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Ação flagra trabalhadores em "situação degradante"

FSP, Brasil, p. A10
03 de Jul de 2007

Ação flagra trabalhadores em "situação degradante"
Fiscalização diz que 1.108 cortadores de cana eram explorados em fazenda do PA
Área pertence à empresa Pagrisa, que nega ter cometido crime e diz que ainda não sabe quais as irregularidades apontadas

Sílvia Freire
Da agência Folha

A fiscalização do Ministério do Trabalho flagrou 1.108 cortadores de cana-de-açúcar submetidos a condições degradantes de trabalho numa propriedade da empresa Pagrisa (Pará Pastoril e Agrícola S.A.), em Ulianópolis (417 km de Belém).
Segundo a PGT (Procuradoria Geral do Trabalho), foi o maior resgate já realizado pela fiscalização do Grupo Móvel de Combate ao Trabalho Escravo, formado por fiscais do ministério e agentes da Polícia Federal, acompanhados de procuradores do Trabalho.
Até então, o maior flagrante de trabalho degradante feito pela fiscalização do grupo havia ocorrido em junho de 2005, na destilaria Gameleira, em Confresa (MT), quando 1.003 trabalhadores foram libertados.
Segundo o coordenador do grupo móvel que fiscalizou a Pagrisa, Humberto Célio Pereira, os trabalhadores estavam alojados em quartos apertados e malcheirosos, nos quais se "amontoavam um sobre os outros". A fiscalização encontrou esgoto sendo despejado na represa usada pelos trabalhadores para lavar roupa e tomar banho, falta de banheiros e de espaço adequado para alimentação nos locais de trabalho.
Os empregados relataram que a comida fornecida pelo empregador era azeda e vários trabalhadores estavam doentes, com náuseas e disenteria.
A fiscalização encontrou casos de trabalhadores que recebiam menos de R$ 10 de salário por mês devido a descontos indevidos de alimentação e remédios. "Eles ficavam sem condições de sair do local por causa das dívidas e porque não tinham dinheiro. A maioria veio do Maranhão e do Piauí e estava numa situação muito degradante", disse Pereira.
Segundo depoimento dos trabalhadores aos fiscais, os recrutamentos começaram há cerca de seis meses.
O pagamento das verbas rescisórias e dos salários integrais aos trabalhadores libertados deve começar amanhã. Segundo a assessoria da PGT, o procurador do Trabalho Luís Antônio Fernandes, que acompanha a fiscalização, estima que a empresa deverá desembolsar R$ 1,8 milhão em verbas rescisórias aos funcionários que quiserem deixar a fazenda.
Os responsáveis pela empresa poderão ainda responder a uma ação por dano moral coletivo na Justiça do Trabalho.
O diretor-adjunto da Pagrisa, Fernão Zancaner, disse que a empresa ainda não foi autuada sobre eventuais irregularidades trabalhistas. Segundo ele, a empresa passa regularmente por fiscalizações do trabalho e nunca havia tido problemas.
A Pagrisa é a maior produtora de álcool do Pará, onde está instalada desde 1967.

Empresa afirma que funcionários são registrados

Da agência Folha

O diretor-adjunto da Pagrisa (Pará Pastoril e Agrícola S.A.), Fernão Zancaner, disse ontem que a acusação de que a empresa submete os seus trabalhadores a condições degradantes não será confirmada ao final do processo de fiscalização.
De acordo com ele, todos os funcionários da empresa são registrados, entre eles os trabalhadores contratados temporariamente para o corte da cana.
Zancaner disse também que a empresa ainda não sabe quais as irregularidades foram identificadas pelos fiscais do Grupo Móvel de Combate ao Trabalho Escravo, pois ainda não foi autuada. O grupo é formado por fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego e agentes da Polícia Federal, acompanhados de procuradores do Trabalho.
Ele disse, no entanto, que os fiscais identificaram que o alojamento do cortadores de cana estava superlotado, pois o espaçamento entre as camas era menor do que o recomendado.
Segundo Zancaner, a Pagrisa passa por fiscalizações regulares dos fiscais do trabalho e, quando eventualmente é identificado algum problema, a empresa é notificada para resolvê-lo -o que costuma acontecer, segundo o diretor.
"Dessa vez me causou estranheza porque não há diálogo [com os fiscais]", disse Zancaner.
Segundo o diretor da empresa, a Pagrisa tem sede no Pará e um escritório de apoio em Catanduva (SP) e é controlada por uma holding que pertence à família Zancaner.

FSP, 03/07/2007, Brasil, p. A10

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