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4 Xucurus feridos em tiroteio

Jornal do Commercio-Manaus-AM
25 de Jul de 2002

Integrantes de facções rivais da tribo trocaram tiros durante ocupação de fazenda em Pesqueira. Clima de tensão levou o MPF a pedir providências à Funai
A disputa pelo poder entre xucurus no município de Pesqueira, no Agreste do Ipojuca, voltou a amendrontar mais uma vez a população da cidade. Ontem à tarde, duas facções da tribo, Xucuru de Cimbres e Xucuru de Ororubá, envolveram-se num tiroteio durante uma ocupação na Fazenda Pedra D'Água, situada na Vila de Cimbres. Quatro índios ficaram machucados. A Polícia Federal (PF), entretanto, informou que deve haver outros quatro indígenas gravemente feridos. Devido ao clima de tensão no município, o Ministério Público Federal (MPF) encaminhou um ofício à presidência da Fundação Nacional do Índio (Funai), em Brasília, pedindo providências imediatas. Documentos semelhantes foram enviados à Secretaria de Defesa Social (SDS) e à Superintendência da PF na tarde de ontem.
Segundo a Polícia Federal, a briga começou na última segunda-feira, depois que os xucurus de Cimbres invadiram a fazenda Pedra D'Água. Dispostos a tomar as terras ocupadas, o grupo rival entrou armado na área e iniciou a briga. José Vianei Alves da Silva, 26, Sérgio Ricardo Beto da Silva, 27, Wilson Luiz do Nascimento, 19, e Adriano Bezerra Sobrinho, 21, deram entrada no Hospital Lídio Paraíba, em Pesqueira, com ferimentos leves. Foram medicados e tiveram alta no fim da tarde de ontem.
"A situação aqui em Pesqueira está feia. Só uma intervenção do Governo Federal poderá resolver essa briga", confessa Marcos Cotrim, delegado da PF designado a apurar a morte do cacique xucuru Francisco de Assis Santana, o Chico Quelé, assassinado há 11 meses na cidade. A notícia do conflito causou bastante rebuliço na cidade, provocando pânico entre os moradores. Houve quem acreditasse que Pesqueira estivesse vivenciando uma guerra entre tribos.
De acordo com o delegado Cotrim, há informações de que 200 índios dos dois grupos estejam armados. Na diligência realizada ontem à tarde, os policiais não encontraram armamentos na fazenda. "A maioria dos índios homens foi embora, deixando apenas as mulheres e as crianças", relatou.
A PF decidiu abrir inquérito para apurar as causas do conflito. Ontem à tarde, o
superintendente da PF, Wilson Salles Damázio, designou uma equipe de 10 policiais federais do Recife e de Salgueiro para auxiliar as investigações. Uma outra equipe da Polícia Militar (PM) também foi à Pesqueira para acompanhar o caso. "Do jeito que está, não há como resolver. Há uma violenta briga de poder entre os xucurus pelas terras. Já conversamos com os dois grupos, mas não houve jeito", reconhece Damázio.
De acordo com a PF, o conflito envolve cerca de 1.500 índios, sendo 1.000 ligados aos
xucurus de Ororubá e 500 aos xucurus de Cimbres. "Porém, tem gente dos dois lados da tribo
que não é indígena e está querendo se aproveitar da demarcação das terras", denuncia o delegado Marcos Cotrim. Tanto interesse tem uma razão bastante plausível. Ano passado, os xucurus receberam 27 mil hectares, o equivalente a pouco mais da metade do território inteiro de Pesqueira, do Governo por meio de um decreto federal. Até agora, no entanto, as terras ainda não foram desapropriadas.
Além de recolher as armas dos índios, a Polícia Federal pretende expulsar os falsos indígenas que estão infiltrados entre os Cimbres e os Ororubás. "Queremos identificar quem não é xucuru para eliminar de vez dos dois grupos", informa Cotrim. "Também vamos propor que a comunidade Xucuru de Pesqueira se reúna para promover uma nova escolha de caciques", complementa o superintendente da PF, Wilson Salles Damázio. O objetivo, diz ele, é evitar novos conflitos entre os grupos. Os representantes da Funai não foram encontrados para comentar o caso.
A briga entre os índios em Pesqueira teve início em setembro do ano passado, depois que 200 indígenas da tribo Xucuru do Ororubá invadiram a aldeira Xucuru de Cimbres, onde fica o Santuário de Nossa Senhora das Graças, para protestar contra a divisão das tribos e reivindicar mais terras. Na época, os invasores ocuparam a fazenda pertencente à fundação Maria Mãe das Graças.

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