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Ação na fronteira flagra até tráfico de barbatanas

OESP, Metrópole, p. C5
26 de Ago de 2012

Ação na fronteira flagra até tráfico de barbatanas
Partes de tubarões passam pelo Brasil no caminho para a China; armas de chumbinho e explosivos também são contrabandeados

LISANDRA PARAGUASSU
BRASÍLIA

Nos 16,8 mil quilômetros de fronteiras do Brasil passa de tudo. Desde o ano passado, quando foram iniciadas as operações Ágata, uma ação conjunta de 25 agências do governo brasileiro e das Forças Armadas, descobriu-se que os crimes nas terras limítrofes do País vão muito além do tráfico de drogas, armas e contrabando de carros. Passam também explosivos, remédios, armas de chumbinho e até barbatanas de tubarão.
Na edição mais recente da operação (Ágata 5), encerrada na última semana, foram apreendidas quase 12 toneladas de explosivos na fronteira entre o Mato Grosso do Sul e o Paraguai. A mercadoria vai parar nas mãos de criminosos para explodir caixas eletrônicos no Sul e Sudeste.
Do Uruguai vem uma quantidade considerável de armas de chumbinho. Usadas normalmente para caçar passarinhos e pequenos animais e aparentemente inofensivas, as armas intrigaram os agentes de inteligência. Até que se descobriu que, após serem adulteradas, eram usadas em assaltos.
No Sul, há muito tráfico de maconha e contrabando de eletrônicos, brinquedos, agrotóxicos, pneus e medicamentos. É comum a apreensão de Cialis e Viagra, medicamentos contra disfunção erétil. Também é frequente o contrabando de cigarros falsos do Paraguai.
Um pouco mais para cima, a partir da fronteira com a Bolívia, aumenta o tráfico de cocaína e o contrabando de carros roubados. O tráfico de armas e madeira ilegal é maior nas fronteiras com Venezuela e Colômbia. Durante as operações, dez pistas de pouso dentro de reservas e terras indígenas foram destruídas.
Nas fronteiras com as Guianas e o Suriname, o maior problema é o garimpo ilegal de ouro. "Esse é um crime complicado de combater. Quando tem operação desse lado eles fogem para a Guiana. Quando tem lá, eles fogem para cá", explicou o chefe de Operações Conjuntas do Ministério da Defesa, tenente-brigadeiro Ricardo Machado.
Foi nessa região que a Abin detectou outro crime em alta, o contrabando de barbatanas de tubarão para a China, que saem do Brasil pelo porto de Belém. Considerada uma iguaria no país asiático, as barbatanas são parte de um comércio não apenas ilegal, mas destrutivo. Para retirar as barbatanas, os pescadores jogam fora todo o animal.
Força-tarefa. Iniciadas no ano passado, as operações Ágata envolvem, em média, 9 mil homens das Forças Armadas, além de representantes de 12 ministérios e 25 agências - entre elas, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e a Polícia Federal. "Quando começamos eram apenas os Ministérios da Defesa e Justiça, mas foram percebendo a necessidade de agregar os outros setores", explicou o brigadeiro Machado.
As operações começam muito antes da chegada das Forças Armadas. Dois meses antes, Abin e Polícia Federal começam suas investigações. E, com a movimentação nas fronteiras, outra operação, a Sentinela, da Polícia Federal, é indiretamente beneficiada. Após a saída dos militares, os traficantes acham que estão seguros e voltam a agir às claras, prontos para os flagrantes da PF.

Abin acha antenas de celular na Amazônia
Equipamento instalado para comunicação entre traficantes na mata fica na Bolívia; informado, país não faz nada

No fim de 2011, quando preparava o trabalho de investigação prévia para a Operação Ágata 3 entre Mato Grosso e Rondônia, um agente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) se deparou com uma cena estranha no meio da Floresta Amazônica: a pelo menos 100 quilômetros de qualquer cidade, três antenas de celular despontavam vários metros acima das copas das árvores.
As antenas estavam em território boliviano, o que impediu o governo brasileiro de investigá-las mais profundamente. O levantamento feito pela Abin revelou que o equipamento é usado por traficantes de drogas que transitam na região para se comunicar em ligações por celular.
As antenas captam sinais de companhias telefônicas bolivianas, o que impede o governo brasileiro de interceptar as ligações.
A Bolívia foi informada sobre a descoberta, mas até agora não houve qualquer ação do outro lado da fronteira. Apesar de serem comunicados sobre o trabalho do Brasil nas fronteiras e das tentativas de uma cooperação para que ações dos vizinhos sejam feitas de forma integrada, até agora só Colômbia mostrou interesse em trabalho conjunto.
Os números de apreensões feitas pelas operações brasileiras são consideráveis: R$ 40 mil em notas falsas, 500 litros de agrotóxico ilegal, 148 veículos contrabandeados e 6 mil quilos de droga só na Ágata 5. Mas o próprio chefe de Operações Conjuntas, tenente-brigadeiro Ricardo Machado, admite que isso é apenas uma ponta da montanha que passa nas fronteiras brasileiras todos os dias. "O que pegamos ali é apenas algum desavisado. É muito difícil uma operação dessa magnitude chegar despercebida. Mas o que precisamos fazer é levar a presença do Estado. Mostrar que essas regiões não estão desassistidas." / L.P.

OESP, 26/08/2012, Metrópole, p. C5

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