos, administrador regional da Funai. Já existe uma base instalada na região do Janari e outras nas calhas dos rios.
Vasconcelos avalia a operação como "complexa e importante". "Não estamos conseguindo pegar muitos garimpeiros, porém o prejuízo que está sendo causado à atividade deles é o foco da operação", disse.
ÍNDIOS - Os índios Yanomami têm sido fundamentais para a operação. Eles informam aos militares sobre a existência de garimpos ou de garimpeiros. José Batista Catalano, coordenador da Frente de Proteção e Etnodesenvolvimento Yanomami e Ye'kuana da Funai, esclarece que essa articulação com eles é importante para o sucesso da missão.
"Essa ação era uma reivindicação antiga dos indígenas. Não podemos pensar em projetos de etnodesenvolvimento sustentável enquanto não resolver esse problema, que traz muitas consequências sociais, como doenças e degradação ao meio ambiente. A área Yanomami, por exemplo, é campeã em índices de mortalidade infantil, uma consequência direta dos garimpos", afirmou.
A comunicação entre os índios e integrantes da operação Baixo Rio Branco é feita também por meio do cabo Xaporita Yanomami, um indígena que ingressou nas Forças Armadas. "Eu ajudo a encontrar os garimpeiros. Os índios me contam onde eles estão e eu repasso a informação para o comando da operação", relatou Xaporita.
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