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Yanomamis alertam para volta de garimpo e aumento de malária em terra indígena

FSP, Cotidiano, p. B3
03 de Ago de 2023

Yanomamis alertam para volta de garimpo e aumento de malária em terra indígena
Relatório elaborado por associações analisa seis meses de ação do governo Lula na região

João Gabriel
Brasília
2.ago.2023 às 10h00

Após seis meses da operação do governo Lula (PT) na Terra Indígena Yanomami, associações de lideranças da região afirmam que houve o retorno de garimpeiros e que a fiscalização não conseguiu alcançar algumas áreas. Além disso, apontam aumento de casos de malária.

As conclusões constam de um relatório, publicado nesta quarta-feira (2), com base em relatos de lideranças. O documento foi elaborado pelas associações Hutukara, Wanasseduume Ye'kwana e Urihi.

"No mês de junho, a Hutukara recebeu denúncias sobre a movimentação de garimpeiros nos rios Apiaú e Couto Magalhaes", diz o documento.

No primeiro local, por exemplo, indígenas disseram não ter visto operações contra a exploração ilegal de ouro. No segundo, onde inclusive já houve conflito entre agentes e garimpeiros, a atividade voltou a ser registrada.

Segundo o relatório, a assistência humanitária falhou na logística de distribuição de cestas básicas e, por isso, a situação da desnutrição ainda é grave na região.

Outro ponto abordado na área de saúde é a precarização da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) causada pelo governo de Jair Bolsonaro (PL). De acordo com o documento, esse quadro ainda não foi revertido, o que faz com que doenças como a malária não só persistam, mas avancem na região.
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Em entrevista à Folha em julho, seis meses após ter sido decretado o estado de emergência sanitária na terra indígena, o chefe da Sesai, Weibe Tapeba, disse que ainda falta avançar neste aspecto.

"Temos um cenário melhor do começo do ano para agora, uma diminuição [da malária e da desnutrição], mas é algo gradual e infelizmente ainda não conseguimos contornar a situação, vamos precisar de mais alguns meses."

O relatório das associações indígenas aponta, como também admitiu Tapeba, que a infraestrutura das equipes de saúde na região segue precária, apesar de polos de saúde que haviam sido fechados devido à insegurança já terem sido reabertos.

O documento ressalta ainda que a situação de insegurança, gerada pela violência associada ao garimpo, ainda atrapalha a atuação, e diz ser necessário que se distribua melhor as forças de saúde pelo território yanomami para o atendimento a diversas comunidades, sem necessidade de deslocamento até as bases principais.

São listadas seis áreas classificadas como de maior sensibilidade pelas lideranças: parafuri, xitei, haxiu, homoxi, parima e kayanau.

Em cinco delas, os relatos dão conta de que o garimpo persiste; em todas é dito que as visitas de equipes de saúde às malocas não acontecem ou são raras; em quatro delas os casos de malária persistem; e em seis são citados conflitos na região.

As associações também dizem que o governo demorou para fechar completamente o espaço aéreo sobre a região. Com o avançar da operação de repressão ao garimpo por terra, os aviões se tornaram a forma que os garimpeiros encontraram para manter o fluxo de suprimento ativo para dentro do território.

Ainda, o relatório aponta que a instalação de duas bases de controle nos principais rios do território, Mucajaí e Uraricoera, por mais que tenha surtido efeitos, pode ter causado um efeito colateral.

"Essa concentração corre o risco de produzir o efeito de 'vazamento' para outras calhas, como as dos rios Catrimani, Apiaú e Uraricaá, e, portanto, seria fundamental que fossem pensadas estruturas para o monitoramento e fiscalização dessas zonas", afirmam as associações.

FSP, 03/08/2023, Cotidiano, p. B3

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2023/08/yanomamis-alertam-para-…

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