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Yawa: do rio Gregório para o mundo

Página 20-Rio Branco-AC
Autor: Andréa Zílio
11 de Ago de 2004

Documentário mostra a tradição do povo Yawanawa e exibe o festival realizado anualmente pela tribo durante uma semana

Com câmeras filmadoras modernas e pequenas, eles registraram um rico documentário da cultura indígena que será apresentado no Acre no próximo dia 20. Cada cena fascina pelo realismo que apresenta desde o cotidiano, costumes, tradições, histórias até a grande festa que se tornou o festival realizado anualmente, durante uma semana pelo povo Yawanawa. O Yawa como foi intitulado, é um festival de dança, expressão artística, manifestação cultural e espiritual dos Yawanawa.

Com a câmera na mão e uma idéia na cabeça, inspirada pela grande riqueza diante de seus olhos, o índio Joaquim Yawanawa e o canadense Josh Sage transformaram as cenas que fizeram do primeiro ano do Yawa, em um documentário de pouco mais de 50 minutos, que ganhará a atenção de olhares do mundo todo, por meio da distribuição que será feita para os compradores da empresa de cosméticos Aveda Corporation.

No dia 27, o documentário Yawa será apresentado em um festival em São Paulo. Em novembro é a vez dos Estados Unidos conhecer um pouco da cultura desse povo, que em muitas cenas sem saber que estavam sendo filmados, se mostraram ao mundo. Em outras, enfrentam a câmera com olhares serenos, dedicando o pedido de paz que fazem em seus rituais ao mundo.

Uma cultura oprimida

Até 1993, eles foram impedidos de cultivar suas tradições e realizar seus rituais pelos missionários norte americanos, da Missão Novas Tribos do Brazil, segundo Joaquim. O povo Yawanawa, diferente de outros grupos amazônicos que estão espalhados em diferentes localidades, é único vivendo em uma mesma comunidade, em terras indígenas do rio Gregório.

Livres da represália dos brancos, eles decidiram tentar resgatar o que sempre lhes foi de direito: sua cultura, origem e tradição. Há três anos, perceberam que nada havia sido esquecido, apenas ocultado devido o pensamento dos brancos que mandavam no lugar e alegavam que aquilo era coisa do demônio.

Os Yawanawa então decidiram reunir todas as manifestações que faziam ao longo do ano, realizando assim, uma vez por ano, uma semana de dança, expressão artística, manifestação cultural e espiritual. Assim nasceu o Yawa, que inclusive, está acontecendo durante essa semana.

O documentário

O documentário de Joaquim e Josh foi financiado pelo ator americano Joaquim Fonix, que ficou maravilhado com o projeto. Hoje, a empresa de cosméticos Aveda Corporation, que compra urucum dos Yawanawa para usar o seu corante nos cosméticos que fabrica, irá comprar os DVDs do povo indígena, para presentear as empresas que distribui seus produtos.

O documentário é narrado na língua Yawanawa, português, espanhol, alemão, italiano, japonês, inglês e coreano. Logo que iniciam as imagens, um dos pajés da tribo saúda o mundo com uma mensagem positiva. Diz que através de alguns rituais que são exibidos no vídeo, o seu povo está mandando boas energias ao mundo. Pedem pela coisas boas aos espíritos e garante que é um pedido universal.

No decorrer dos minutos, o documentário desvenda alguns segredos do povo Yawanawa, mostrando sua história, as tradições da caça comunitária, a dança da cana que mostra a força dos guerreiros da tribo, lendas, o conhecimento da medicina natural, o respeito a natureza, a harmonia com o mundo, tirando da floresta somente o necessário para viver.

Nas pinturas, o povo Yawanawa conhecido pela sua alegria, expressa a personalidade de cada um. Quem está bem pintado está feliz e protegido pelos espíritos. A produção da caiçuma é exibida desde a retirada da mandioca.

Com total participação de todo o povo, os Yawanawa assistiram as cenas gravadas por Joaquim e Josh e ajudaram a selecionar o que poderia ser mostrado ao mundo, que segundo Joaquim, é o que realmente interessa saber. "É uma lição de como recuperamos e mantemos nossa cultura. Posso estar de calça jeans ou uma camisa sem esquecer quem sou. O povo Yawanawa está mais feliz por resgatar sua história e tradição e queremos mostrar aos outros que isso é possível, mostrando nossa vida ao mundo por meio desse vídeo", comenta.

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