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Aberta nova frente de exploração em Coari

A Crítica, Especial, p. E1-E16
19 de Abr de 2005

Aberta nova frente de exploração em Coari
Energia: Petrobras procura petróleo e acelera obras do gasoduto na floresta Amazônica

Engenheiros e Engenheiros geólogos Petrobras estão otimistas e acreditam na possibilidade de encontrar petróleo e gás, em uma nova frente distante 90 quilômetros à leste da província petrolífera do rio Urucu no município Coari, na bacia do Solimões. A sonda que explorará as prováveis reservas atuará no bloco BTSOL 1, entre os rios Urucu e Juma.
As perfurações começam em julho. A meta, no médio prazo, é superar 100 mil barris/dia e ocupar o primeiro lugar na produção nacional terrestre superando o Rio Grande do Norte. Atualmente, o Amazonas produz 60 mil barris/dia. No mesmo período, a empresa inicia uma das fases mais importantes do gasoduto Urucu-CoariManaus, que é a instalação dos tubos que transportarão a matéria-prima que mudará a matriz energética do Estado. As tubulações estão chegando.
0 presidente da estatal, José Eduardo Dutra, é um dos principais incentivadores desse novo momento da empresa na região amazônica. "A província petrolífera de Urucu é motivo de grande orgulho para a Petrobras e para o país. 0 trabalho realizado pela companhia na região é um exemplo da capacidade da Petrobras e dos brasileiros de desenvolver projetos de exploração de óleo e gás com total respeito ao meio ambiente, num santuário ecológico como a Amazônia, e com excelência mundialmente reconhecida. A construção do gasoduto será de grande importância para a matriz energética brasileira, levando a principal riqueza de Urucu, o gás natural, até grandes centros das regiões Norte e Nordeste.
Social
Mas de nada valeria essas boas noticias de natureza econômica, estratégica e de soberania nacional, se a população não estivesse se beneficiando socialmente. Nesta direção, mostramos como vivem milhares de pessoas nos sete municípios por onde passará a mega obra de engenharia de gás, e de como suas vidas podem mudar através das ações do Programa de Compensações Ambientais e Desenvolvimento Sustentável das Comunidades da Área de Influência do Gasosuto (PDSG).
Pioneiors
Tudo isso acontece quando se registra os 50 anos da descoberta de petróleo no Amazonas, que foi em março de 1955, em Nova Olinda do Norte, na calha do rio Madeira. Fomos a esta cidade e conversamos com vários pioneiros que lutam para serem indenizados pela União, via Anistia, por entenderem que foram prejudicados pelo governo militar nos anos 60. Eles são os órfãos do desenvolvimento e do petróleo.
Progresso
Como um dos principais agentes do progresso da região amazônica, percebemos a preparação da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) para esse importante passo na história da economia regional, como diz a superintendente Flávia Grosso: " 0 gasoduto é uma das ações desenvolvidas para enfrentar os gargalos econômicos e estimular o crescimento da região, a partir da oferta de energia barata e limpa".

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Pólo petroquímico
Flávia Grosso destaca que a Suframa participa também do processo ao "fomentar a realização de um estudo de viabilidade econômica para a implantação de um pólo petroquímico' A Petrobras desenvolve trabalhos em conjunto com profissionais da superintendência para viabilizar o setor emergente.

Fieam e Basa apóiam nova matriz
Igualmente atento ao cenário que se inicia com o gás e a expansão de uma nova frente petrolífera, o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), José Nasser, lembra que tudo começou com a visão e a ousadia empresarial de Isaac Sabbá. "Ele teve a coragem de construir uma refinaria de petróleo em uma época que Manaus consumia 500 barris/dia. 0 gás terá a mesma força e quem sabe até mais que o ciclo da borracha". A Reman iniciou suas operações em setembro de 1956, na época chamava-se Companhia de Petróleo da Amazônia (Copam). Nasser observa que haverá uma redução considerável do custo Amazonas em toda a cadeia produtiva do Pólo Industrial de Manaus.
0 Banco da Amazônia (Basa), por sua vez, ampliará as suas linhas de crédito para financiaras adaptações industriais necessárias à nova matriz energética. 0 gerente regional do Basa, Sebastião Heidemann, disse que haverá capital disponível para esta finalidade. "Estamos nos preparando para apoiar os empresários nesta nova fase do desenvolvimento econômico da região".

Reservas de petróleo e gás
Negócios: Agência Nacional de Petróleo vai licitar em outubro novas áreas para a prospecção e exploração na bacia do rio Solimões. Petrobras, que conhece a região, deve enfrentar concorrência internacional
A Agência Nacional de ' .' Petróleo (ANP) realizará em outubro a 7a licitação para novas áreas de exploração petrolífera na região Amazônica. 1$do indica que serão oferecidos blocos na bacia do rio Solimões, onde a estatal brasileira está avançada nas pesquisas geológicas, o que a habilita a concorrer com boas possibilidades de venceras empresas internacionais interessadas em fazer prospecção na região.
Por várias razões, o interesse do mercado está concentrado na bacia do Solimões, especialmente pela existência de gás nas proximidades do rio Juruá, em Carauari (a 702 quilômetros de Manaus) e Tefé (a 525 quilômetros). Concessões estas que pertencem a Petrobras. É nesta bacia que se localiza também a província petrolífera de Urucu, a mais importante reserva comercial da Amazônia Ocidental.
0 secretário de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas, Virgilio Viana, enviou, no começo de março para a ANP, o mapa ambiental das áreas no Estado em que pode haver prospecção de petróleo sem que ocorra grandes impactos à natureza.
Ele disse que trabalha em parceria com a ANP, mas as autorizações finais para exploração de petróleo, no que diz respeito ao meio ambiente, têm que ser aprovadas pela SDS. "Mapeamos todo o Amazonas, mas a bacia do Solimões está mais em voga, em decorrência das descobertas de gás e petróleo feitas na região", diz Virgílio.
A oferta seguinte da Agência Nacional de Petróleo (ANP), a 8a licitação, que ainda não tem data prevista para acontecer, deve incluir blocos da bacia do rio Amazonas, onde a Petrobras tem mapeada praticamente todas as grandes áreas prováveis de conter reservatórios de hidrocarboneto líquido, ou seja, petróleo. No Município de Silves (a 200 quilômetros de Manaus), por exemplo, a estatal já comprovou a viabilidade comercial de vasto reservatório de gás

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Estatal de olho em novas áreas
O gerente de Ativo de Exploração da Unidade de Negócios de Exploração e Produção da Bacia do Solimões em Manaus, Celso Yoshihito Murakami, disse que tem um grupo em seu departamento que está focado nos estudos regionais da bacia do Solimões, onde a Petrobras já definiu as áreas de seu interesse. Todos os municípios a Oeste de Manaus estão envolvidos nesse processo licitatório internacional. Murakami destaca também que há estudos detalhados sobre as potencialidades das reservas da bacia do Amazonas. "Na hora certa nos posicionaremos".
Em números
121 milhões de barris de petróleo e 100 bilhões de metros cúbicos de gás. Essa é a estimativa da Petrobras para a capacidade de produção da bacia do Solimões

Produção em maior escala
0 sonho dos anos 50 de encontrar petróleo e gás natural na bacia do rio Amazonas em larga escala, acalentado por várias gerações de pioneiros como as dos presidentes da República, João Café Filho e Juscelino Kubitschek, permanece vivo. O primeiro esteve em 28 de março de 1955 no município de Nova Olinda do Norte (a 138 quilômetros de Manaus) e o segundo em 1957.
Técnicos da Petrobras desenvolveram amplo trabalho de campo na região, onde houve investimentos em pesquisa para localizar reservatórios com potencial comercial. 0 geólogo Celso Murakami é otimista em relação ao futuro. "Nós já fizemos o dever de casa. Estávamos esperando que houvesse uma licitação internacional para essa área. Definimos, estrategicamente, os blocos de nosso interesse. Acreditamos que, realmente, exista grandes possibilidades de encontrar acumulações de petróleo na bacia do Amazonas", disse.
Reman se prepara para receber gasoduto
Ampliação A refinaria tem uma área onde pode se fazer a ampliação da sua planta industrial de acordo com a demanda
A Refinaria Isaac Sabbá (Reman) está incorporando novas tecnologias, equipamentos e uma gestão de processos mais sofisticada para receber a mudança da matriz energética, que acontecerá com a chegada do gasoduto em suas instalações. Responsável pela produção de 45 mil barris/dia, a mais importante refinaria da região amazônica acompanha com otimismo a retomada dos investimentos da Petrobras na perfuração de novos poços na Bacia do Solimões. Atualmente, 95% do petróleo refinado é da província de Urucu, 5% vem da Bacia de Campos. "Nós vamos nos adequar dentro de uma nova estratégia de mercado. Eu vejo na ponta do gás o progresso", disse o gerente geral da Reman, Luiz Antonio Meirelles da Silva.
A refinaria Isaac Sabbá, com a consolidação da produção de petróleo na província de Urucu, a partir da segunda metade da década de 80, passou por uma profunda ampliação. Desde então, ela vem sendo sistematicamente modernizada. Avançou com a colocação de computadores na operação das plantas industriais e nos sistemas que apóiam o processo de refino.
Tecnologia
A informatização está presente também na estação de tratamento de águas e na estação de despejos industriais. Recentemente foram investidos R$ 40 milhões em três grandes caldeiras, cada uma com capacidade de produção de 25 toneladas de vapor por hora. Todas operadas a distância por computador.
A Reman investe permanentemente em treinamento para os funcionários do quadro fixo da Petrobras e para os terceirizados. Isso permite um equilíbrio profissional nas operações complexas da planta industrial. A refinaria trabalha hoje com um programa avançado que integra a Petrobras nacionalmente, o SAP R3, um soft de última geração. Essa tecnologia permite mais agilidade na troca de"informações e aumenta o seu grau de confiabilidade. Ela coloca toda a estatal trabalhando dentro cio mesmo sistema de gestão.
"Os dados, que estão em um banco único, são mais confiáveis e ágeis. Isso imprime mais velocidade em todas as operações da companhia. Nas áreas administrativa, financeira e tributária, por exemplo. Nós também estamos implantando um novo processo de gestão, conhecido como Novo Abastecimento", disse Meirelles da Silva.

Termelétrica na Reman
0 gerente de implantação de projetos na região Norte na área de gás e energia da Petrobras, Gézio Rangel de Andrade, é um dos entusiastas da mudança da matriz energética, do óleo diesel para o gás natural.
Ele destaca que existe um projeto em estado avançado para a instalação de uma usina termelétrica com uma capacidade de geração de 715 MW, a ser instalada dentro da Reman, em área da estatal já previamente definida."Esta obra é essencial a médio e longo prazo para garantira demanda crescente do mercado consumidor de Manaus".
Gézio Andrade disse que a Petrobras está negociando com o sistema Eletrobrás, com a Eletronorte e com a Manaus Energia para converter as térmicas Aparecida e Mauazinho, o mais rápido possível.

Petrobras destaca elite para obras
Engenheiro Loureiro e geofísico Jordão são profissionais reconhecidos pelo mercado
0 gasoduto Urucu-Coari-Manaus é um investimento de US`$ 520 milhões. Atenta à importância da obra, que no pico das atividades terá em seu canteiro na floresta cerca de 3.500 trabalhadores, a Petrobras destacou o engenheiro Mauro Loureiro e o geofísico José Ricardo Jordão Castro. Na prática, eles são os responsáveis pela construção. Em maio, mais tardar em junho, ambos vão morar em Manaus. Loureiro responde pela parte de engenharia e Jordão pela qualidade, segurança, meio ambiente e saúde.
Loureiro está há 20 anos na companhia e foi coordenador de construção e montagem do
gasoduto Bolívia-Brasil, de 1997 a 2000. Um marco mundial da engenharia de dutos. Jordão é uma referência da Sociedade Brasileira de Geofísica e na estatal é considerado um dos profissionais mais experientes da área.
A engenharia da estatal vai utilizar técnicas avançadas na parte terrestre e fluvial. Está prevista uma travessia de 10 quilômetros sobre o rio Negro (ver arte na página E3). "Nós vamos usar a mesma tecnologia das travessias marítimas de águas profundas, como a da Bacia de Campos, no oceano Atlântico. Vai ser algo inédito, em se tratando de uma construção de duto terrestre. 0 rio tem ponto com 60 metros de profundidade" diz Loureiro.
0 geofísico Jordão tem outras funções no gasoduto. Sua responsabilidade é diferente do colega engenheiro, mas não menos importante. Caberá a ele garantir os procedimentos em busca de excelência nas áreas de sua atuação.
Sua equipe fará o acompanhamento dos impactos ambientais na floresta, na água e sobre os graus de poluição, mas também monitorará a questão social nas comunidades do entorno do gasoduto. Jordão é o responsável pela implementação dos programas de ações compensatórias.

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Desenvolvimento sustentável
Uma das principais missões de Jordão será a de garantir que o gasoduto seja um vetor que possibilite o desenvolvimento sustentável e uma ação de responsabilidade social. "A meta da empresa é de trabalhar cada vez mais junta com a sociedade, de forma que se viabilize um convívio sem atritos e saudável".

Coari investe dinheiro da Petrobras
Gasoduto: O município possui as maiores reservas de gás natural do estado do Amazonas em Urucu
Coari (370 quilômetros da capital) vai receber este ano aproximadamente R$ 42 milhões de royalties da Petrobras. Com uma arrecadação mensal em torno de R$ 6,5 milhões é considerada uma cidade rica para os padrões do interior do Estado. A pujança do Município tem nome: petróleo e gás. Em suas terras fica a província petrolífera de Urucu e há trinta minutos de barco do porto local chega-se ao Terminal Aquaviário-Coari, uma moderna central de armazenamento e distribuição de gás e óleo controlada por computadores de última geração. Reforçando ainda mais a sua posição de pólo econômico regional está o gasoduto, que transportará o gás natural até Manaus.
Urbanizada e com praças modernas, escolas modelos e um auditório de nível internacional, com capacidade para 500 pessoas, Coari é o reflexo da fartura provocada pelas suas reservas minerais. A igreja do Largo São Sebastião foi reformada e apresenta, entre outras melhorias, um impecável jardim de tradição européia; a Escola Municipal Domingos Agenor Smith é um prédio arrojado; mas a "jóia da coroa" arquitetônica, com linhas que lembram o estilo do arquiteto Oscar Niemayer, é o auditório Silvério José Nery, que tem condições de abrigar conferenciais, seminários e eventos de grande porte. Ele foi concebido com a finalidade de integrar o Município à cultura das teleconferências globais.
Tanta abundância gerou um fluxo migratório interno de pessoas que buscam melhorar de vida com as riquezas geradas na região. Acrescente-se a isso a mão-de-obra que será necessária para construir o gasoduto, e se tem um cenário de "novo eldorado", a exemplo do que se registrou em Manaus, quando da criação da Zona Franca, nos idos dos anos 60.0 reflexo imediato dessa corrida humana foi a invasão de uma vasta área às margens do lago do Pêra.
A reintegração de posse legal dos terrenos resultou em um conflito aberto entre os invasores e a tropa de choque da Policia Militar, que culminou com a prisão de 54 pessoas e o ferimento de outras. Discute-se se a natureza do movimento invasor foi política ou econômica, mas que foi um sinal inequívoco de pressão social não resta dúvidas. A população de baixa renda que vê a fartura nas ruas, praças e logradouros públicos em geral, quer casa e trabalho.
Modernidade
Seguro, avançado tecnologicamente e com um padrão internacional nas áreas de preservação ambiental e de qualidade no trabalho, o Terminal Aquaviário de Coari (TA-Coari) emprega mãode-obra local em praticamente todas as suas áreas. Essa atitude da Petrobras aliviou um pouco a tensão social, mas ainda é pouco frente a massa de trabalhadores que procura emprego em suas instalações. Sua força de trabalho é de 80 profissionais altamente qualificados, sendo que destes, 28 são dos quadros da Petrobras. 0 restante são funcionários das 12 empresas contratadas que atuam no terminal.

Destaque
O TA-Coari tem uma capacidade de armazenagem de 66 mil metros cúbicos de petróleo, o que equivale a cerca de 415 mil barris; e de 9 mil toneladas de GLP (gás de cozinha), o que representa aproximadamente 692 mil botijões de 13 kg.
Coari investe dinheiro da Petrobras
Gasoduto: 0 município possui as maiores reservas de gás natural do estado do Amazonas em Urucu
Coari (370 quilômetros da capital) vai receber este ano aproximadamente R$ 42 milhões de royalties da Petrobras. Com uma arrecadação mensal em torno de R$ 6,5 milhões é considerada uma cidade rica para os padrões do interior do Estado. A pujança do Município tem nome: petróleo e gás. Em suas terras fica a província petrolífera de Urucu e há trinta minutos de barco do porto local chega-se ao Terminal Aquaviário-Coari, uma moderna central de armazenamento e distribuição de gás e óleo controlada por computadores de última geração. Reforçando ainda mais a sua posição de pólo econômico regional está o gasoduto, que transportará o gás natural até Manaus.
Urbanizada e com praças modernas, escolas modelos e um auditório de nível internacional, com capacidade para 500 pessoas, Coari é o reflexo da fartura provocada pelas suas reservas minerais. A igreja do Largo São Sebastião foi reformada e apresenta, entre outras melhorias, um impecável jardim de tradição européia; a Escola Municipal Domingos Agenor Smith é um prédio arrojado; mas a "jóia da coroa" arquitetônica, com linhas que lembram o estilo do arquiteto Oscar Niemayer, é o auditório Silvério José Nery, que tem condições de abrigar conferenciais, seminários e eventos de grande porte. Ele foi concebido com a finalidade de integrar o Município à cultura das teleconferências globais.
Tanta abundância gerou um fluxo migratório interno de pessoas que buscam melhorar de vida com as riquezas geradas na região. Acrescente-se a isso a mão-de-obra que será necessária para construir o gasoduto, e se tem um cenário de "novo eldorado", a exemplo do que se registrou em Manaus, quando da criação da Zona Franca, nos idos dos anos 60.0 reflexo imediato dessa corrida humana foi a invasão de uma vasta área às margens do lago do Pêra.
A reintegração de posse legal dos terrenos resultou em um conflito aberto entre os invasores e a tropa de choque da Policia Militar, que culminou com a prisão de 54 pessoas e o ferimento de outras. Discute-se se a natureza do movimento invasor foi política ou econômica, mas que foi um sinal inequívoco de pressão social não resta dúvidas. A população de baixa renda que vê a fartura nas ruas, praças e logradouros públicos em geral, quer casa e trabalho.
Modernidade
Seguro, avançado tecnologicamente e com um padrão internacional nas áreas de preservação ambiental e de qualidade no trabalho, o Terminal Aquaviário de Coari (TA-Coari) emprega mãode-obra local em praticamente todas as suas áreas. Essa atitude da Petrobras aliviou um pouco a tensão social, mas ainda é pouco frente a massa de trabalhadores que procura emprego em suas instalações. Sua força de trabalho é de 80 profissionais altamente qualificados, sendo que destes, 28 são dos quadros da Petrobras. 0 restante são funcionários das 12 empresas contratadas que atuam no terminal.

Destaque
O TA-Coari tem uma capacidade de armazenagem de 66 mil metros cúbicos de petróleo, o que equivale a cerca de 415 mil barris; e de 9 mil toneladas de GLP (gás de cozinha), o que representa aproximadamente 692 mil botijões de 13 kg.

Pioneiros são órfãos do desenvolvimento
Perseguição: Operários da Petrobras que trabalharam na descoberta de petróleo no município de Nova Olinda do Norte contam como foram perseguidos na empresa pelo regime militar de 1964
Sete pioneiros da descoberta do petróleo no Amazonas contam as suas histórias e dizem porque se consideram órfãos do "ouro negro", no Município de Nova Olinda do Norte (a 138 quilômetros de Manaus). São homens simples que trazem no olhar e na memória o DNA de um tempo de sonho e fartura. "Quem toma banho de petróleo jamais tira do corpo a sensação de conquistador", diz Anisomar dos Santos Leal, 74, que em 13 de março de 1955, viu jorrar o líquido que impulsiona a economia do planeta, na calha do rio Madeira.
Anisomar, como é chamado pelos antigos colegas, entrou na estatal petrolífera em 1o de outubro de 1952 (a companhia era conhecida como Conselho Nacional do Petróleo), somente em 3 de outubro de 1953 passou a se chamar Petrobras, e saiu em maio de 1965, depois de ter sido preso e torturado durante 31 dias por militares em Manaus.
A carteira profissional dele nunca teve baixa. Seu nome consta no movimento da Anistia para ser indenizado por danos físicos, morais e trabalhistas. É um homem marcado pelas lembranças de uma época em que trabalhador era perseguido por ser sindicalizado, como foi o seu caso.
Sobre o dia em que jorrou petróleo pela primeira vez no Amazonas narra seu Anizomar: Foi uma alegria. Todos tomamos banho de petróleo. A noite teve um baile, que só terminou quando a luz do dia surgiu. 0 engenheiro Levindo Carneiro, que tinha uma lanchinha, mandou a gente procurar o povo todo para festejar. 0 baile foi em cima de uma balsa. Houve até um animado casal que caiu na lama do rio, mas voltou a dançar todo sujo, tamanha era a alegria da descoberta para o Brasil.
Raimundo Vasconcelos Alves, 68.
Era soldador e conta que começou a trabalhar na Petrobras em 1955 em Nova Olinda. Saiu da empresa em 1968 após atuar na base de Nova Olinda, em Manaus, no Pará e no Maranhão. Era um soldador que fazia tudo que era tipo de serviço nas torres de petróleo.
Alves estava no Maranhão, quando decidiu deixara empresa. "A gente trabalhava no campo 90 dias e folgava 30. Depois passou para 30 dias de campo e dez de descanso. Ai eu não agüentei e tive que fazer um acordo com a Petrobras para receber apenas 60% do -que eu tinha direito".
Alves comenta que foi difícil sair, porque era um bom emprego, e que se não fosse pelas dificuldades impostas na época dos militares ainda estaria lá. "Eu tinha carteira direitinho, mas ela ficou em São Luiz, quando eu sai. Fiquei danado da vida, porque não me devolveram a minha identidade profissional".
Levy Leal de Souza, 69.
Trabalhou na Petrobras de 1956 a 1973. "Meu primeiro trabalho foi na base de Nova Olinda, onde eu era soldador. Era um tempo de muita euforia, a gente se sentia como descobridores de uma riqueza que ia ajudara mudar o País para melhor. Mas aos poucos o sonho foi terminando, porque os poços começaram a secar. Eu trabalhei também em Autazes, Parintins, Belém, Bragança e em Canoas, no Maranhão. Em Nova Olinda trabalhei no poço do Rosarinho, no rio Madeira".
Souza disse que o seu nome está na lista da Anistia, porque teria sido prejudicado por atuar como sindicalista. "Eu era filiado ao Sindicato dos Petroleiros (Sindipetro). Eu trabalhava no campo conversando com os colegas e seguindo a orientação do sindicato". Sobre aqueles tempos, ele tem saudade da vida movimentada na Petrobras junto com os colegas.
Miracy Brasil, 68.
Começou a trabalhar na estatal em 14 de junho de 1960 e saiu em 1o de fevereiro de 1967. "Quando eu entrei na Petrobras fui enviado para o poço de Terra Preta, no rio Solimões, em Manacapuru. Trabalhei neste município por um ano na perfuração como carpinteiro, mas sem qualificação na carteira. Depois de três anos' eu fui promovido para trabalhar diretamente nas plataformas como operário qualificado, onde fiquei mais quatro anos como plataformista. Nós não encontramos gás e petróleo, porque as ferramentas ficaram presas no poço, a mais ou menos dois mil pés, mas que havia muito petróleo e gás, ah! Isso tinha. O curioso é que a maioria dos engenheiros era de americanos, franceses e alemães.
Brasil conta que em Manacapuru participou de uma perfuração na localidade de Jacarezinho, onde foi encontrado pouco petróleo e gás, por isso ele foi fechado. Depois, o carpinteiro de torre foi para o município de Alenquer, no Pará, onde a Petrobras fez outra perfuração mas não encontrou petróleo. "Nós não acertamos, como foi encontrado em Urucu, no município de Coari, porque a tecnologia não era tão avançada".
Miracy Brasil saiu da empresa quando estava prestes a ser transferido para Sergipe. "Eu já trabalhava longe de casa, no Maranhão, e tinha que economizar dois meses para poder pagar a passagem de ida e volta para ver a minha família, em Nova Olinda do Norte. Quando eles quiseram me transferir para Sergipe, ai eu não aceitei porque tinha que trabalhar quatro meses direto para poder vir ao Amazonas ver a minha gente".
Ele está na lista da Anistia, e sobre esse assunto comenta: "Eu sempre fui do lado do sindicato, talvez por isso que eles me mandavam para trabalhar longe de casa. Até o dia em que não suportei mais. Eu me sinto lesado como cidadão, porque eu queria ficar na empresa e fazer o meu trabalho de sindicalista também, mas não deu".
Jeremias Gomes da Costa, 75.
Entrou na Petrobras no dia 4 de setembro de 1957 e saiu em 20 de janeiro de 1965. Era trabalhador de categoria A e atuava na base da empresa em Nova Olinda do Norte. Seu Jeremias dá o seu depoimento sobre a época. "Eu trabalhava de carpinteiro na base NO 2, na Ilha do Maracá. Lá deu muito petróleo e gás. Quando eu cheguei no poço, ele já estava sendo perfurado e nós começamos a nos aproximar do petróleo. A máquina de perfuração ia dando sinal. A cada avanço da sonda era uma grande expectativa. Então, o engenheiro Levindo Carneiro disse "vamos arriar o equipamento" e ai o petróleo veio como uma bomba que explode. Eu nunca senti uma alegria tão grande como naquele dia do banho de petróleo na nossa torre. Era mais ou menos 16h. Nós viemos do poço todo molhado de óleo. Eu tomei até cerveja, o que nunca tinha feito antes".
Ele conta ainda que o poço ficou jorrando óleo por oito dias consecutivos, até que foi vedado precariamente. "Havia muito petróleo no rio Madeira baixando na água e a gente não podia aproveitar nada. 0 que nós retiramos foi para a refinaria em Manaus. 1 de 100 toneladas eu n que nós tiramos". lerei relatou que o petróleo n 2 jorrou durante dois m de uma profundidade c menos três mil metros ferramenta ficou presa poço. "Aqueles tubos que iam na perfuração "esbagaçaram e ninguém pode mais tira petróleo.
Mais tarde, os dois poços foram fechados. Sobre isso, o pioneiro disse. "Nós derramamos sessenta sacos de cimento de 50 quilos da marca Zebu no poço NO 1. Na torre do NO 2 foram derramados quarenta sacos de cimento puro. Tinha que tapar. Eu acho que era para não estragar. Mas eu sempre achei que tinha dedo dos americanos, porque eles não queriam que desse petróleo aqui. Não queriam porque nós íamos deixar de comprar deles. Na minha opinião há muito petróleo e gás em Nova Olinda".
Samuel Moreira,68.
Entrou na Petrobras em três de dezembro de 1955 e saiu em 1o de dezembro de 1964. Logo no início de suas atividades foi transferido para o poço NO 2, na ilha do Maracá, onde viu jorrar petróleo. Nesta localidade começou descarregando as balsas com areia e equipamentos para fazer a plataforma da torre NO 3, na ponta da ilha do Maracá. "Trabalhei somente dois meses nesta função. 0 pessoal da empresa achava que eu era muito pequeno, porque eu não cresci muito mesmo, mas eu tinha 18 anos".
Moreira foi transferido para uma lancha que fazia o transporte para Manaus, três vezes por semana. A embarcação transportava verduras e carnes para os funcionários da base. Depois ele foi transferido para a oficina, onde fazia os parafusos, porcas e os consertos das máquinas.
No final, Moreira trabalhava numa caldeira e tomava conta de duas cozinhas. Quando a empresa foi embora, ele ficou em Nova Olinda. "A lembrança de que aqui nós construímos a nossa família é muito forte. Eu estou na lista da Anistia, porque ajudava o Jeremias nas atividades da política sindical. Acho que foi por isso que quando acabou o trabalho aqui eles não me levaram. Nós, os sindicalistas, fomos muito perseguidos quando os militares tomaram o País".
Antonio Aureliano da Silva, 69.
Trabalhou na Petrobras de 1953 a 1960. Atuava na área de pesquisa. Ele "vivia" no mato fazendo o balizamento da topografia. Silva também viu jorrar petróleo. "Nós éramos vizinhos da plataforma NO 1. Quando jorrou óleo a população festejou o dia e a noite toda. 0 pessoal levava o petróleo em garrafa para as suas casas. Eu sou testemunha disso, vi o petróleo sair nos dois poços".
Sobre a sua saída da empresa, ele conta: "Eu sai da empresa porque a equipe foi extinta. Nós estávamos no rio Solimões, quando fomos chamados para fazer um acordo. A indenização dava direito a metade do que nós tínhamos direito, mas eles nos davam a esperança de poder retornar. Então, foi esse o motivo de eu ter saído da Petrobras. Eu confiei que poderia voltar depois de seis meses, mas não voltei nunca mais. Eu era sindicalizado".
Nacionalista, Silva ataca os engenheiros estrangeiros como os responsáveis pelo fim do ciclo do petróleo na região. "Eu acredito que nós temos muito petróleo e gás. Nós estamos pisando em cima de uma riqueza. Porque como o nosso amigo Jeremias falou, os americanos derramaram muito cimento para vedar os poços, que estão fechados até hoje. Aqui, além do petróleo tem o salgema (silvinita / potássio). A nossa Nova Olinda precisa ser redescoberta pela Petrobras".

Sindicalistas usariam dinamite para afundar corvetas da Marinha
Quando os militares assumiram o poder em 31 de março de 1964, um grupo de trabalhadores da Petrobras ficou detido e incomunicável durante um período de 72 horas nos alojamentos da empresa no Município de Nova Olinda do Norte (a 138 quilômetros de Manaus). Foi o suficiente para que houvesse uma revolta de 69 sindicalistas, seguida de uma auto-defesa guerrilheira, que incluiu a colocação de 600 quilos de dinamite nas cabeceiras das ilhas do Maracá e São José, no rio Madeira. Os explosivos foram estrategicamente posicionados por Jeremias Gomes da Costa, 75, e seus companheiros do Sindicato dos Petroleiros.
As cargas estavam prontas para explodir quando passassem as duas corvetas da Marinha que saíram de Manaus em direção a base de Nova Olinda. Avisados por um balseiro, os militares não ousaram entrar na cidade. "Nós estávamos revoltados com o golpe e a falta de liberdade que se instalou. Tinha ainda o "zum-zum" de que as atividades da estatal iriam acabar e deixar um "mar" de desempregados. Éramos filiados ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e não íamos ser presos de graça", disse Jeremias Costa, que com outros ex-trabalhadores da Petrobras estão na lista da Anistia para serem indenizados. Eles dizem terem perdido seus empregos por perseguição política e outros tipos de violência, na época do governo militar.
Bons companheiros
Politizados e apoiadores da campanha "0 Petróleo é Nosso", ainda dos tempos do governo Getúlio Vargas, que se suicidou em 24 de agosto de 1954, os sindicalistas estavam prontos para tudo. Coube a Anisomar dos Santos Leal, que na época trabalhava no almoxarifado da base da Petrobras, fazer o repasse de vinte caixas de explosivos, cada uma com 30 quilos, aos sindicalistas."Eu passei as,dinamites para o barco do Jeremias, que era o secretário geral do sindicato, porque não concordava com que os militares iam fazer com a gente. Por muito pouco tudo isso aqui não foi para os ares", comentou do alto dos seus 74 anos.
Fuga e perseguição
Marinha, Exército e Força Aérea não ocuparam Nova Olinda, mas a perseguição política tomou conta da região. Jeremias fugiu para uma pequena fazenda na ilha do Maracá, onde ficou escondido durante quatro meses até que a "poeira" baixasse. Não foi encontrado e nem preso, mas ficou marcado pela repressão. Era considerado um perigoso comunista infiltrado numa área estratégica, a petrolífera. Jeremias não nega sua militância política no PCB, mas acrescenta que sempre foi patriota e nacionalista. "Amo o meu País".
Prisão e tortura
Em 1965, Anisomar foi preso e torturado pelos militares em Manaus. Acusação: portar uma carteira e documentos do Sindicato dos Petroleiros. Ele conta como tudo aconteceu: "Eu estava em Belém e recebi uma carta da minha mãe Antonia Celestina dos Santos Leal, que estava passando muito mal em Manaus. Falei com o chefe da equipe e ele me deu três dias de licença para eu ir ver a minha mãe".
Anisomar viajou de avião, mas quando chegou sua mãe havia falecido. "Fiz o que tinha que fazer e quando eu ia retornar a Belém, na hora do embarque, onde tudo era revistado pelos militares, encontraram a minha carteira do sindicato e outros documentos sindicais. Disseram que eu era comunista. Que o sindicato naquela época era esquerdista. Eu não sabia nem o que significava ser comunista. Fui preso em Manaus em três de abril de 1965 e fiquei 31 dias na antiga central de policia da rua Marechal Deodoro".
Ameaçado de morte foi solto com a condição de não retornar a capital. Por 15 anos evitou passar - próximo de policiais em Manaus. Com medo de ser morto não teve como retornar ao trabalho na Petrobras, por esse motivo suai carteira profissional não teve baixa até hoje.

Trabalhador fica 14 dias internadona floresta
Recursos humano: As 2,1 mil pessoas que fazem funcionara província petrolífera de Urucu têm árdua jornada de trabalho no meio da selva de Coari
0 engenheiro mecânico José Maria Costa, 51, é o "prefeito" da mais importante reserva terrestre de petróleo do País. Sob a sua responsabilidade direta estão 2.168 pessoas vivendo em regime fechado. Sendo 14 dias de trabalho intensivo em campo e 21 de descanso. Localizada no Município de Coari (a 370 quilômetros de Manaus), em plena selva amazônica, a província de Urucu geólogo Pedro de Moura tem 60 poços de petróleo em atividade. Eles produzem 60 mil barris diários de óleo e LGN ( gás de cozinha mais Nafta) e 10 milhões de m3 de gás natural.
Há 21 anos trabalhando na região Norte, Costa, que é o gerente operacional de Urucu, é natural de Belém, formado pela Universidade Federal da Bahia, em 1976, torcedor de coração do Paysandu e funcionário da Petrobras desde 20 de dezembro de 1976, portanto há 29 anos. É considerado pelos colegas como um dos mais experientes engenheiros da estatal em sua área de atuação. Há sete anos dirige a província de Urucu.
Tendo sob a supervisão dele um patrimônio de bilhões de dolares, Costa tem consciência que a preservação destes equipamentos somente será da melhor qualidade se os profissionais que trabalham com ele estiverem de bem com a vida. Atento às questões humanas, ambientais, de segurança, saúde e qualidade de gestão (áreas onde a Petrobras local tem os mais importantes certificados do mundo), ele atua com jogo de cintura e diálogo, muita conversa. "Meus colegas ficam duas semanas longe da família privando-se de uma vida social nas cidades de origem, por esse motivo que o bom relacionamento é fundamental aqui em Urucu. Afinal, estamos no meio da floresta".
Veteranos de campo
Antônio Serpa, 45, é técnico de operação e trabalha em vários poços, dentre eles o de número 30, de 2,5 mil metros de profundidade e com capacidade de produção de 1.132 barris/dia. A função dele é a de controlar e acompanhar todas as condições do poço, o que faz permanentemente com uma máscara especial.
Sua atividade requer muito cuidado em função da emissão de gás e da alta periculosidade (nível 4). Serpa é natural de Salvador, Bahia, mas há dois anos mora em Manaus. Ele já passou por três casamentos e tem uma filha, Joice Mota, 18. Está há 23 anos na Petrobras. Seu salário é de aproximadamente R$ 5 mil.
Meticuloso, Serpa disse que trabalhar em Urucu requer paciência e disciplina. "A natureza do nosso serviço é de risco, mas com cuidado e treinamento tudo fica mais fácil. Viver na mata tem o seu lado bom, porque ninguém fica nos chateando e a integração com os colegas é altamente profissional, sem atropelos"
0 técnico químico Jorge Wagner Ribeiro Sena, 53, também está na estatal há 23 anos. Veterano em missões de campo na especialidade de controle de gás, tem o seu posto de trabalho sob às enormes esferas / reservatórios de GLP, no pólo Arara.
Sobre a vida na província de Urucu comenta: " Sempre gostei de trabalhar no campo, longe dos gabinetes e da cidade. Aqui tenho a tranqüilidade necessária para fazer o meu trabalho. Sinto falta apenas dos três filhos, mas a saudade dá e passa, porque depois de duas semanas pego o avião e vou para Belém, onde mora a minha família". A renda mensal de Ribeiro é praticamente a mesma do seu colega Serpa.

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Capacidade de armazenagem
O Terminal Aquaviário de Coari (TA-COARI) tem capacidade de armazenagem para 66 mil metros cúbicos de óleo, o que equivale a 415 mil barris. A capacidade para GLP é de 9 mil toneladas, cerca de 692 mil botijões de 13 Kg. De Coari a Manaus o gás de cozinha é transportado por balsas. O mesmo acontece com o petróleo, que é refinado na Reman.

Produção de óleo iniciou em 1988
A descoberta de petroleo na província de Urucu aconteceu em 1986, quando se confirmou, pela primeira vez, a viabilidade comercial de óleo em uma bacia paleozóica (com aproximadamente 550 milhões de anos de formação) no Brasil.
Em 1988 iniciou a produção efetiva. Desde então, houve um avanço tecnológico na região. Foram investidos mais de US$ 1 bilhão, o que permitiu a construção de uma planta industrial de processamento de petróleo moderna e sofisticada, a do pólo Arara. Foi construída também uma rede de dutos para fazer a distribuição dos derivados de petróleo.
Processo
Essa produção passa por um tratamento complexo. 0 petróleo extraído é separado, inicialmente, em água, óleo e gás. Este último vai para a Unidade de Produção de Gás Natural (UPGN) onde é retirada a nafta, cerca de 200 metros cúbicos /dia; e GLP (gás de cozinha), aproximadamente 1.440 tonelada /dia, o que equivale a 112 mil botijões de 13 kg.
A partir da UPGN, o restante do gás natural que sobra passa por compressores e logo após é reinjetado nos reservatórios, o mesmo ocorre com a água, que depois de tratada, retorna às reservas.
Quando se tem óleo separado e estabilizado e a nafta e o GLP já estão produzidos. 0 gás de cozinha é transportado através de um poliduto de 18 polegadas até o Terminal Aquaviário de Coari (TA-COARI). A mistura do óleo estabilizado, mais a nafta, é transportada por um oleoduto de 14 polegadas até o TA-COARI. São 285 quilômetros de extensão de Urucu a Coari.

Operários pioneiros controlam 60 poços de petróleo da sala principal do pólo Arara
Amizade: Devotos do orixá Ogum, baianos trabalham há 17 anos em Urucu. Eles cont que o dia mais alegre dessa história foi quando a viabilidade comercial do óleo foi comprovada
Há 17 anos os baianos Milton José de Souza, 42, e Ascendino Dias Cavalcante,49, trabalham na província petrolífera do rio Urucu. Eles são operadores de processo e junto com outros colegas controlam os 60 poços de petróleo locais por computadores instalados na sala de controle. A área é o "cérebro" do pólo Arara, localizado no coração da floresta amazônica, no interior do município de Coari (a 370 quilômetros de Manaus).
Milton Souza entrou na Petrobras em novembro de 1984. Anteriormente, ele trabalhava no Rio Grande do Norte, na produção petrolífera do Alto Rodrigues. Quando recebeu o convite para trabalhar no Amazonas não pensou duas vezes."Aceitei pelo desafio, pelas boas condições oferecidas e porque vislumbrei que cresceria profissionalmente".
Souza não estava enganado. Atualmente,.o salário dele supera R$ 5 mil, o que lhe garante a qualidade devida típica da classe média sólida e bem sucedida. A família dele, constituída pela esposa Marliete Oliveira Santos, 42, e a filha Kenia Meriane de Oliveira Souza,16, está no topo da pirâmide social na cidade de Brumado (a 650 quilômetros de Salvador-BA), onde passa os 21 dias de folga a que tem direito, depois de ter trabalhado 14 dias, em regime fechado, na base de operações da bacia do Solimões, às margens do rio Urucu.
Ascendino Cavalcante, o "Dico", está ha 25 anos na Petrobras. Em Urucu desempenha as mesmas atividades do amigo, mas nem sempre foi assim. Antes de ir para a floresta, ele atuava nos poços de Taquipe, em São Sebastião do Passé, na Bahia (a 60 quilômetros de Salvador). "Eu vim de uma área de prospecção, onde os poços eram bombeados por cavalo mecânico', diferentemente de Urucu, onde o petróleo sobe por pressão", explica.

Apreensão e alegria
Desquitado e pai da jovem Paula Andreza Cavalcante,16, Ascendino Cavalcante conta que no princípio, em Urucu, a vida era muito difícil. A comunicação era precária e o transporte demorado. Tudo era feito por helicóptero, porque as viagens de barco chegavam a durar 14 dias até Manaus. Houve um tempo em que Ascendino e Milton suspeitaram que a empresa fosse acabar com as atividades em Urucu, porque não se sabia com exatidão a viabilidade comercial dos poços.
Quando se descobriu que se tratava de uma área petrolífera vasta e com excelentes reservatórios, foi a maior alegria porque era o sucesso de anos de trabalho na selva, no meio da lama, cruzando rios e correndo o risco de pegar uma doença tropical. "Isso aqui é um aventura humana que deu certo", disse Cavalcante.

Descoberta movimentou imprensa durante o mês de março de 1955
Historia: Repórteres de A Critica testemunhara a descoberta do ouro negro
A descoberta de petróleo no Município de Nova Olinda do Norte (a 138 quilômetros de Manaus), em 1955, foi um acontecimento no Estado e ganhou manchetes do Jornal A Critica por vários dias, no mês de março. A expectativa era de redenção econômica do Amazonas. As notícias davam conta que o petróleo lá encontrado era de qualidade excepcional, como o da Pensilvânia (EUA). Um técnico do Conselho Nacional do Petróleo (CNP) teria calculado a produção inicial diária do poço em 600 barris, quantidade que poderia, entretanto, elevar-se a 3 mil barris.
No dia 15, A CRÍTICA anunciava: "Em Nova Olinda jorrou uma coluna de petróleo de 150 pés". 0 óleo atingiu os galhos mais altos das árvores situadas nas vizinhanças, ultrapassou a torre de 44 metros da, que seria a mais alta torre do Brasil. 0 superintendente da Petrobras na Amazônia, engenheiro Geraldo Oliveira, calculava que o poço seria "o maior do Brasil".
0 aparecimento de óleo se deu debaixo de emoção geral, precisamente às 23h45 do dia 12 de março, dizia o repórter Cavaleiro de Macedo. 0 petróleo jorrou durante cerca de dois minutos e os trabalhadores aproveitaram para recolher uma mostra de 200 litros de óleo em um tambor de gás. "0 povo todo comenta a histórica ocorrência. 0 comércio faz questão de expor em suas vitrines uma mostra pequena que seja do ouro negro, colhido em Nova Olinda, cada amazonense vibra hoje com o importante achado", escrevia o repórter.
Furo
Naquele dia (15) o jornal mostrou três fotos de Albertino Santos, o primeiro fotógrafo a bater "chapas" das experiências de Nova Olinda, ainda em 1953.
E na imprensa havia uma disputa sobre quem tinha chegado primeiro à localidade, quando jorrou petróleo.
Na edição do dia 17, A Crítica reproduziu na primeira página a seguinte declaração assinada pelo engenheiro chefe das perfurações Levindo Carneiro, da Petrobras: "os repórteres Cavaleiro de Macedo e João Amaral, enviados especiais da Folha do Norte, de Belém, de A Crítica de Manaus, e de 0 Globo do Rio, foram os primeiros jornalistas a chegar na perfuração de Nova Olinda, após o aparecimento do petróleo". A medida, segundo o repórter, foi uma precaução contra quaisquer explorações e mesmo movido por "uma certa vaidade profissional".
Macedo contou o passo a passo da confirmação do petróleo, com informações do engenheiro da Petrobras: "No dia 6 de março, a sonda recolheu amostra de arenito com petróleo, após perfurar precisamente 8.920 pés, ou seja 2.719 metros. Os trabalhos, entretanto, prosseguiram com grandes probabilidades de êxito até que, ao atingir a profundidade de 9 mil pés, ou 2.744 metros o petróleo jorrou. Foi precedido como sempre acontece nessas ocasiões pelo gás altamente inflamável", disse.

Destaque
A sonda do NO-1-AZ, que funcionava em Nova Olinda do Norte custou ao País a bagatela de US$ 1 milhão, com ela trabalharam cem homens, todos perfeitamente habilitados.

Três perguntas para João Café Filho
Então presidente da Republica
1 Sobre o aparecimento do petróleo em Nova Olinda?
Recebi a notícia com nova e esplêndida esperança para todos os brasileiros. Ela veio demonstrar que o Governo Central tinha razão ao insistir na experiência da Petrobras: o segredo foi descoberto sem a participação do capital estrangeiro, com a nossa gente e os nossos recursos. Minha presença aqui, em hora de tantas preocupações, traz a mensagem de estímulo aos pioneiros e de confiança no futuro dos filhos da Amazônia.
2 Sobre a participação do capital estrangeiro e o projeto Plínio Pompeu?
0 ponto de vista do Governo é conhecido: ele não cogita nem virá a cogitar de qualquer alteração na legislação do petróleo. Quanto ao projeto em curso no Senado, no Rio de Janeiro, capital da República, é matéria que ainda se encontra no âmbito do Legislativo e que contraria a política do petróleo, anunciada e praticada pelo Governo.
3 Sobre a exploração do petróleo em Nova Olinda?
0 Governo concentrará todos os seus esforços para a exploração racional e tanto quanto possível imediata do petróleo no Amazonas.

Exploração foi sabotada, afirma Armando Lucena
Personagem: Sindicalista diz que fechamento de poços no Município "foi uma monstruosidade"
A notícia de que não havia petróleo em Nova O,linda do Norte nunca convenceu o petroleiro Armando Lucena, 83, um roraimense que chegou ao município em agosto de 1957, época em que já haviam sido perfurados os poços pioneiros NO 1 e NO 2. Ouviu de moradores que "quando jorrou petróleo a força era tanta que o jato matou uma castanheira que havia nas proximidades do poço".
Havia muita expectativa e atividades de prospecção em vários municípios, por isso foi difícil aceitar o fracasso das buscas. A equipe do primeiro escalão da Petrobras, formada por geólogos estrangeiros ou pessoas formadas nos Estados Unidos, gerava desconfiança, principalmente porque as perfurações atrasavam e o material era danificado e jogado fora. "Acredito firmemente, Nova Olinda tem petróleo, mas foi sabotado perversamente para retardara exploração. Foi uma monstruosidade", enfatiza Lucena.
Trabalhar em uma sonda de perfuração era muito mais que um emprego, era a realização de um sonho para Lucena, que havia devorado tudo o que encontrara sobre o assunto. Mas quando chegou a Nova Olinda só conseguiu vaga como guarda de segurança. Ficou nessa função até que a Petrobras iniciasse a abertura do terceiro poço. Entrou como auxiliar de plataformista, depois ascendeu a plataformista, torrista e sondador e também exercia a função de delegado sindical representando os trabalhadores junto ao sindicato da categoria, sediado em Belém (PA). "Vivi meu sonho", diz ele.
Quando os trabalhos foram desativados no interior do Amazonas, no final de 1963, Lucena foi transferido para o Maranhão.

Destaque
O candidato à presidência da República, Juscelino Kubitschek (PSD), passou por Manaus, no dia 6 de abril de 1955, em campanha. Em entrevista à A Crítica disse que, se eleito, multiplicaria todos os esforços no sentido de tornar realidade a exploração do petróleo no Amazonas.

Fotógrafo de 14 anos de A Critica clicou o presidente Café Filho
Mirim: Umberto Calderaro levou pessoalmente o menino Hamilton Salgado à presença do presidente da República
Hamilton Salgado, 64, hoje produtor de televisão, foi o fotógrafo que registrou o encontro do presidente João Café Filho com o governador, Plínio Ramos Coelho, no dia 27 de março de 1955, no Palácio Rio Negro, quando o presidente veio ao Amazonas visitar o poço pioneiro de Nova Olinda. As fotos saíram na primeira página do jornal, mas o destaque foi o próprio Salgado, que recebeu atenção especial do presidente. Na época ele era o "Salgadinho", considerado "o menor fotógrafo de imprensa do Brasil". Também, pudera, ele só tinha 14 anos.
"Eu fui levado ao Palácio para fotografar b presidente pelo próprio dono do jornal, o seu Calderaro, num jipe que ele tinha. Eu estava um pouco nervoso e ele precisou me empurrar na direção do presidente", relata o fotógrafo, que foi trabalhar no jornal por influência do irmão, Lourival (já falecido), que tinha um laboratório e um estúdio fotográfico.
Salgado não acompanhou o presidente a Nova Olinda, mas integrou a equipe da Assembléia Legislativa que viajou no dia 29 de março para fazer uma sessão histórica ao pé do poço pioneiro e confeccionar a ata em papel embebido em petróleo e presenteá-la ao governador.
Aquela foi a primeira visita do fotógrafo-mirim ao interior do Estado. Tudo era novidade, inclusive um casamento coletivo que foi realizado em um flutuante da cidade. Na época os fotógrafos saíam com uma pequena quantidade de filmes e se limitavam a registrar o que os repórteres pediam, mesmo assim, Salgado pôde mostraras instalações da Petrobras e a reunião dos parlamentares.

Destaque
A descoberta de petróleo entusiasmou o governador Plínio Ramos Coelho, que organizou uma comitiva para seguir de barco a Nova Olinda. "Um Estado como o Amazonas cuja economia se firma em bases aleatórias e vacilantes, encontra na produção intensiva de petróleo fator decisivo de alevantamento", dizia ao jornal A Critica.

Em números
11 sondas eram mantidas pela Petrobras na bacia Amazônica, em outubro de 1957. A previsão era de que até dezembro daquele ano seriam recebidas mais cinco sondas.
3 poços eram perfurados em Nova Olinda, em 57. No mês de outubro, a sonda que iria iniciar um novo poço estava em montagem. Havia outros poços em perfuração no Pará.
6 anos de fundação o jornal A Critica iria completar em 19 de abril de 1955, ano em que foi encontrado petróleo. 0 jornal fez a cobertura completa sobre o petróleo descoberto.

Cultura no lugar da antiga base
Petrobras: Estatal deixou vários prédios abandonados quando fechou os poços e encerrou a prospecção no Município de Nova Olinda do Norte. Prefeitura quer ajuda para transformá-los em museu
Vários prédios usados como base da Petrobras no Município de Nova Olinda do Norte (a 138 quilômetros de Manaus) na década de 50 estão em ruínas. São edificações, que mesmo com o castigo dos anos de abandono resistem ao tempo. 0 prefeito da cidade Adenilson Lima Reis (PPS), 28, quer transformar este patrimônio arquitetônico em um complexo cultural. "A Petrobras tem uma dívida histórica com o município e pode reparar essa falta nos ajudando a transformar esses edifícios em uma área de cultura e lazer. Queremos também instalar um museu do petróleo. Afinal, nós somos os pioneiros da descoberta de óleo no Amazonas".
0 casal Berguer Pereira dos Santos, 24, e Maria Barbosa da Silva, 60, moram há dois anos em um dos prédios da antiga base da estatal. Ele trabalha como carregador na feira do produtor de Nova Olinda. Ela é doméstica, mas está desempregada. Estão juntos há quatro anos. Como a renda é pequena, eles passam dificuldades.
0 mesmo acontece com Ariana dos Anjos Monteiro, 21, mãe de três crianças e casada com Geosedaqui Pereira de Moraes, 31, também carregador da feira do produtor local. Eles moram em três peças ao lado de Santos e Maria. Insalubridade, risco de doenças, frio e calor fazem parte do cotidiano dos moradores clandestinos de um dos prédios da rua Triunfo, na margem direita do rio Madeira.
Retomada
Além do complexo cultural, Adenilson Lima Reis defende a tomada das pesquisas e perfurações de poços de petróleo na região pela Petrobras. "Hoje há tecnologia, profissionais e recursos que podem levar ao descobrimento de novas reservas de óleo e gás em Nova Olinda". A Agência Nacional de Petróleo (ANP) não licitou blocos na bacia do Amazonas, que abrange as cidades de Manacapuru, Autazes, Nova Olinda do Norte, Silves, entre outras.

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Otimismo de especialistas
Especialistas do mercado de petróleo, entre eles geólogos da própria Petrobras, não descartam a hipótese de a Agência Nacional do Petróleo fazer a 8a licitação de blocos da bacia do rio Amazonas, área considerada forte candidata a conter hidrocarbonetos. A dúvida é sobre a sua viabilidade comercial, especialmente o tamanho das prováveis reservas.

Melhora da auto-estima
Jovem, inquieto e articulado Adenilson Lima Reis assumiu o governo municipal com o propósito de criar empregos e elevara auto-estima da população. Ele tenta despertara consciência dos moradores sobre a importância da cidade ter sido o berço da descoberta de petróleo no Amazonas.
"Aqui nós recebemos os presidentes da República João Café Filho, em 1955, e Juscelino Kubitschek, em 1957. Fomos citados pela imprensa nacional e internacional e mostramos ao País que o Amazonas tinha petróleo, em um tempo de afirmação da soberania nacional. Tudo isso precisa ser contado num museu vivo, que pretendemos instalar em 19 de dezembro, quando a cidade completará 50 anos de fundação".
Potássio
Disposto a encontrar quem queira investir nos minérios da região,Adenilson vai procurara Petrobras em abril para que ela explore a jazida de silvinita (potássio) existente na cidade.

O futuro chega na rota do gasoduto Coari-Manaus
Gente: Como é a vida dos amazonenses que vivem na floresta e serão beneficiados pelo gasoduto
0 habitante de comunidades amazonenses perdidas no meio da floresta não precisam e não querem muita coisa para manter-se produzindo no campo, evitando a migração para Manaus onde engrossarão o contingente de excluídos em busca de um emprego que não existe mais. Os diagnósticos feitos por técnicos do "Programa de Compensações Ambientais e Desenvolvimento Sustentável das Comunidades da Área de Influência do Gasoduto Coari-Manaus" (PDSG) mostram que não e preciso projetos mirabolantes ou grandes obras para manter o caboclo no lugar que ele mais gosta, a comunidade onde nasceu, cresceu, casou e constituiu família, repetindo uma história que foi do pai e do avô. "Desde que me entendo por gente sou agricultor", diz Alvanir Leite Lima, 26, morador da comunidade Divino Espírito Santo, localizada no igarapé Izidório, em Coari (a 370 quilômetros de Manaus).
Divino Espírito Santo do Izidório foi uma das primeiras comunidades beneficiadas pelo PDSG e quase tudo o que os comunitários pediram foi atendido com R$ 100 mil, dinheiro suficiente para a ampliação da rede de energia elétrica, a compra de um grupo gerador mais potente, uma lancha potente que servirá para o serviço de emergências médicas, um telefone celular para "conectar" os comunitários com o mundo e, finalmente, a regularização fundiária dos terrenos.
E não se pense que o dinheiro investido em Izidório será gasto em vão, pois não se percebe no rosto dos integrantes das 77 famílias que ali habitam qualquer disposição para empreender uma viagem em busca do "eldorado" da Zona Franca. Um exemplo disso é a dona de casa Dalice Doroteu Seabra, 25. Repetindo a saga de milhares de meninas do interior, ela veio para Manaus com 13 anos, viveu "numa casa de família" por três, mas não viu futuro naquilo e há nove anos voltou para Coari e depois para a comunidade.
Sem retorno
Vivendo com o marido, Valarman Cruz, 36, e as filhas Josiane, 7, Liviane, 3 e Kimberly, 1, Dalice garante que não volta mais para a cidade grande. "Aqui a vida é boa, tranqüila e com a nossa roça dá para ir vivendo", garante, ressaltando apenas que a situação fica ruim no tempo de cheia, pois as águas do Izidório chegam a casa dela, que esta montada a aproximadamente 1m30 do chão. "Isso, contudo, já estamos acostumados", completa.
Também morador da comunidade do Divino Espírito Santo do Izidório, o agricultor João Antônio Cruz, 53, é um dos pioneiros do lugar. Ele conta que há 25 anos a comunidade era pequena, não mais que três ou quatro casas. "Com o tempo os filhos foram crescendo, casando e fazendo novas casas. Alem disso muita gente de fora chegou para aumentara turma", diz.
João não mora na sede da comunidade, o terreno dele esta localizado num igarapé afluente e para chegar lá e preciso navegar por três horas. As visitas a sede, contudo, são regulares e ele é um dos que mais tem esperança no progresso que o PDSG está prometendo. "Espero que dê para chegar energia na minha casa e que alguns outros probleminhas se resolvam, como é o caso da lancha do SOS", afirma.
Técnico da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Luiz Andrade é um dos responsáveis pela implantação do PDSG. Ele assegura que a vida em Izidório será outra após a implantação dos benefícios. "Existirão no Amazonas as comunidades do gasoduto, bem estruturadas, e as outras comunidades", analisa.

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Como funciona o PDSG
O programa de compensações operado pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável tem um nome grande e pomposo que acabou resumido para Programa de Desenvolvimento Sustentável do Gasoduto Coari-Manaus. Tem recursos de R$ 42 milhões repassados pela Petrobras a titulo de ações mitigadoras. A SDS estima que até 120 comunidades, nos Municípios de Coari, Codajás, Anori, Anamã, Caapiranga, Manacapuru e Iranduba, serão atendidas. 0 critério para entrar é estar localizada num raio de 5 quilômetros a partir de um dos lados do duto.

Delegacia, clube e igreja
A comunidade Divino Espírito Santo do lzidório está localizada numa área de várzea de um igarapé afluente do lago de Coari. Nela vivem 77 famílias, espalhadas pela sede e a zona rural.
Na sede existe uma cozinha comunitária operada pelo clube de mães local; uma igreja católica, que não tem vigário fixo; uma pequena escola que atende, em três turnos, alunos até a 8o série do ensino fundamental; e uma inusitada delegacia, que leva o nome de um dos fundadores da comunidade, Sabá Raul. O curioso da delegacia é que ela fica fechada quase o ano todo, só abrindo em dias de festa. "Fica cheia, e o preso só saí depois que acaba o festejo", afirma a dona de casa Dalice Doroteu Seabra, 25.

Saúde ribeirinha inspira cuidados
0 Programa de Desenvolvimento Sustentável do Gasoduto Coari-Manaus (PDSG) encerrou a primeira fase de atendimento às populações no dia 13 de dezembro, no Município de Coari. 0 barco Zona Franca Verde, que oferece serviços médicos, odontológicos, previdenciários e de cidadania; encerrou uma maratona de quase 60 dias rodando por mais de 50 comunidades em cinco dos sete municípios por onde vai passar o gasoduto. Restaram para 2005 cobrir os Municípios de Manacapuru e Iranduba, trabalho que ainda está sendo feito.
No barco, operado por equipes de diversas secretarias de Estado e órgãos da administração federal, foram expedidos documentos básicos, conseguidas aposentadorias para trabalhadores rurais e ofertados óculos para quem deles precisavam.
Da parte de assistência médica, contudo, saiu um grave indicador da saúde ribeirinha. Conforme dados do serviço médico, as crianças atendidas tinham problemas graves de desnutrição, fruto de uma dieta a base de peixe e farinha. Faltava-lhes proteínas de carne vermelha e gorduras, como as provenientes de leite e ovos.
Nos adultos, dois indicadores assustaram os médicos. Os homens, em número significativo, tinham problemas de coluna, fruto do trabalho exaustivo na roça e no transporte de sacas e mais sacas de farinha até um porto de onde escoam a produção conseguida no sítio deles. 0 problema mais comum entre as mulheres foi o câncer de colo de útero, resultado da atividade sexual iniciada muito cedo e da falta de periodicidade na realização de exames papanicolau.
A confirmar a gravidade do quadro, tanto homens como mulheres estavam, também em número significativo, acometidos por problemas de hipertensão. Conforme os médicos o problema é decorrente da dieta mantida a base de carnes e peixes conservados por vários dias em sal de cozinha.

Respeito à legislação
Consciência: Comunitários sabem que têm de seguir a lei para conservar o meio ambiente
A comunidade de São José do Saúba, no município de Coari (a 370 quilômetros de Manaus) é formada basicamente por uma única família e os agregados dela. Está localizada numa das inúmeras barrancas do rio Solimões, num local de terra firme que para se alcançar é preciso subir um escadão de quase cem degraus. Apesar da distância, as 12 famílias que moram no local fazem questão de estar dentro da lei e desde novembro ninguém, afiança um dos líderes, está pescando tambaqui, pirapitinga e outras espécies de peixe listadas na portaria do Defeso.
A possibilidade de uma fiscalização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) ou do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) chegar ao local é quase nula, mas isso não estimula os comunitários a transgredirem a lei. Além de respeitarem o Defeso, um viveiro de pirarucu foi praticamente desfeito depois que souberam que para manter os animais em cativeiro era preciso toda uma documentação específica. "Faltam alguns documentos para regularizarmos o viveiro e hoje só existem oito pirarucus no local", conta o agricultor Irailde Barbosa da Silva.
Improviso
A idéia da construção do viveiro tomou conta da comunidade há quatro anos. Eles, sem qualquer tipo de assistência técnica, represaram um pequeno córrego, pescaram pirarucus, tambaquis e espécies predadas pelo "bacalhau da Amazônia". Os peixes foram transportados vivos em sacolas e jogados no lago, cuja água corria por um sistema de canos desenvolvidos por eles para um braço do Solimões. A falta de- um cálculo preciso, contudo, fez o projeto ir literalmente por água abaixo. Na época da chuva, um temporal fez o nível do lago crescer e a barragem se rompeu deixando um rastro de decepção entre os comunitários.
Eles não desistiram e foram atrás de informação para reconstruir o sonho do viveiro e foi aí que ficaram sabendo que teriam de regularizar o "projeto", até hoje em fase incipiente por falta de condições. Como integrante do Programa de Desenvolvimento do Gasoduto Coari-Manaus, a comunidade de São José do Saúba receberá assistência técnica de um engenheiro de pesca para poder colocar o viveiro em funcionamento.
Contrapartida
Além disso, receberão melhorias na instalação da rede de energia elétrica, um novo e mais potente gerador, uma casa de farinha, poço artesiano, e numa ação de troca receberão gasolina para conseguirem extrair da floresta a madeira necessária para a reforma das casas.
De acordo com um dos técnicos responsáveis pela implantação do PDSG, Luiz Andrade, a idéia é fazer com que a comunidade dê uma contrapartida ao que está sendo oferecido pelo programa, daí que eles mesmos têm que tirara madeira, contando apenas com o suporte material do programa.

Personagem
Lucimar Oliveira
Os filhos que moram em Manaus insistem para que a família migre para a capital, mas o patriarca Sebastião Monteiro Sampaio não troca a vida pacata na comunidade Menino Deus, localizada no igarapé do Poraquê, em Coari, por nada e agora conta com o Programa de Desenvolvimento mento do Gasoduto Coari-Manaus como aliado. A comunidade receberá uma série de benefícios que vai reduzir as agruras das 12 famílias que moram no lugar e gozam da companhia do "trio parada dura da Amazônia": pium, mutuca e meruim, insetos que picam e deixam marcas enormes no corpo da vítima.
Esposa de Sebastião, Lucimar Silvestre de Oliveira, 64, conta que nasceu no seringal Caititu, no município do Juruá (737 quilômetros de Manaus), mas há 50 anos mora na comunidade ao lado do marido e de alguns dos nove filhos e 32 netos. "Gostaria de ir embora desse sofrimento, mas não é certo deixar o meu marido aqui depois desses anos todos", conta Lucimar, que planta milho, mandioca, macaxeira e cria galinhas e cabras.
Fincado na várzea do igarapé; o milharal é uma beleza e garante uma atividade econômica sustentável para os comunitários. A produção é vendida para comerciantes de Coari, mas parte dó lucro vai embora com o pagamento do frete de barcos.

Comunidade é uma das mais carentes
A comunidade São José do Saúba é uma das mais carentes atendidas pelo programa de Desenvolvimento Sustentável do Gasoduto (PDSG). Ela é praticamente a comunidade que esta mais perto do terminal da Petrobras por onde sairá o gás natural antes de entrar nos dutos que o trarão a Manaus.
A vida na comunidade é extremamente simples, existem 12 famílias que moram em oito casas e dividem tudo. No local, além da casa, existe uma igreja mandada erigir em madeira por um dos pioneiros da comunidade e um campo de futebol. A energia elétrica é acionada uma vez por dia e garante contato com o mundo real por meio do Jornal Nacional e o mundo da ilusão por meio da novela das 20h, que em Saúba passa quase às 19h.
Uma das reivindicações feitas pelos comunitários no planejamento participativo feito com assessoria dos técnicos do PDSG era a da construção de uma escola para as crianças, mas isso ficará para o futuro. Com isso, a criançada vai continuar atravessando todos os dias o rio Solimões para estudar na escola da comunidade Esperança 2, localizada em frente, na margem oposta.
Desmembrada da comunidade Ananindé, um pouco abaixo no rio, São José do Saúha vive da coleta da castanha, a pesca e uma pequena plantação de macaxeira, que será beneficiada na casa de farinha prometida pelo programa do gasoduto.

Comentario
Por Virgílio Viana: Secretario de Estado do Desenvolvimento Sustentável
"0 marco conceitual"
Princípios ecológicos nortearam os debates sobre a construção do gasoduto
Aplicando o princípio ecológico da precaução, tomamos todo o cuidado para que o licenciamento ambiental do gasoduto contivesse algumas condicionantes fundamentais a serem cumpridas pela Petrobras: evitar a erosão e entupimento de igarapés; recuperar áreas degradadas; não permitir, ao longo do duto, a construção de estradas perenes que permitam a invasão de terras e o desmatamento, adotar medidas restritivas a prostituição, com programas educativos e punitivos para trabalhadores da obra, priorizar mão de obra local; além de programas de geração de; renda para famílias carentes, adotar procedimentos eficientes para evitar o aumentou de doenças como malária, entre diversas outros procedimentos. Tudo feito com a orientação do governador Eduardo Braga.
0 acompanhamento dessas condicionantes será feito com muito profissionalismo e rigor pelo Governo do Estado e poderá ser supervisionado' pela sociedade amazonense por meio do site www.sds.am.gov.br.
Além das medidas de prevenção de impactos ambientais, foi estruturado um Programa de Desenvolvimento Sustentável para as comunidades que estão na área de influência do gasoduto, que conta com a participação de 50 instituições entre órgãos dos governos municipal, estadual e federal e instituições de pesquisa e ensino do Amazonas, além de organizações não-governamentais. Este programa tem como missão socializar os benefícios do empreendimento, com três objetivos fundamentais: apoiar a construção da cidadania, promover o aumento da renda e fomentar a conservação ambiental.
0 primeiro passo para a construção da cidadania é viabilizar a expedição da documentação básica a população.
Com isso criam-se as condições de acesso pare benefícios previdenciários e para programas sociais estaduais, como o projeto Cidadão e o Bolsa Escola.
As atividades voltadas para o aumento da renda e conservação ambiental estão baseadas em diagnóstico participativos, que identificam as principais características, demandas e oportunidades para a promoção do desenvolvimento sustentável.

Codajás quer açaí na cabeça
Delícia: Comunidades da terra do açaí esperam que programa traga o prgresso
Os moradores da pequena comunidade de Floresbela, localizada no km 20 da estrada Codajás-Anori, no Município de Codajás (a 240 quilômetros de Manaus), gostariam que os recursos do Programa de Desenvolvimento Sustentável do Gasoduto Coari-Manaus (PDSG) fossem empregados no asfaltamento da estrada por onde escoam a produção de macaxeira, farinha, frutas e, principalmente, açaí.
0 pedido, contudo, ficará para depois, uma vez que os recursos não podem ser usados para isso. Restou aos integrantes das dez famílias que moram no lugar aproveitar as oficinas de planejamento para organizara produção com auxílio dos técnicos do governo e criar estratégias para aproveitar melhoro potencial da região. Na comunidade, sem agredir o meio ambiente, é possível gerar emprego e renda para todos na exploração de culturas tropicais, que podem ser beneficiadas numa pequena fabriqueta.
Essa, pelo menos, é a esperança da agricultora Maria Raimunda Brito de Andrade, 35, que há seis anos morava no Paraná das Onças, também em Codajás, mas mudou-se para Floresbela animada com a promessa de desenvolvimento trazida pela construção da estrada, o que só agora ameaça virar realidade.
Para vender a produção do terreno dela, onde planta e cria galinhas, Maria Raimunda se utiliza do transporte oferecido pela prefeitura de Codajás, que é uma carroça puxada por um trator do tipo jerico.

Esperança na comunidade Miuá
A vida na comunidade do Miuá, no Município de Codajás (a 240 quilômetros de Manaus), gira em torno da coleta do açaí e da pesca para sobrevivência.
Embalado pelo preço e as promessas de criação de condições melhores para produção do vinho do açaí, o agricultor Antônio Oliveira, 27, promete reforçara plantação dele com mais dois mil pés da palmeira, cuja produção só começa a partir do sétimo ano. "Já tenho 1,6 mil pés plantados e em dois anos eles estarão produzindo os cachos", diz Antônio. Para garantira produção do vinho, que na atual safra poderá chegara 50 toneladas só em Codajás, Antônio afirma que o agricultor sofre o "pão que o diabo amassou". Escoamento e mosquito são os adversários.

Três perguntas para: Maria Raimunda de Brito Andrade Agricultora, 35
1 A vida na comunidade Fioresbela é muito difícil? Quais as principais dificuldades enfrentadas por quem se dispõe a ocupar esse pedaço da Amazônia?
Nosso grande desejo é a estrada, mas fora isso o que mais dificulta a vida aqui são insetos como o pium, o meruim, o carapanã e a mutuca.
2 0 que a prefeitura oferece à comunidade como forma de incentivo a produção e a fixação do homem no campo?
Aqui temos uma escola que atende todas as crianças até a 4ª. série do Ensino Fundamental. Outro serviço que temos é o do jerico, que leva nossa produção para Codajás.
3 Qual a produção da comunidade?
Temos muita banana, roça de macaxeira e mandioca, que usamos na produção de farinha; e o açaí, o melhor do Estado e que poderia gerar um pouco mais de lucro para nós se tivéssemos uma máquina para beneficiara fruta, que sai para Codajás e lá é transformada em vinho e vendida por um preço. melhor.

Benefícios para poucos em Anori
PDSG: Município foi incluído no último momento e por isso terá só duas comunidades atendidas
A Vila do Anori reúne 29 flutuantes na entrada do lago que empresta o nome ao município, localizado na região do Rio Negro/Solimões. Fundada há 25 anos, é uma comunidade cheia de carências e de problemas ligados ao meio ambiente e também à produção econômica, baseada na pesca de subsistência, compra e venda de fibras - juta e malva - e a produção de farinha a partir de roças plantadas em terra firme.
A comunidade, uma das beneficiadas pelo Programa de Desenvolvimento Sustentável do Gasoduto Coari-Manaus (PDSG), concentra dois anacronismos da Amazônia moderna: casas flutuantes e produção de juta e malva. As casas flutuantes são um problema porque a destinação dos dejetos é sempre inadequada e a obtenção da água que abastece os moradores é uma fonte permanente de doenças. Por conta disso, o planejamento participativo realizado pelos técnicos do PDSG I na Vila do Anori apontou como prioridades a construção de um poço artesiano em terra firme e a construção de uma linha de abastecimento até os flutuantes, que ficam quase na margem esquerda do rio Solimões.
Já a economia baseada na produção e fibras é sempre uma fonte de dor de cabeça para os caboclos, pois o preço mínimo estabelecido pelo governo e compradores particulares há muito faz o negócio ser deficitário. Há 15 anos trabalhando com a compra e venda de juta e malva, Antônio Valeta Serrão, 53, conta que criou a família com essa atividade, mas lamenta que nos últimos anos o preço tenha chegado a níveis tão ruins que muitos agricultores preferem cortara planta e jogá-las no rio. "Está difícil viver com o preço que querem pagar. Pai a piorar, o governo está comprando pela cooperativa de Manacapuru e os produtores anorienses têm de fretar um barco para levara produção até lá, o que aumenta os custos e diminui o lucro", explica. Mesmo assim, Antônio Serrão insiste na atividade, hoje secundária nos negócios que ele toca em um flutuante de 10 metros por 30 metros.
Por ser flutuante, a comunidade não quer estruturas como ,escolas e postos de saúde, pois isso os moradores têm na sede do município, que fica distante, em termos amazônicos, a 30 minutos em voadeiras. "Todo mundo estuda e se trata em Anori, não tem grandes problemas, é como pegar um ônibus em um bairro de Manaus e seguir para outro", compara Antônio, cujos filhos estudam em Anori.
Além do poço artesiano, que vai reduzir o nível de verminoses, a comunidade também deverá ganhar um pequeno frigorífico para acondicionar a produção de pescado. Ele terá, inicialmente, um gerador próprio, mas num segundo momento poderá ser abastecido por um linhão de energia que partirá da sede do município. "Não é tão distante assim", afirma Raimunda Silva de Castro, 54, moradora de um dos flutuantes.

Personagem: Paulo Furtado
0 agricultor Paulo Monteiro Furtado, 55, é uma das vítimas da fraude que foi o asfaltamento dos 22 quilômetros da estrada Anori-Anamã, encenada há seis anos pelo então programa governamental Terceiro Ciclo, criado pelo ex governador Amazonino Mendes. "0 asfalto era fino e na primeira chuvada foi embora, tomando a estrada uma lástima", conta.
Confiante que poderia ter uma vida melhor na beira da estrada, ele deixou Anori há seis anos e se estabeleceu em um pequeno sítio na comunidade São Raimundo. Pretendia plantar uma roça de macaxeira para a produção de farinha e se aproveitar da grande ' quantidade de açaizeiros para comercializar o fruto.
0 fato de ter sido enganado uma vez pelas promessas de desenvolvimento fácil deixa Furtado com um pé atrás quando se fala no Programa de Desenvolvimento Sustentável do Gasoduto Coan Manaus. "Eles passaram aqui duas vezes, prometendo um gerador de energia e a compra de um meio de transporte próprio para a comunidade escoara produção", afirma, sem muita convicção de que verá isso no futuro. "Quem viver verá se tudo o que estão prometendo vai virar realidade'.

Carências e falta de organização
A exemplo da Vila do Anori, a comunidade São Raimundo, assentada na estrada que liga o município à comunidade Mato Grosso, no vizinho município de Anamã (a 168 quilômetros de Manaus), é bastante carente e desorganizada.
0 trabalho dos técnicos do Programa: de Desenvolvimento Sustentável do Gasoduto Coari-Manaus (PDSG) já garantiu aos habitantes das duas comunidades a expedição dos documentos básicos e organizou oficinas do que eles chamam planejamento participativo, reuniões nas quais todos têm direito de opinar e definiras prioridades de investimento. "Todo mundo, que quis eles levaram até o barco (do Zona Franca Verde), que estava ancorado nas proximidades da Vila do Anori. Lá tiraram documentos e fizeram os exames", conta a dona de casa Raimunda Franco da Silva, 38, que mora em Manaus, mas está,passando uma temporada na companhia da mãe, Olindina, que tem um sítio na estrada Anori-Anamã,

Aposentadoria é um dos atrativos
Caapiranga: Primeira etapa do programa conseguiu aposentar dez agricultores de uma comunidade
Uma única rua pavimentada em concreto e tijolo chama atenção dos visitantes da comunidade Sumaúma 1, no município de Caapiranga (a 145 quilômetros de Manaus). São 10 pequenas casas, uma escola, a associação comunitária, a igreja católica e um povo que vive da produção de farinha, cará e da pesca, tudo para sobrevivência. A economia é impulsionada pelos aposentados do lugar, grupo que recebeu o reforço de dez novos integrantes, beneficiados pelo Programa de Desenvolvimento Sustentável do Gasoduto Coari-Manaus (PDSG). "Eles passaram por aqui no fim de novembro, fizeram reuniões e conseguiram a aposentadoria desse pessoal", conta a dona de casa Neide Soares da Silva, 56.
Os dez novos aposentados injetam desde janeiro R$ 2,8 mil mensais na comunidade, uma fortuna para os padrões locais. Visando conquistar o benefício previdenciário no futuro, Neide Soares da Silva aproveitou para renovar os documentos e receber instruções de como proceder quando for pedira própria aposentadoria na prefeitura de Caapiranga, onde trabalhou como professora por mais de 25 anos. "Comecei a carreira em 1965, mas no final de 2001 mandaram eu parar porque não tinha curso superior e desde lá estou parada e sem fonte de renda", conta Neide, que é casada com o presidente da Associação Comunitária, Soriano Neto, com quem teve 12 filhos.
Seguridade
Conforme dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), os aposentados de Sumaúma 1 repetem o que já acontece em 60% dos municípios brasileiros, cuja economia é impulsionada pelo dinheiro dos benefícios. Ainda conforme o INSS, 18% dos lares brasileiros têm como fonte de renda o dinheiro pago aos "velhinhos". Portanto, a situação de Sumaúma não é nova.
Além da documentação, colocada em dia pelos técnicos do PDSG, Sumaúma deverá ganhar assistência técnica para desenvolver um projeto de piscicultura num viveiro já construído atrás da única rua da comunidade.

Personagem
A energia elétrica e a vida que passa devagar, exatamente na velocidade com que correm as águas do lago Sumaúma, transformaram a vida dos caboclos das comunidades de Caapiranga. Vivendo há 10 anos da renda conseguida em um pequeno comércio, o único da comunidades de Sumaúma 1`Edne Amorim hmSilva, 30, dificilmente se arrisca nas arte e ofícios de um caboclo típico. Ele não sabe pescar de tarrafa, não faz farinha e pouco se aventura na caça. Meu negócio é aventuradiz.

Professora é orgulho para comunidade
Dividida: Ana Lúcia se desdobra entre as comunidades Vila do Arixi, em Anamã, e Mato Grosso, em Anori
A professora Ana Lúcia da Silva estava ansiosa pela chegada dos idos de março. Exatamente no dia 17, ela recebeu o diploma do curso Normal Superior da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) em festa que aconteceu na sede do Município de Anamã (a 168 quilômetros de Manaus).
No dia seguinte, ela tinha compromisso agendado: pegar uma voadeira, viajar durante três ou quatro horas, e participar de uma maratona de parabenizações nas comunidades Vila do Arixi, onde mora dois dias por semana; e Mato Grosso, onde é professora numa pequena escola que tem quase 100 alunos de 1ª.a 4ª. série do Ensino Fundamental.
Beleza pura
As duas comunidades, localizadas no belíssimo lago de Anamã, hospedam juntas quase 200 famílias, espalhadas em casas de madeira e flutuantes. Sem poder viver da pesca, abundante no lago, por questões ambientais, os habitantes trabalham na produção de farinha, frutas tropicais e criação de gado. A atividade em Mato Grosso garante uma renda pequena, mas poderia ser melhor se a estrada que liga a comunidade ao município de Anori, distante 22 quilômetros, estivesse pronta e transitável. "Essa estrada é fundamental para nós", analisa a professora, que apesar de viver em Mato Grosso faz questão de passar os fins de semana com a família na Vila do Arixi, a maior comunidade da região.
A professora, agora devidamente diplomada, fala que o período de três anos de curso foi importante para a formação dela, que só tinha o ensino médio completo, e será mais importante ainda para os alunos. Com o diploma na mão, a única expectativa de Ana Lúcia é conseguir um salário maior que o atual, pago pela Secretaria Municipal de Educação de Anamã. "Estou formada, gosto daqui, sei pescar e aproveitar essa vida tranqüila. Só falta agora ganhar um pouco mais", afirma, divertindo-se com a nova situação.
Na comunidade de Mato Grosso, a professora espera que o Programa de Desenvolvimento Sustentável do Gasoduto Coari-Manaus (PDSG) garanta melhores condições de vida para os habitantes. "Aqui temos energia elétrica por quatro horas, mas isso poderia melhorar. Em Arixi, que é maior, a situação da luz é pior", relata, acrescentando que a questão deveria ser a prioridade a ser atacada com os recursos do programa.

Mato Grosso e Arixi beneficiadas
Casamento: Comunidades de Anamã foram as primeiras a receber ações do programa desenvolvido pela SDS
Vila do Arixi e Mato Grosso são as maiores das seis comunidades anamaenses incluídas no Programa de Desenvolvimento Sustentável do Gasoduto Coari-Manaus (PDSG). As duas receberam em novembro a primeira visita do barco Zona Franca Verde, oportunidade na qual os técnicos do Governo do Estado expediram documentos para quem não possuía, organizaram a papelada para os que já tinham direito a aposentadoria rural e, para marcar o início dos trabalhos do PDSG, organizaram um casamento coletivo para 108 casais vindos das seis comunidades. Foi uma festa e tanto, com a sede do município sendo tomada pelos casais, os convidados e o povo que foi de Manaus dar suporte à festa.
Um dos beneficiários dessa primeira atividade em Vila do Arixi foi o agricultor Damião Nunes Mota, 58, que obteve de uma vez só o certificado de reservista do Exército, identidade e carteira do trabalho. Devidamente documentado, ele espera alcançara tão sonhada aposentadoria em mais dois ou três anos, conforme lhe prometeu o funcionário do barco que lhe atendeu. Se não conseguir a aposentadoria, ao menos uma coisa o programa já fez por Damião, oficializou a união de 37 anos com a companheira Odete Loredo, 52.0 casal, seguindo o padrão das comunidades amazônicas, teve 14 filhos.
Com os documentos do casório nas mãos, os 108 casais agora sonham com a vida melhor proporcionada pelas ações previstas no programa, que vai acompanhar e estimular o desenvolvimento de atividades que gerem emprego e renda para os comunitários que vivem na rota do gasoduto.

Destaque
Além de garantir a união civil dos comunitários e expedir os documentos básicos para quem não tinha, o PDSG pretende agora organizar os habitantes de Mato Grosso e Vila do Arixi em associações comunitárias que poderão explorar melhor as potencialidades locais.

Personagem: Desembagador doTJA: Neuzimar Pinheiro
"Um irmão dele vivia aqui, mas morreu em 2004"
U desembargador do Tribunal de Justiça do Amazonas Neuzimar Pinheiro e o bispo do município de Coari (a 370 quilômetros de Manaus), Dom Gutemberg, são exemplos de pessoas bem sucedidas oriundas da comunidade Mato Grosso. Ninguém sabe dizer se os dois efetivamente nasceram lá, mas garantem que eles viveram na pequena localidade
até a adolescência, quando saíram para estudar e tocar carreiras de sucesso na magistratura amazonense e na hierarquia da igreja Católica. Até fevereiro do ano passado Neuzimar era "figurinha carimbada" em Mato Grosso, pois lá morava um dos irmãos dele, Evanir Pinheiro, que faleceu vítima de ataque cardíaco. "Foi a última vez que o vi por aqui, depois nunca mais voltou", diz o motorista Luiz Chaves, que uma vez levou o desembargador até Mato Grosso em cima da boléia do caminhão dele.
Já Dom Gutemberg saiu muito cedo para estudarem um seminário levado por um padre que atendia na região. Para Mato Grosso só voltou para rezar missas.

Sustentabilidade desejada no Iranduba
Beira-rio: Comunidade de Iranduba é uma das maiores a ser atendida pelo programa do gasoduto
A agricultora Maria Margarida Xavier Fernandes, 45, batalha há três anos para consolidar a Associação Agro-Extrativista do Lago do Limão, no Município de Iranduba (a 25 quilômetros de Manaus). A entidade foi criada para estimular o desenvolvimento sustentável da Vila São José do Lago do Limão, onde vivem aproximadamente 500 famílias que dividem o tempo entre atividades agrícolas e a vida bem próxima da sede do município. "Aqui já temos algumas vantagens, como água encanada, um pequeno posto de saúde, a energia elétrica, que chegou em 1982; e a estrada", diz a agricultora sobre a comunidade, uma das mais desenvolvidas atendida pelo Programa de Desenvolvimento Sustentável do Gasoduto Coari-Manaus (PDSG).
Ela reclama, contudo, que é necessário um projeto para geração de emprego para os moradores, o principal problema social da comunidade. Para amenizara situação, a associação, que reúne 23 famílias, aposta em projetos apresentados para o beneficiamento do açaí, fruta abundante na região. "Se tivermos condições, podemos ganhar mercado pois o escoamento será feito muito rapidamente pela estrada", afirma.
Sem limão
Moradora há 19 anos, Margarida Fernandes conta que a vida na comunidade São José gira em torno do cultivo da mandioca, produção de farinha, plantio de açaí, maracujá e laranja. "Só limão mesmo é que tem pouco", diverte-se, numa referência ao nome do lago em cujas margens nasceu a comunidade há mais de cem anos.
Por conta da falta de emprego, muita gente que mora em São José do Lago do Limão trabalha em Manaus, usando a linha de ônibus que passa quatro vezes por dia na comunidade e a balsa de São Raimundo. Esse é o caso do autônomo Fernando Lima Flores, 48, que passa a semana toda em Manaus e só volta para casa nos fins de semana. "Nasci e me criei aqui no Limão, mas hoje tenho que ficar na ponte rodoviária", conta. Para Fernando, além da geração de emprego, falta para São José do Limão uma boa escola, pois a que existia no local foi derrubada há aproximadamente dois anos e até hoje não foi reformada.
Marido de Margarida, José Moraes Fernandes, 58, acrescenta que uma boa colaboração para o desenvolvimento da comunidade seria dada pelo PDSG se reduzissem a violência na comunidade. "Tinha que equipara delegacia e botar todos os infratores para limparas ruas", aconselha.

Palestina vai ser uma ecovila
Manacapu: Programa ainda está mapeando as,comunidades que serão beneficiadas no município
A Palestina não é exatamente aqui, mas fica próxima. Mais exatamente na área rural do Município de Manacapuru (a 84 quilômetros de Manaus), às margens do imenso lago do Calado. Nessa "terra prometida", que não enfrenta os conflitos sangrentos vividos por aquela do Oriente Médio, os problemas são outros e inquietam 52 famílias que moram no local, assentado bem na rota do gasoduto Coari-Manaus.
Nessa Palestina vive por exemplo o casal Pedro Castro Luz, 61, e Maria de Nazaré Vieira, 54, juntos há 35 anos sem nunca ter tido tempo ou oportunidade de oficializar a união no registro civil. Mesmo sem as "bênçãos" do Estado, Pedro e Maria tiveram 15 filhos e os criaram com a renda advinda das plantações de macaxeira e mandioca e da conseqüente produção de farinha. "Em Manacapuru dá para vender o quilo da macaxeira por R$ 0,50. Já a saca de farinha de 75 quilos chegou a R$ 25,00, mas hoje só conseguimos R$ 15,00", conta.
Escoamento
Pedro conta ainda que as dificuldades para o desenvolvimento da comunidade são grandes, passam pela falta de remédios no pequeno posto médico e a falta de energia elétrica, cujo gerador só fica ligado de 19h às 21 h. "Gostaríamos que colocassem caminhão para o transporte dos nossos produtos, hoje levados para Manacapuru na maioria das vezes em pequenos motores que saem pelo Calado", explica. "Quando vem a seca nós temos que contratar um caminhoneiro e isso reduz o nosso pequeno lucro".
Produção
A vida na Palestina amazonense é dura como um aperto de mão de Pedro Luz. A maioria dos agricultores mora na vila, mas trabalha em terrenos que ficam a quilômetros de distância. Quando conseguem escoar a produção desses terrenos, uma parte ainda espera pelo ônibus que atende a comunidade duas vezes por semana, na terça-feira e na sexta-feira. Nesses dias, os que vão de ônibus e os que escoam a produção por via fluvial se encontram e montam uma pequena feira ao lado do principal mercado do município. Um bom produtor, estima Pedro Luz, chega a produzir 15 sacos de 75 quilos por safra da mandioca. "0 pior é quando chega o tempo da malária, a vida aqui fica ruim pra chuchu", finaliza.
Além da agricultura, a Palestina também tem um grande potencial para a exploração da pesca sustentável. Já é desenvolvido no local um projeto de criação de tambaqui em tanques redes. "Na primeira despesca foram retiradas 12 toneladas, vendidas para uma brande rede de supermercados de Manaus", conta o presidente da comunidade, Severino Neto, 34.
A esperança agora é que o projeto receba incentivos advindos do programa. "Novos recursos e assistência técnica também serão importantes para -que a atividade se consolide", afirma Neto.

Exemplo de exclusão social
Ao contrário da Palestina, onde existe escola, um posto médico, quatro pequenas ruas, uma igreja e várias pequenas mercearias, a comunidade São José do Lago do Calado é uma das mais carentes que estão na rota do gasoduto Coari-Manaus.
0 presidente da comunidade, Afonso Ferreira de Lima, 43, conta que nem campo de futebol existe no local, que abriga 60 famílias em pequenos lotes de 30 metros x 60 metros.
Nesse universo de ausência, a pior situação é a do abastecimento de água, que obriga os moradores a descerem um barranco de mais de 60 metros para chegar na margem do lago Calado. "A subida com lata d'água na cabeça é um sofrimento", atesta lima.
Ainda esperando pela visita dos técnicos do Programa de Desenvolvimento Sustentável do Gasoduto, os comunitários querem que pelo menos um problema seja solucionado: a regularização fundiária, pois vez por outra grileiros chegam ao local se dizendo proprietário das terras e ameaçando os moradores de despejo.

A Crítica, 19/04/2005, Especial, p. E1-E16

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