VOLTAR

Ypo i e Buriti - mistério e vergonha nacional. Dialogando com a vida

Adital - http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&lang=PT&cod=43092
Autor: Egon Dionísio Heck
19 de Nov de 2009

- Vem cá. Senta aqui neste banquinho aqui perto da cama. Olha. Não é uma linda semente que nasce para trazer beleza e alegria pra vida? Mas como vou explicar, um dia, para a Cleizilene, que ela nasceu num momento de grande angustia, quando seu pai não mais estava com eles. Como vou explicar pra ela que seu pai foi sumido quando voltou com seu povo para sua terra Ypo'i. Me diga, como vou explicar que chamam isso de progresso ou lei do civilizado?

É assim que Danita, esposa do Rolindo, interpela a vida mesclada de alegria, dor e revolta. Ela abaixa a cabeça, enquanto lagrimas de mistério e silêncio escorrem por sua face.

Ao descrever esse fato, uma amiga da família diz "Danita, esposa de Rolindo, se encontra com 8 dias de resguardo pois teve sua filha nos momentos em que mais sua alma dilacerava sem ter noticias de seu amado, e pelas noticias da morte de seu parente, nesta angustia e cenário de desalento nasceu Cleizilene Vera Duran, para juntar-se ao sofrimento de mais três irmão, Fernando de dois anos, Jessé de quatro anos e Evelina de oito anos a filha, que junto com o pai voltou a terra de seus ancestrais. No entanto por um destino irônico e cruel voltou aos braços de sua mãe na terra indígena Pirajuy, caminhando por longas horas, pois seu pai já não estava para ajudar a retornar. É assim a vida. Quando alguns seres que se dizem humano roubam a alegria, a paz e a felicidade de crianças como estas inocentes e sonhadoras com seu tekoha. até quando teremos que viver com pessoas que agem de forma tão medíocre contra pessoas humildes e verdadeiros donos dessas terras? isso é progresso? isso é ordem? que vergonha ter um pavilhão que estampa ao mundo uma mentira tamanha". (Maria da Silva, 18/11/09)

O diálogo da violência

Enquanto nesta manhã lideranças Guarani-Kaiowá, mantiveram um encontro com o Ministro da Justiça Tarso Genro e o Ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, em Brasília, no Mato Grosso do Sul se perpetrava mais uma vergonhosa e brutal ação de violência contra a comunidade indígena Terena do Buriti.

Em nota o Cimi MS repudia mais essa agressão violenta ao direito constitucional a uma comunidade indígena no estado. "Por volta do meio dia de hoje, dia 19 de novembro, cerca de 30 fazendeiros fortemente armados juntamente com 50 homens da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul invadiram, neste momento, sem nenhuma ordem judicial, a área ocupada por indígenas Terena da Terra Indígena Buriti em Dois Irmãos do Buriti, Mato Grosso do Sul.

A ocupação feita pelos indígenas na Fazenda "Querência São José" havia sido garantida pela Justiça Federal de Campo Grande que julgou extinto o processo de reintegração de posse movida pelo fazendeiro Espólio de Munier Bacha.

A Polícia Federal de Campo Grande confirma não haver nenhuma ordem da Justiça Federal para o despejo dos indígenas, o que configura uma ação ilegal e abusiva por parte dos fazendeiros e da Polícia Estadual de Mato Grosso do Sul.

Os indígenas encontram-se desesperados e querem que a Justiça Federal se pronuncie sobre os responsáveis pela desocupação ilegal.

A terra ocupada pelos indígenas foi identificada como Terra Tradicional do povo Terena em 2001 e reconhecida pelo Tribunal Regional Federal da 3 região.

Essa é mais uma das violências a que vem sendo submetidos os povos indígenas do Mato Grosso do Sul nos últimos dias. O que configura uma opção pela violência, mesmo contra a Justiça e a Constituição, por parte do poder econômico e governo deste Estado.

O Cimi repudia mais essa ação brutal que fere os mais elementares direitos humanos e sociais dos povos indígenas".

No momento a situação continua tensa pois a policia militar mantém o cerco ao local. A intenção dos índios é não abandonar o local que está dentro da terra indígena já delimitada. As conseqüências são imprevisíveis.

Cimi MS
Campo Grande, 19 de novembro de 2009

* Assessor do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) Mato Grosso do Sul

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.